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sábado, 25 de março de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

José Joaquim dos Santos 

José Joaquim dos Santos nasceu no Ninho do Açor, no dia 1 de outubro de 1893. Era o filho mais velho de Joaquim dos Santos e de Rosa Maria. Terá sido nessa localidade que viveu toda a sua infância e juventude.

Assentou praça em 8 de julho de 1913, como recrutado, pertencendo ao contingente de 1913, a cargo do distrito de Castelo Branco. Presente no Regimento de Infantaria 21, foi incorporado no 2.º batalhão em 12 de janeiro de 1914.

Ficou pronto da recruta em 30 de abril 1914 e regressou ao Ninho do Açor.

Tomou parte na Escola de Recruta. Presente em 16 de setembro de 1915, foi licenciado novamente em 2 do mesmo mês.

Em 5 de maio de 1916 voltou a apresentar-se, para marchar a caminho de Tancos, onde recebeu alguma instrução militar antes de partir para França. Embarcou a 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia(?) do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era o soldado n.º 69, com placa de identidade n.º 9866 do C.E.P.

Terá seguido no primeiro comboio de navios de transporte para França, saído do cais de Alcântara, que terá iniciado a viagem apenas a 23. Todavia, outras fontes indicam que foi somente a 30 de janeiro de 1917 que zarparam do Tejo três vapores britânicos levando a bordo a 1.ª Brigada do CEP, comandada pelo general Gomes da Costa. Estes navios chegaram ao porto de Brest três dias depois. Em 8 de fevereiro chegaram à Flandres francesa e em 4 de abril de 1917 as primeiras tropas portuguesas ficaram entrincheiradas.

No seu boletim individual do CEP constam as seguintes informações:

a)   Punido com 10 guardas, em 16 de fevereiro de 1917, por ter comparecido com meia hora de atraso à chamada para o café e ração fria;

b)   Baixa ao Hospital em 23 de abril; alta a 28 do mesmo mês;

c)    Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de 1918, onde ficou com o número 616 porque, «encontrando-se com prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente do inimigo insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando de matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores»;

d)   Diligência do Depósito Disciplinar 1 para o Tribunal de Guerra de Base, em 22 de fevereiro de 1919, ficando à disposição do mesmo tribunal;

e)   Condenado na pena de 7 anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo de deportação militar.

f)      Foi repatriado com o Serviço de Adidos, a 5 de junho de 1919. Desembarcou em Lisboa a 9 junho de 1919, e passou ao presídio militar de Santarém, em 25 de julho, a fim de cumprir a pena que lhe foi aplicada. Foi amnistiado pela Lei 1198 de 2 setembro de 1921 e libertado.

Durante o tempo que passou na prisão terá aprendido a ler e escrever, uma vez que na sua folha de matrícula militar consta a informação de que era analfabeto. Terá também aprendido a profissão de alfaiate, embora, de acordo com os registos, demonstrasse pouca aptidão para o ofício.

Licenciado em 11 de janeiro de 1922, voltou para o Ninho do Açôr. Passou ao Regimento de Infantaria de Reserva 21, em 31 de dezembro de 1923, e à reserva ativa, em abril de 1928. Passou às tropas territoriais e ao Distrito de Recrutamento e Reserva 21, em 31 de dezembro de 1934, e ao Distrito de Recrutamento e Mobilização, a 15 em 30/11/1939, nos termos das instruções para a execução do decreto n.º 29957 de 24/10/1939. Teve baixa de todo o serviço militar, em 31/12/1942, por ter terminado a obrigação de serviço.
Condecorações:

·        Medalha militar de cobre comemorativa com a legenda: França 1917 1918" (segundo o neto Hugo Martins, José Joaquim nunca terá visto ou ouvido falar nesta medalha).






Família:

De regresso ao Ninho do Açor, José Joaquim dos Santos casou com Carmina de Jesus Martins, natural do Tripeiro, no dia 19 de fevereiro de 1922. Foi ali que o casal ficou a viver, e lá nasceram os três filhos que tiveram:

1.    António Martins dos Santos, que casou com Maria Joaquina Martins dos Santos e tiveram 2 filhos;

2.    Isabel Martins da Conceição, que casou com Artur Afonso e tiveram 2 filhos;

3.    Aurora de Jesus Martins, que casou com José Joaquim Varanda e tiveram 2 filhos.

Carmina de Jesus veio a falecer com tuberculose pulmonar, no dia 6 de maio de 1939, e José Joaquim dos Santos voltou a casar com Maria Joana Lourenço, em 15 de novembro do mesmo ano. Deste casamento nasceu uma filha: Maria de Deus Faustino, que casou com Adelino de Jesus Faustino e tiveram 4 filhos.

Maria Joana Lourenço faleceu de parto, em outubro de 1940, e José Joaquim continuou a viver no Tripeiro, onde foi sempre muito respeitado por todos.

«Passou a vida a trabalhar no campo e vivia do que a terra lhe dava. Também foi ganhão e quando havia menos trabalho no campo acarretava lenha para os fornos da telha, no Freixial do Campo.

Sempre foi muito temente a Deus e quando falava no tempo em que tinha andado na guerra, não se cansava de dizer que, se estava vivo, o devia à proteção da Nossa Senhora, porque às vezes as balas eram tantas a passar-lhe rentinhas ao capacete que só mesmo um milagre é que o tinha salvado.

E foi mesmo um milagre porque, apesar de tudo o que por lá passou, não trouxe moléstia nenhuma, como tantos outros companheiros que lá andaram com ele, que vieram cheios de doenças, fora os que por lá ficaram.

Nunca recebeu nenhuma pensão pelo tempo que passou na Guerra porque diziam que, como tinha terras, não precisava.» (testemunho da filha Maria de deus)

José Joaquim faleceu no dia 8 de julho de 1970. Tinha 77 anos. Está sepultado no cemitério de São Vicente da Beira.

(Pesquisa feita com a a colaboração da filha Maria de Deus Faustino e do bisneto Hugo A. dos Santos Gomes Martins)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra