quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

João Pereira de Carvalho

Quem foi João Pereira de Carvalho, uma das quatro pessoas que arrematou a compra das pedras do extinto convento franciscano?
Já encontrara o seu nome, na listagem dos notários de São Vicente da Beira do Arquivo Distrital de Castelo Branco. Há muita documentação por si redigida, relativa a testamentos e contratos de compra e venda dos anos de 1842, 1845, 1848, 1849, 1856, 1858, 1859, 1862, 1864, 1866, 1868, 1869, 1871, 1874 e 1876.
Não existem documentos de muitos anos entre 1842 e 1876, mas isso não significa que tenha interrompido a sua função de notário, pois os documentos podem ter-se perdido ou encontrar-se na posse de particulares.
Este João Pereira de Carvalho era natural das Sarzedas, filho de Luis Marques Pereira e Quitéria Rosa de Carvalho. Casou, em S. Vicente da Beira, no dia 11 de Outubro de 1843, com Ana Augusta Ribeiro Robles, filha de Bernardo António Robles e de Antónia Raimundo Ribeiro.
(Arquivo Distrital de Castelo Branco, Registos paroquiais de S. Vicente da Beira, "Assento dos Casados", maço 96, livro 1803-1859, fólio 122)
O matrimónio ocorreu 1 ano e 10 meses depois de vir trabalhar, como notário, para São Vicente, pelo que talvez tenha conhecido a sua futura esposa já depois de residir nesta vila.
O casal teve José Augusto Pereira de Carvalho, pai de Virgínia Maria da Conceição Pereira. Esta casou com José Maria dos Santos, os pais dos irmãos Pereira dos Santos que todos conhecemos.
Os membros destas três gerações habitaram a casa da família, na Rua do Convento, números 30 a 38. João Pereira de Carvalho terá comprado pedras do extinto convento para construir ou reconstruir essa habitação. Mas a atual fachada do edifício data de meados do século XX, como aqui já foi referido.
No número 30 existiu uma forja de ferreiro, durante muitos anos do século XX.
Maria de Lurdes Hortas viveu, na casa em frente.
Anos mais tarde, registou as lembranças da sua infância, nos versos de um poema.

EM FRENTE À CASA DA INFÂNCIA

Em frente à casa da infância havia um ferreiro.
Além das ferraduras para cavalos, suas mãos grandes e pesadas
fundiam o sol em sua forja. E sucedia que, ao acordar, eu me precipitava
para a janela a tempo de ver
as faíscas da luz escapulindo pelo escuro vão da porta do ferreiro
diluindo-se na neblina da rua.
Da mesma janela via surgir, no postigo do primeiro andar, a velha:
de vestes tão negras como o tempo que atravessara
e de cabelos tão alvos como a farinha que, todos os dias, àquela mesma hora peneirava.
Da casa voejava uma poalha de prata.
Se fosse Inverno, a neve parecia escapar-lhe da peneira
polvilhando a aldeia de silene magia.


(Maria de Lurdes Hortas, "Cantochão de Todavia", edição do GEGA, 2005, São Vicente da Beira)

Pedido: Outra pessoa que comprou pedras do convento foi a Ex.ma D. Anna de Brito Coelho de Faria. Tenho informações escritas sobre esta família, muito importante em São Vicente, no século XIX, mas nada sei sobre onde morava, se ainda lá vivem descendentes...
Agradeço qualquer informação, a quem souber alguma coisa.


Nota: Este texo foi completado a 26/01, na sequência do comentário de Paulo Duarte de Almeida.

domingo, 15 de janeiro de 2012

O nosso falar: borrega

O veterinário da minha gata, bom conhecedor de São Vicente, onde sempre fez grandes amigos, recentemente veio de lá impressionado com a quantidade de terrenos agrícolas que temos ao abandono.
Consequentemente, algumas paredes mostram sinais de ruína. Os nossos antepassados, durante séculos, compuseram as terras agrícolas, endireitando-as e segurando-as com paredes. Assim nasceram os leirões.
Mas agora faltam cultivadores e tempo aos poucos que há, a ganhar o pão noutras atividades.
Por isso, muitas paredes incham para um dos lados, em forma de barriga dilatada, após refeição farta. Parecem barrigas de borregas, essas adolescentes dos ovinos.
(Cordeiros - acabados de nascer; borregos e borregas – ovinos jovens, ainda em crescimento; carneiros e ovelhas – ovinos adultos)
Mais dia menos dia, sobretudo quando chove muito, as paredes com borregas esbarrondam-se e caem ao chão. Então dizemos que caiu uma borrega na horta de fulano de tal.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Censos 2011

