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terça-feira, 13 de junho de 2017

Morreu Alípio de Freitas

Foi padre português, revolucionário brasileiro, cooperante em Moçambique. Privou com os grandes do mundo em Moscovo e partilhou a sorte dos camponeses no sertão nordestino. Preso, torturado, libertado, voltou a Portugal e foi jornalista da RTP. Morreu hoje, aos 88 anos de idade.

Alípio Cristiano de Freitas nasceu em 1929, em Trás-os-Montes. Ordenado padre em 1952, desde logo quis viver junto das comunidades a quem se dirigia. Instalou-se primeiro junto dos camponeses pobres na Serra de Montesinho.
Foi depois para o Brasil, a convite do arcebispo do Maranhão. Deu aulas na universidade e fundou uma paróquia. Queria ser entendido e recusou dizer missa em latim. Disse-a depois em português, desafiando uma Igreja que ainda tinha por fazer o aggiornamentodo Concílio Vaticano II.
Mas a mensagem nada valia sem a ação: Alípio de Freitas empenhou-se em organizar a criação de uma escola e de um posto médico. Envolveu-se na luta política e apoiou a candidatura de Miguel Arraes ao governo do Estado de Pernambuco, numa ampla coligação de comunistas, trabalhistas e social-democratas. Essa ousadia valeu-lhe um primeiro sequestro por um grupo paramilitar e detenção durante mais de um mês à ordem do Exército.
A detenção não o intimidou, antes acresceu a sua determinação. Naturalizou-se brasileiro e, ao lado de Francisco Julião, tornou-se co-fundador das Ligas Camponesas. Organizou a ocupação de latifúndios no que era um sinal precursor do atual Movimento dos Sem Terra.
O dirigente bloquista Alberto Matos, que militou com Alípio na fase final da vida deste, recordou recentemente a indignação que ecoava ainda na voz do amigo, várias décadas depois, sobre os pistoleiros pagos pela oligarquia terratenente para matarem camponeses pobres, que queriam terra para dar de comer aos filhos.
Depois de ter enterrado vários desses pacíficos ocupantes de terras, Alípio cada vez mais se foi decidindo a organizar a autodefesa do movimento: pistoleiros e mandantes deveriam doravante recear as consequências dos seus crimes. Viria a ser citado anos mais tarde com o apelo: "Trabalhadores, ontem vos ensinei a rezar e hoje aqui estou para ensinar-vos a pegar em armas e lutar".
Com o golpe militar de 1964, o ex-padre partiu para Cuba, onde recebeu instrução de guerrilha. Antes, em 1962, estivera na URSS, para participar no Congresso Mundial da Paz. Aí conheceu o dirigente soviético Nikita Kruchev, o poeta chileno Pablo Neruda e a lendária dirigente espanhola Dolores Ibarruri.
Na clandestinidade, foi dirigente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores. Em maio de 1970 foi capturado e sujeito a intensa tortura. Recusou sempre prestar declarações e apenas deve a vida à ampla campanha de solidariedade internacional de que foi alvo. Nessa campanha se inscreve a canção que lhe dedicou Zeca Afonso, no álbum Com as Minhas Tamanquinhas.


Libertado em 1979, após várias intervenções da diplomacia portuguesa, foi viver para Moçambique, e pôs a sua experiência nas Ligas Camponesas ao serviço da reforma agrária no novo país lusófono. Foi alvo de um atentado dos serviços secretos sul-africanos, que, por engano, vitimou um companheiro da mesma cooperativa onde trabalhava.
Regressou a Portugal ainda na década de 1980, tendo trabalhado na RTP até 1994. Foi co-autor de vários programas (“Fim de Semana”, com Mário Zambujal, Carlos Pinto Coelho e José Nuno Martins, “À procura do socialismo”, com Mário Lindolfo). Foi também eleito para a Comissão de Trabalhadores da RTP. A actual CT fez-se representar ao lado de centenas de pessoas, algumas delas trabalhadores da RTP, numa homenagem a Alípio de Freitas, em janeiro de 2017, recordando esse seu mandato precursor.
Embora tivesse perdido completamente a visão nos últimos anos, Alípio de Freitas continuava a ser uma presença constante, sempre guiado pela sua companheira Guadalupe, em movimentos de solidariedade internacional ou de protesto cívico. Ainda há poucos dias, recém-saído de um internamento hospitalar, interveio de forma marcante numa cerimónia realizada no Museu do Aljube.
O velório de Alípio de Freitas tem lugar hoje, terça-feira, a partir das 18 horas, na Basílica da Estrela. O funeral realiza-se amanhã, quarta-feira, para o cemitério do Alvito, Alentejo, onde viveu uma parte dos seus últimos anos.
Jornal PÚBLICO

