Mostrando postagens com marcador enxerga. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador enxerga. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Mudar a palha da cama

As paredes interiores eram de taipa, feitas à maneira das culturas milenares. Erguia-se uma estrutura em madeira, com ripinhas finas de um lado e do outro. Depois metiam-se no meio ramos de carqueija e enchiam-se os espaços vazios com barro amassado com palha cortada curta. E as faces das paredes também se revestiam do mesmo barro, em jeito de reboco. Trabalho mais apurado na sala, mas grosseiro nos quartos, onde não entravam estranhos.
Os leitos da camas eram de madeira e mais tarde de ferro. Neles, apareciam percevejos, quando o tempo dava em aquecer. E era um fartar, uma engorda sazonal com o sangue dos inocentes que ali vinham descansar dos trabalhos ou das brincadeiras.
O remédio era catá-los. Levantávamos as enxergas e procurávamos nas junções dos leitos. Esborrachavam-se e ficava um rasto de sangue daquelas barrigas gordas.
Era no pico do Verão que se fazia a limpeza geral aos quartos. Tirávamos as enxergas e todas as tralhas. Caiavam-se as paredes e dava-se uma esfregadela no chão, com escova, sabão e água. Ficava como novo, desinfectado e cheiroso.
Os leitos, na rua, lavavam-se bem e, se fossem de ferro, dava-se-lhes uma pintadela. Ficavam mais bonitos e livres da bicharada. Também as enxergas se renovavam, pois estava-se no tempo de lhes mudar a palha.
Era de centeio, que se semeava todos os anos, para o pão e para os nagalhos e as enxergas. A palha de trigo não prestava, partia facilmente e no Inverno já não haveria cama em condições.
Esvaziávamos as enxergas da palha velha, já toda moída dos corpos e estragada por algumas mijateiras invernais, naquela em que dormiam dos mais pequenos. Lavava-se o pano, punha-se a corar, voltava a lavar-se e secava ao sol.
Ao fim da tarde, enchíamos novamente as enxergas com palha. Às mãos cheias, era metida dentro do saco da enxerga, pelo buraco aberto ao centro. A palha ficava toda direita, sem nenhuma ao atravessar, e nos cantos compunha-se com a forquilha. Era de madeira, com cerca de 1 metro de comprimento, ligeiramente mais estreita num lado e larga no outro, que terminava num corte em forma de V, para levar a palha aos sítios mais difíceis.
Já cheia, a enxerga ficava enorme. Cosia-se a abertura e era levada para o quarto, onde o leito a aguardava. Punha-se-lhe em cima e fazíamos a cama, com os lençóis e as mantas.
Era difícil trepar lá para o alto e aquele que ficava na borda da porta adormecia receoso de rebolar para o chão a meio do sono. Bem estava o que ficava no meio ou o do lado da parede.
Nos primeiros tempos, era desagradável, fosse do calor ou da palha rija. Mas depois amaciava, a palha e o tempo, e já só queríamos meter-nos debaixo das mantas, no quentinho.