Já estão disponíveis, on-line, os resultados do Censos 2011.
A versão definitiva, em papel, será publicada no verão. Na altura, publicarei o número de habitantes, por povoação, da nossa freguesia,
Aqui deixo o número de habitantes de cada freguesia do concelho de Castelo Branco, presentes na altura do censos.
Entre parêntesis, apresento o resultado do censos de 2001. Em negrito, estão as freguesias que ganharam habitantes nesta última década.

Alcains – 4.892 (4.594)
Almaceda – 610 (910)
Benquerenças – 706 (707)
Cafede – 263 (267)
Castelo Branco - 35.006 (31.637)
Cebolais – 1.007 (1.196)
Escalos de Baixo – 648 (946)
Escalos de Cima – 902 (1.057)
Freixial do Campo – 441 (526)
Juncal do Campo – 357 (491)
Lardosa – 990 (1.049)
Louriçal do Campo – 620 (807)
Lousa – 668 (724)
Malpica do Tejo – 532 (763)
Mata – 452 (578)
Monforte – 380 (516)
Ninho do Açor – 408 (450)
Póvoa de Rio de Moinhos – 645 (651)
Retaxo – 824 (989)
Salgueiro do Campo – 880 (936)
Santo André das Tojeiras – 728 (1.045)
São Vicente da Beira – 1.246 (1.536)
Sarzedas – 1.331 (1.707)
Sobral do Campo – 360 (483)
Tinalhas – 591 (665)
Total do concelho de Castelo Branco - 55.587 (55.240)

Conclusão: Os dois núcleos urbanos ganham população e as zonas rurais perdem habitantes; as freguesias mais afastadas do centro (Castelo Branco) e da A23 são as que perdem mais população.
Curiosidade: O número de habitantes destas últimas povoações está-se a aproximar do que era há cerca de 200 anos, quando se iniciou o grande crescimento demográfico. A diferença é que agora o número reduzido de pessoas não se deve a uma mortalidade muito alta, como naquela época, mas sim à diminuição da natalidade e à migração das gentes para os centros urbanos, principalmente do litoral.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

As pedras do convento

Sempre me disseram que as pedras do antigo convento são as do muro da Quinta da Casa Cunha, ao longo da Rua de São Sebastião.
Agora encontrei a ata da sessão da Junta da Paróquia em que as pedras foram vendidas. Foi no dia 24 de Agosto de 1845, sendo presidente o Reverendo Vigário Manuel Marques Leite e vogais José Henriques Sénior e João da Conceição, este também escrivão do regedor, Francisco Rodrigues Lobo.
Antes de dar a notícia, tenho de informar que o convento foi extinto em 1835 e, na altura, já estava parcialmente arruinado, residindo nele apenas a Madre Abadessa. Dez anos depois, 1845, nem todo o convento estava na posse da Junta da Paróquia. Parte dele já fora comprado por um particular, o Pe. Joaquim Castanheira (a ata que o refere não indica qual a parte). Mas a Igreja de São Francisco mantinha-se pública e de pé, havendo até diligências no sentido de ser reconstruída nas partes a necessitarem de obras. Assim, a pedra vendida era a que resultava da demolição da parte do convento administrado pela Junta da Paróquia, com exclusão da igreja.