José Teodoro Prata

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Padre Leonardo Nunes

Há oito dias, um município brasileiro pediu à Câmara Municipal de Castelo Branco o envio do livro “Abarebebê” Tão rápido como um beija-flor, do nosso conterrâneo José Miguel Teodoro.
Porquê este interesse tão longínquo? Porque o livro é sobre Leonardo Nunes, um dos padres jesuítas pioneiros na missionação do Brasil.

Leonardo Nunes nasce, em S. Vicente da Beira, no seio de uma família de cristãos-novos, antigos judeus convertidos ao Cristianismo. Seu pai é Simão Álvares e sua mãe Isabel Fernandes. Veio ao mundo em data incerta, possivelmente, em 1518.
Já era padre, quando, em 1548, entra para a Companhia de Jesus.
A partir do colégio da Companhia, em Coimbra, percorre o Minho e a Beira, em pregação e vivendo de esmolas, o que muito chocou seus pais, quando o viram a mendigar, na sua terra natal.
Em 1549, parte para o Brasil, incorporado na armada de Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral desta colónia. Integra um grupo de jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega. Os outros são o P.e António Pires de Castelo Branco, o P.e Juan de Azpilcueta de Navarra, o Irmão Diogo Jácome e o Irmão Vicente Rodrigues.
A sua missão é converter os índios e dar assistência religiosa aos portugueses que lá viviam.
Nos anos 1550 a 1554, Leonardo Nunes fica em São Vicente, ajudado pelo Irmão Diogo Jácome. São Vicente era já uma grande colónia portuguesa, desde 1530. Ali funda um colégio e depois aventura-se montanha a dentro, onde tem contacto com os indígenas e enfrenta os caçadores de índios que os queriam escravizar. O filme “A Missão” é um excelente testemunho da realidade que o P.e Leonardo Nunes ali viveu.
No ano de 1553, o P.e Manuel da Nóbrega, o Provincial da Companhia de Jesus, junta-se a Leonardo Nunes, em São Vicente, centralizando ali o trabalho missionário dos jesuítas, no Brasil. Manuel da Nóbrega fixa-se nos campos de Piratininga, numa aldeia, onde funda o Colégio de São Paulo, que deu nome à pequena povoação e hoje enorme cidade de São Paulo.
Nesse ano de 1553, Leonardo Nunes desloca-se à Baía, de onde regressa com o Irmão e futuro Padre José de Anchieta, outra figura cimeira na missionação do Brasil.
No ano seguinte, 1554, o P.e Leonardo Nunes embarca para Lisboa, com destino a Roma. Manuel da Nóbrega encarregara-o de transmitir a (Santo) Inácio de Loiola os sucessos da Companhia de Jesus no Brasil.
Mas o barco naufragou ainda à vista da vila de São Vicente, arrastando consigo o nosso Leonardo Nunes, apenas com 36 anos, os últimos 5 como missionário no Brasil.



Ficha Técnica:
Autor: José Miguel Teodoro
Projecto: Comemorações dos 450 Anos da Morte do Padre Leonardo Nunes
Ilustrações / Gravuras: José Miguel Teodoro e António Cavaco
Fotos: Tó Sabino e Américo André (profesor da EBI)
Concepção gráfica da capa: António Cavaco (actual Director da EBI)
Desenhos: Alunos da EBI de São Vicente da Beira
Composição, impressão e acabamentos: Semedo - Sociedade Tipográfica Lda
Edição: Câmara Municipal de Castelo Branco
Ano: 2004
Número de páginas: 269
À Venda: Estação dos Correios (S. Vicente da Beira), Papelaria Central (C. Branco) e Quiosque Vidal (C. Branco)
Nota: A síntese acima apresentada foi elaborada a partir do Prefácio deste livro