Em fevereiro, deverá chocar e nascerão pintos novos, de umas galinhas castanhas escuras muito boas que não se vêm na imagem. Darei notícia!
José Teodoro Prata
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
Em fevereiro, deverá chocar e nascerão pintos novos, de umas galinhas castanhas escuras muito boas que não se vêm na imagem. Darei notícia!
José Teodoro Prata
Um ciclone, em 2019, destruiu 90% da cidade moçambicana da Beira e matou centenas de pessoas
Hoje o blogue Dos
Enxidros completa 16 anos, cheio de dúvidas e incertezas, como é próprio desta
idade. Nasceu no dia 1 de janeiro de 2009, data adequada para, tal como hoje,
fazer votos para o ano que agora começa. Estes são os meus, necessariamente diferentes
de cada um dos amigos deste blogue.
1. Há
cerca de 20 anos, acompanhei os meus alunos a uma visita de estudo à lixeira de
Castelo Branco, organizada pelos professores de Ciências. No final, um dos técnicos
que nos guiou apelou aos alunos para que separassem o lixo, pois quando esta
lixeira estivesse cheia já não haveria dinheiro da União Europeia para fazer
outra e seríamos nós todos a pagá-la, com impostos elevados.
Recordei
este episódio porque li esta semana a notícia do aumento do preço da tonelada
do lixo, pago pela Câmara Municipal, de 52 para 86 euros, perspetivando-se que
o preço suba brevemente até aos 200 euros.
Não
sei se os alunos que ouviram aquele apelo separam atualmente o lixo, mas sei
que Portugal é um dos países europeus que menos lixo recicla (apenas 12%, há
uns tempos). Neste caso, vigora o mesmo laxismo que se verifica na questão dos
telemóveis nas escolas: cada um faz o que quer, sem olhar às consequências dos
seus atos.
Em
resumo, apelo a um maior civismo, para garantirmos uma vida agradável na Terra,
sem o sofrimento causado pelas catástrofes naturais que serão cada vez mais
frequentes e atingem sobretudo os mais pobres e os que estão à margem dos
poderes.
2. Mais
produtos que dão vida e menos produtos que causam sofrimento e morte. O último
passatempo dos políticos europeus é o aumento dos orçamentos para a defesa, tanto
ou mais do que se gasta com a educação ou com a saúde das pessoas. A guerra
tornou-se um negócio lucrativo, há que investir na produção de armas e
munições. E há os outros negócios, de muitos e milhões e biliões, os tais que
originaram e justificam a guerra entre a Nato e a Rússia, na Ucrânia, e a
continuação do genocídio dos palestinianos na Palestina (que já dura desde o
fim da I Guerra Mundial, há mais de 100 anos). Em 1918, os palestinianos eram
90% da população dos territórios que agora formam Israel e a Palestina; agora,
quantos restam?; e em que parcela desses territórios eles estão seguros? Tudo
com a bênção do Ocidente, Portugal concluído.
Para
a Ucrânia, desejo que ucranianos e russos se harmonizem, eles que têm tão frágeis
tradições democráticas e de respeito pelos direitos humanos. E que o Ocidente
os deixe em paz e às suas riquezas.
Para
Israel e Palestina, faço votos para que acabem os ódios de parte a parte e se
ponha fim ao sistema de apartheid
em Israel, para que israelitas, palestinianos e outros povos e religiões que lá
existem vivam amistosamente. E novamente que o Ocidente os deixe em paz e às
suas riquezas (o petróleo do Médio Oriente).
José Teodoro Prata
O MEU PRIMEIRO NATAL NO BRASIL
Maria de Lourdes Hortas
Foi em Olinda. Chegamos a Pernambuco em outubro de 1950.
Ficamos na casa de um amigo do meu pai, no Bairro Novo. E lá passamos o
primeiro natal brasileiro. O calor não me permitia acreditar que o aniversário
de Jesus pudesse acontecer sem neve, sem filhoses, sem madeiro ardendo na
praça, sem a minha avó e o meu avô, sem o cheiro de resina no pinheiro na
árvore, sem o musgo apanhado na ribeira, para o presépio.
Tudo era absurdamente estranho e melancólico para o meu
coraçãozinho de imigrante de apenas 10 anos.
Dias antes, uma das meninas da casa me revelou que o Pai
Natal (Papai Noel, no Brasil, até isso era diferente) não existia...
Me lembro bem. Passeávamos na praia, as ondas revoltas do mar
subiram, carregadas de sal, e apagaram a ilusão, como uma rajada de vento apaga
uma candeia. Em silêncio engoli algumas lágrimas ...
- Não existe?!...
E o Menino Jesus? Lá, em São Vicente, era Ele que vinha,
descendo pela chaminé. Na fria madrugada do dia 25 podia jurar que ouvia seus
passos de pluma e que na manhã seguinte os via impressos na neve...
Categórica, a menina concluiu:
-Também não...
Houve peru e abacaxi naquela ceia de Natal. A prenda, deixada
no meu sapato, foi um vestido de xadrez, em tafetá. Era lindo. Cheirava a
alfazema, ao mesmo perfume das meninas anfitriãs.
Lembrei de um outro vestido, prenda de outro Natal. Era de lã
cor de rosa. E minha mãe me disse, muito contrita, que tinha sido tricotado por
Nossa Senhora, nos serões do Céu.
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Agora, minha Mãe e Nossa Senhora talvez estejam tecendo outro
vestido, para mim: com ele espero me apresentar, à grande Ceia do Senhor.
(Do livro de inédito de memórias AS CASAS DO DESTINO.)
José Teodoro Prata
1. Foto de João Engenheiro (completa uma das publicações anteriores):
Desculpem, mas não resisti, assaltei de novo o facebook. Mas foi por uma boa causa!