Nesse 24 de Agosto, às 11 horas da manhã, o presidente da Junta ordenou ao vogal João da Conceição que dissesse ao pregoeiro da Câmara, Manuel Francisco, para pôr a lanço, a quem mais desse, «…a pedra das paredes demolidas do extinto comvento desta Villa pertencente aesta Parochia, a Vinte reis cada carrada…».
O pregoeiro apregoou várias vezes e depois veio informá-lo que «…perante elle tinhaõ comparecido o Ill.mo Joaõ Robalo da Cunha, Joaõ Pereira de Carvalho, e Joaõ da Silva Lobo por si e como arrematante em nome da Ex.ma D. Anna de Brito Coelho de Faria todos desta Vila eque todos unanimamente tinhaõ coberto olanço da Junta com hum real, eque nada houvera quem lhe cobrisse este Lanço de Vinte ehum reis por cada carrada…».
Informado disto e não havendo quem desse mais, o presidente mandou entregar o ramo aos quatro arrematantes, pegando nele João da Silva Lobo a rogo dos outros. Foram depois todos ter com o presidente à sacristia da Igreja Matriz, sede da Junta da Paróquia, onde ele lhes disse que levassem a pedra que precisassem, arrematando-se a restante, novamente, caso não a gastassem toda.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O nosso falar: ...até o Marzelo.

A anterior publicação "Mãos mágicas" continha um erro que só detetei há dois dias.
Refleti sobre a demora e conclui que não o identificara porque não era bem um erro, mas uma maneira de falar.
Tenho uma escrita muito oral (tendo a escrever como falo) e falo à São Vicente (muitas vezes sozinho) sempre que penso na nossa terra, como nos momentos em que escrevo para os Enxidros.
Ora nós devíamos dizer "...até ao Marzelo", mas dizemos "...até ó Marzelo" e mesmo "...até o Marzelo", que é uma maneira ainda mais simples (e preguiçosa) de dizer.
O meu pai, nascido em Castelo Branco, por casos do destino, mas preso ao Casal da Fraga, pelas raízes, dizia-nos "Vou o Casal" e muito raramente "Vou ao Casal" ou "Vou ó Casal".

domingo, 1 de janeiro de 2012

3.º Aniversário

Hoje comemora-se o aniversário Dos Enxidros.
O blogue atingiu o máximo de publicações semanais (cerca de três), a meio deste terceiro ano, no final da Primavera. No início deste projeto, pretendia-se uma publicação por semana.
Mas apercebi-me de que estava a fazer um esforço muito acima das minhas disponibilidades de tempo e de materiais informativos. Por isso, abrandei o ritmo.
Existe uma limitação natural deste blogue que é ser feito a partir de Castelo Branco e não de São Vicente. Essa limitação é inultrapassável e as contribuições pontuais de várias pessoas, sobretudo do Dário Inês e do Ernesto Hipólito, apenas possibilitam disfarçar momentaneamente essa realidade.
É um desejo natural dos leitores terem sempre mais informação, mas de facto não há condições para garantir mais do que uma publicação semanal e só excecionalmente duas ou três.
O blogue é visitado entre 1700 e 1900 vezes, mensalmente. Os visitantes vivem na França, Suiça, Alemanha, Inglaterra, Rússia, Brasil, México, Estados Unidos, Canadá e sobretudo em Portugal. O blogue terá perto de 100 leitores fiéis e assíduos.

Bom ano novo para todos. Que não se concretizem as previsões Maias e os dirigentes europeus saibam encontrar soluções políticas e económicas capazes de tirar a Europa da profunda crise em que se encontra.
Quanto a nós, individualmente, a solução é fazermos cada coisa o melhor possível, sem esperar que os outros o façam.
Bom 2012!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Saudade

Dois poemas da escritora Maria de Lurdes Hortas, nascida em São Vicente da Beira, mas radicada no Brasil desde menina.
Lembrança dos que estão longe, divididos entre dois mundos, aquele em que vivem e o que tiveram de deixaram.


DUPLA

Presente aqui.
Ausente além.
E vice-versa, sempre.
Assim, tão dupla
é que sou inteira.


ECO DE GONÇALVES DIAS

Minha terra tem coqueiros
onde pousam rouxinóis.
Minha terra tem pinheiros
onde canta o sabiá.
As aves da minhas terras
cantam cá e cantam lá
sempre ao inverso de onde
as deveria escutar.

Poemas publicados no suplemento IDEIAS, n.º 3, do Jornal do Fundão (04-05-1990)