quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Casal da Serra: o Cavaco

Quem atravessa o Casal da Serra e continua a subir pela Gardunha, vai encontrando ao longo do caminho muitas casas espalhadas pela encosta. Depois do incêndio ficaram mais visíveis, mas, mesmo assim, feitas da pedra da Serra, confundem-se com a paisagem. Algumas estão dispersas e isoladas; outras formam pequenos casais onde viveram várias famílias ou gerações da mesma família.


Um desses casais é o Cavaco. São meia dúzia de casas, atualmente todas desabitadas, mas dizem que já houve tempos em que os que lá moravam eram mais que os que agora vivem no Casal da Serra. Eram quase todos da família Serra e dos Jacintos; tiveram muitos filhos que agora andam espalhados por esse mundo fora.
Quem lá morava, era quase auto-suficiente. Produziam de tudo para casa, nas hortas e lameiros que por lá abundam; e havia água com fartura para as regas.



Também havia muitos castanheiros. Produziam bem, e as castanhas, frescas ou piladas, ajudavam a encher a barriga ao longo de quase todo o ano.


As casas tinham dois pisos: por baixo guardava-se o gado, cabras e vacas, e por cima viviam os donos. Na eira, mesmo em frente, secavam-se e malhavam-se os cereais.


Os porcos viviam nas furdas, mesmo ao lado das casas; e as galinhas andavam na rua, a comer o que apanhavam, que lá nisso não são esquisitas…


Mas, à noite, eram fechadas. Aproveitavam-se os vãos das escadas e dos balcões para as proteger dos lobos e das raposas, que havia muitos, naquele tempo.

Vidas simples, mas trabalhosas, das quais só se saía aos domingos, para ir à missa.
Não me parece que o Francisco Sarmento [rever publicação Incêndios: um outro olhar] queira recuar tanto quando diz que temos que mudar o nosso modo de vida se queremos salvar o planeta, mas alguma coisa tem que ser feita. Também fico escandalizada que nos supermercados portugueses haja tanta carne, fruta e legumes que dão quase a volta ao mundo para cá chegar. Penso que não é assim tão difícil combater estas práticas: basta não comprarmos esses produtos e escolher o que é nacional. O problema é que somos quase todos muito pobres para podermos fazer essas opções. Pobres na carteira e no espírito, e por isso também ainda deitamos o lixo para o chão…

M. L. Ferreira

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Roque Lino, uma vida


Foto dos fundadores do Partido Socialista.
O Roque Lino é o terceiro, em cima, a contar da esquerda.


Assinaturas dos fundadores do Partido Socialista.
Fonte das duas imagens: Ditadura e Revolução, Maria João Avillez.


O Roque Lino, em São Vicente da Beira, a colar um cartaz do Partido Socialista, na Rua do Beco, junto à Praça, a 8 de setembro de 1985, uma semana antes das Festas de Verão (que nessa época ainda eram no 3.º fim de semana de setembro).


Festas dos Josés, a 19 de março de 1983, em São Vicente da Beira.
O Roque Lino pega no andor de São José, na frente, à esquerda.

José Manuel dos Santos

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Homenagem

Homenagem a quem partiu

É bela a memória que sobrevive
A alguns escombros do passado
Quando ela ressuscita quem vive
Do injusto esquecimento libertado.

São tantas as memórias de outrora
Que resistiram à erosão da idade
Que quero recordar hoje e agora
Os que me moldaram de saudade.

Acordaram-me a lembrança dos amigos
Que construíram a minha liberdade
Em tempos idos e já antigos.

Que este tempo novo que vivemos
Quase ignora a luta e a fraternidade
De quem já partiu e que perdemos.

(Roque Lino, Retrato Intemporal)

Nota: Faço minhas as palavras do José Barroso, em comentário da anterior publicação: São Vicente acaba de perder um amigo, um dos seus filhos que não resistiu ao chamamento da mãe-gardunha e escolheu passar connosco parte dos dias dos seus últimos anos.

José Teodoro Prata

sábado, 18 de novembro de 2017

Roque Lino, 1938-2017

 
Foto dos fundadores do Partido Socialista, em 1973, na Alemanha. 
O Roque Lino está imediatamente à direita de Maria Barroso.