José Teodoro Prata
Porque é de novo Natal…
Conto de Natal de Francisco Candeias em São Vicente da Beira
Calcorreava a rua da Costa abaixo numa felicidade que
descontrolava o andar, fazendo alternar o passo, ora apressado, ora quase em
corrida.
Havia naquele dia alguma coisa que o mobilizava e que lhe
dava uma cor mais luminosa ao rosto, ausente em outros dias. Passou à porta do
Zé Ar, ar esse que ainda cheirava ao pão fresco!
A agitação era tanta que nem deu conta que a Menina Maria do
Céu estava à janela aguardando a salvação de um bom dia!
O vento, suave e frio, trazia com ele os aromas do inverno de
lenha queimada e que se misturava com o cheiro a cedro que vinha da Quinta.
Passou a Fonte Velha e entrou na Loja do Joaquim Boas Noites,
que àquela hora já estava cheia de gente. Eram as compras de última hora, logo
à noite não podia faltar nada!
- Vê lá o que o que é que o filho da Hermínia quer, disse
alguém na sua vez de ser atendida.
Tirou o papel bem dobrado da algibeira, e mostrou o recado:
dois quilos de açúcar, duas garrafas de óleo e farinha.
Transação feita sem dinheiro.
- A mãe depois vem pagar! Assim disse, como lhe transmitiram.
Passou pela praça só para comprovar que a fogueira ainda lá
estava. Madeiros colocados em pilha e depois escondidos por rama de pinheiros.
A fogueira seria a anfitriã da noite, recebendo as gentes procurando o calor
numa noite que é sempre fria.
Em casa, a sua avó vestida de preto, lenço na cabeça e já
emborralhada de farinha juntava os ingredientes recém trazidos para a iguaria
mais famosa do Natal: as filhoses.
O pinheiro já tinha ocupado o seu lugar uns dias antes,
enfeitado com fitas de cores colocadas de forma generosa.
O presépio, como sempre, presente: cama de musgo pulverizado
de pequenas imagens de barro, o moinho era acolhido numa montanha feita de
pedras e os Reis Magos ficavam sempre longe da Sagrada Família (porque ainda
teriam quinze dias de caminhada), os pastores tinham um ar feliz e a lavadeira
tinha um lago feito de prata de maço de tabaco Português Suave, os caminhos
foram feitos de farinha e uns pedaços de algodão os flocos de neve, porque era
importante dar realismo ao cenário natalício.
Dia importante, não se comia na cozinha. Mesa grande aberta
na sala, a melhor toalha, pratos e talheres.
A comida era abundante nessa noite. Bacalhau, peru, couves
cozidas, arroz doce, fatias douradas e tantas outras coisas.
O jantar de Natal decorria ao som da televisão a preto e
branco que transmitia a mensagem de Natal do Cardeal Patriarca.
Todos à volta da mesa partilhando o momento e sem dar conta
que aquela seria a mesa mais composta de sempre.
- A que horas vamos para a fogueira? Perguntou.
- Um pouco antes da missa, para ver acender a fogueira!
Responderam.
Descia a rua e já se conseguia ver o fumo.
De repente o pai diz:
- Esperem! Tenho que voltar a casa, esqueci-me da carteira.
A fogueira já estava acesa. As gentes da terra e as suas
famílias que tinham vindo passar o Natal espalhavam-se pela Praça Velha e junto
à fogueira, que estava a cargo dos mancebos da inspeção militar. Eles garantiam
que a fogueira não perdesse vida e que orgulho tinham quando alguém dizia:
- Já há muitos anos que não via uma fogueira tão grande!
A igreja cheia de gente, o presépio num dos lados do altar e
o Coro do outro, onde a Menina Maria de Jesus e a Nelita garantiam os últimos
ajustes. Tudo teria que correr bem, foram feitos dois ensaios durante a semana.
O Padre inicia a liturgia. O sermão é sobre o nascimento do Menino e o que Ele
contribuiu na caminhada cristã. Os cânticos criam um ambiente de festa, mas há
um que todos cantam enchendo a igreja de alegria: “Alegrem-se os céus e a
terra, cantemos com alegria, que já nasceu o deus menino, filho da Virgem
Maria"...
A celebração termina com o “beijar do Menino” e cá fora os
adultos ficavam por ali em conversa com as famílias ou juntavam-se com os que
não viam há muito tempo. As crianças estavam sempre ansiosas de ir para casa
para abrir os presentes.
Ao chegar a casa os presentes estão todos junto à chaminé.
Roupa e algum brinquedo. Ficou feliz, mas nada era o que imaginaria ter tido! A
sua imaginação esperaria sempre algo mais mágico.
- Para o ano tens que te portar melhor!
Ficou triste! Afinal havia meninos melhores que ele e por
isso ficaram com as melhores prendas.
Só algum tempo depois terá dado conta que o Pai Natal era o
pai que se esquecera da carteira. Mas todos os anos continua a desejar que a
magia dessa noite seja eterna.
Dizem que o seu espírito de criança surge todos os natais e a
dizer que fez tudo para se portar bem!
Que a magia desta quadra vos inspire e encha o coração!
Feliz Natal
Depois de 15 anos a fotografar a Serra da Gardunha, depois de passar junto a ela dezenas ou centenas de vezes, hoje num passeio à GeoMorfologia da Gardunha, organizado pelos Caminheiros da Gardunha , para comemorar os 10 anos do lançamento do livro, deparo-me com esta figura, que de tanto esperar por mim, adormeceu que nem uma pedra.
Foto e texto do Tó Sabino, publicados no facebook.
José Teodoro Prata