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quarta-feira, 13 de maio de 2009

As Invasões Francesas

A partir de hoje e até ao final do ano, mensalmente, daremos notícia dos carreiros (ganhões que transportavam de mercadorias nos carros de bois) da freguesia de S. Vicente da Beira, que prestaram serviços aos exércitos português e inglês, na Guerra Peninsular (1807-1812), conhecida por Invasões Francesas.
Na época, a esta requisição dos carreiros, para trabalharem obrigatoriamente e pelo tempo necessário, chamavam embargos.
Os dias indicados não incluem o tempo gasto a chegar ao local do início do serviço, nem o do regresso a casa. Com muito raras excepções, estes trabalhos não foram pagos.
Muitas vezes, o lavrador mandou o seu ganhão, mas indicou-se o nome do patrão.
Abundam os serviços em 1812, ano em que os exércitos português e inglês empurraram o exército francês para fora do território nacional, através da conquista das fortalezas que guardavam Portugal e Espanha, de cada lado da fronteira: Almeida-Cidade Rodrigo e Elvas-Badajoz. Os nossos ganhões foram fundamentais, no fornecimento das tropas, para esse último esforço de guerra.



Gravura da época das Invasões Francesas, representando os carreiros que transportavam as mercadorias dos exércitos. Clicar, para ver em pormenor.

S. Vicente da Beira
Em Abril e Maio de 1810, Pedro, ganhão de Berardo Joze Leal, feitor de Gonçallo Caldeira (pai do 1.º visconde da Borralha), andou 15 dias a transportar milho de Abrantes para a Guarda.
Em Abril e Maio de 1812, o mesmo ganhão andou a transportar palha de S. Vicente da Beira para Alpedrinha.

Em Maio de 1812, Francisco António Simoens transportou bolacha, durante 13 dias.
Francisco António Simoens era o escrivão da Câmara Municipal.

Em Maio de 1812, Francisco Ferreira, morador na Rua Velha, andou 29 dias, entre Abrantes e Nisa, a dar serventia às tropas. Este lavrador foi a pessoa do antigo concelho de S. Vicente da Beira que mais tempo trouxe a sua junta de bois a trabalhar para os exércitos português e inglês, durante toda a guerra. Foram 95 dias, no total.

Em Abril de 1812, Francisco Santo e Joaõ Bernardo, cada um com a sua vaca a puxar um carro, durante 12 dias, levaram arroz de Abrantes para Nisa e, em Vila Velha, carregaram bolacha e arroz, para Castelo Branco.

Em Maio de 1812, o ganhão de Ignes, viúva de Domingos Vas Rapozo, andou a fazer transportes em Abrantes, durante 24 dias.

Em Maio de 1812, Joaõ Roiz Lourenço Caio, natural da Torre, mas casado com a filha do foreiro (rendeiro) do Casal do Monte do Surdo, onde residia, prestou os seguintes serviços, durante 30 dias: ajudou a puxar o trem do Hospital Real entre Abrantes e Nisa, acarretou víveres em Abrantes e levou pólvora e bala de Abrantes para Elvas.
Joaõ Roiz Lourenço Caio era o capitão das ordenanças, a força militar local, e descendem dele as pessoas da família Caio, em S. Vicente da Beira.

Na próxima semana, apresentaremos os serviços dos ganhões das terras anexas desta freguesia.

Para saber mais, consultar: "O Concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular", de José Teodoro Prata, publicado pela Associação dos Amigos do Agrupamento de Escolas de São Vicente da Beira, em 2006.