Partido colocou a sua bandeira a meia haste e expressou "profundo pesar pela morte do seu fundador e militante 32"
O PS decidiu colocar esta quinta-feira a sua bandeira a meia haste pela morte de um dos seus fundadores, Roque Lino, de 79 anos, antigo secretário de Estado para a Comunicação Social no segundo Governo de Mário Soares.
Em comunicado, a direção do PS expressou "profundo pesar pela morte do seu fundador e militante 32, José Maria Roque Lino", antigo deputado, advogado de profissão e destacado opositor ao regime do Estado Novo.
Como forma de honrar a memória de Roque Lino, a direção do PS "deu instruções para a colocação bandeira do PS a meia haste nas suas sedes".
"Participante na reunião fundadora do partido, em 1973, na Alemanha, Roque Lino constituiu-se ao longo da sua vida numa referência do PS, tendo evidenciado sempre no exercício das mais diversas funções o seu apego aos valores do socialismo democrático e do humanismo", salienta-se no comunicado.
A morte de Roque Lino, para a direção deste partido, constitui "uma perda para o PS, para os socialistas e para todos os democratas".
"Neste momento de perda, partilhamos com todos os camaradas a nossa mais sentida dor, transmitindo à sua família a solidariedade do Partido e dos socialistas portugueses. A vida de José Maria Roque Lino constitui mais um poderoso testemunho do contributo dos socialistas para a construção do Portugal democrático e de uma sociedade mais justa", acrescenta-se no mesmo comunicado.
Diário de Notícias 

Jaime da Gama

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Véspera do São Martinho

No tempo dos meus Avós e Pais era tradição na véspera de São Martinho ir tocar chocalhos à porta dos Senhores mais abastados da Vila, para que eles dessem um copo do seu vinho novo.
Poucos eram os que acediam ao toque dos chocalhos e aos pedidos dos Vicentinos mais novos, que não tinham outras opções senão ir saciar a sede à Fonte Velha ou, se tivessem alguns tostões no bolso, irem beber o copo de vinho a uma das tabernas existentes na Vila.

Anos mais tarde…
Eu, criança e jovem e os meus Pais, mantínhamos a tradição de ir tocar os chocalhos.
À noite depois do jantar, íamos tocar o chocalho à porta dos familiares mais próximos.
Éramos recebidos com enorme alegria e convidados a entrar para provarmos o vinho novo acabadinho de sair do pipo, a doce jeropiga, as castanhas cozidas ou assadas, as passas de figo, o pão e os bolos caseiros, o queijo fresco e a chouriça assada na brasa.
O serão era passado à lareira, contando histórias de outros tempos e “viveres” do dia-a-dia.
Aos poucos o sono ia chegando e era enorme o meu esforço para manter os olhos abertos e regressar a casa pelo meu próprio pé.
Regressávamos já noite alta, com o ar fresco da Gardunha a tocar-nos o rosto e a promessa: o próximo serão familiar seria nas Janeiras.
E voltávamos e visitávamo-nos, sempre.
Mas os anos passaram e a vida com as suas leis mais duras e os seus percursos mais dolorosos fez com que partissem os familiares de tantos momentos felizes.

Hoje é véspera de São Martinho e não sei se algum Vicentino mantém a tradição de ir tocar os chocalhos.
Por mim, estou em silêncio no meu cantinho e volto atrás no tempo…
Guardo em mim o som do toque do meu chocalho e no coração as memórias e as saudades do tempo que não volta atrás.
Tempo de criança, tempo de alegria, de convívio e de partilha.
Tempo…
Tempo que foi e é meu.


Luzita
10/Novembro/2012

terça-feira, 14 de novembro de 2017

PR 10

Éramos 25, um quarteirão. Uma boa conta, à maneira antiga. Mais seríamos, mas a missa acabara meia hora antes e não se articularam as coisas. No final, as castanhas e a jeropiga do São Martinho!
O percurso, em volta da barragem, está marcado entre o Alto da Fábrica e o paredão da Barragem do Pisco, seguindo a margem esquerda. Mas falta a manutenção e sobretudo concluir o percurso, que não está homologado, mas será  o PR 10, segundo me informaram.
É uma boa hipótese de percurso, circular, fácil, curto/médio (cerca de 6 quilómetros, a olho) com partida e chegada à Praça, pelas duas margens da barragem e da ribeira, até à Fonte da Pipa.
O único senão, e é mesmo o único, pois trata-se de um percurso muito bom, é a estrada de alcatrão até ao Alto da Fábrica. O António Craveiro, que conhece tudo e já terá palmilhado cada metro num raio de 5 quilómetros em torno de São Vicente, disse-me que antigamente passava-se do fundo do ribeiro da Oriana para o Casal do Pisco. Isso sim, seria ouro sobre azul: por um lado, pelo caminho da Oriana, pelo outro, pelo Pelome.
Há floresta, água, fauna abundante e muito variada, terrenos agrícolas, residências e até turismo de habitação (Lugar do Ainda). Sendo circular, dá para começar e terminar na nossa Praça, do Paredão da Barragem do Pisco ou do Lugar do Ainda.
Notas:
1. A garça-real desta vez não se deixou ver, mas a Libânia confirmou que as há até na charca do Casal Pousão!
2. As margens da barragem têm muito lixo, ali deixado por quem a visita. Precisam de ser limpas e que se coloquem letreiros e caixotes do lixo na zona do paredão.






José Teodoro Prata