sábado, 15 de dezembro de 2012

Saberes e sabores

Bebia-a de conversas com o Pe. Jerónimo ( um famoso bacalhau que comeu no lagar do Mesquita, feito pela Brocha), do José Miguel Teodoro (os livros são pretextos para o encontro de pessoas) e do Ernesto Hipólito (as tasquinhas de Alpedrinha em São Vicente...). Dirão que aprendi com os melhores, mas foi por uma boa causa!
A ideia foi fazendo o seu caminho. No passado dia 11 de novembro, já misturámos história, poesia e música, com castanhas e jeropiga. E repeti-a na apresentação do meu livro, em Castelo Branco, graças à generosidade das Águas Fonte da Fraga, da Jú Marau (as filhoses foram um sucesso!), dos Queijos Veríssimo (do Vale de Alfaia, Sobral) e do Vinho Quinta da Arrancada (Ninho do Açor e também Tinalhas). Foi uma geografia de saberes, sabores e afetos, um casamento perfeito.
Obrigado a todos eles, mais aos Amigos da Escola e ao Jaime Teodoro Nicolau e ainda à Câmara Municipal, aos Serviços Municipalizados e ao pessoal da Biblioteca Municipal.
Um agradecimento especial ao Carlos Matos e ao Miguel Santos que me ajudaram a produzir esta obra. E à Dr.ª Adelaide Salvado e ao Pedro Salvado, pela maneira sábia como a explicaram ao público presente, no auditório da Biblioteca Municipal de Castelo Branco, em tarde abençoada por muita chuva.


















Fotógrafo: Joaquim Trindade dos Santos

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O livro em Castelo Branco

O meu livro vai ser apresentado em Castelo Branco. É na próxima sexta-feira, 14 de dezembro, pelas 18 horas, na Biblioteca Municipal.
Desejo que seja um importante momento de afirmação da identidade da região entre Castelo Branco e os cumes da Gardunha. Por mim, fiz o melhor que pude: escrevi o livro, convidei dois dos maiores vultos da cultura regional para o apresentarem (Adelaide Salvado e Pedro Salvado) e desafiei produtores a virem dar a provar os seus produtos: Águas Fonte da Fraga, Queijos Veríssimo e Vinho da Quinta da Arrancada, além do nosso pão e das nossas filhoses.
Aos leitores do blogue, peço que publicitem a iniciativa junto das pessoas da nossa região (freguesias de São Vicente, Louriçal, Ninho, Tinalhas, Freixial e Póvoa), sobretudo dos que vivem em Castelo Branco.


Sinopse
Foi há cerca de 250 anos.
Em Tinalhas, vivia Teodoro Faustino Dias, que casou com Maria Cabral de Pina, do Violeiro, filha do Sargento-Mor Domingos Nunes Pousão. Teodoro Dias foi alferes da capitania de Tinalhas. Era o maior criador de gado bovino no concelho, 31 cabeças. A sua filha Eusébia Dias Cabral casou com António Meireles Gramaxo, do Fundão e Soalheira, os quais deram origem à Casa Viscondes de Tinalhas. Teodoro Faustino Dias tornou-se presbítero, após enviuvar, perto dos 50 anos, e foi cura do Freixial.
O Pe. João Antunes era natural do Casal da Serra, onde fiscalizou a capela devotada a São João Baptista, particular dos irmãos Duarte Ribeiro. Foi o capelão de São Tiago, pago pelos vizinhos dos montes da charneca que se fintavam para lhe fazerem uma côngrua, a troco de assistência religiosa. Os espanhóis levaram-no preso, na Guerra dos Sete Anos.
Ana Maria do Carmo nasceu em Castelo Branco e casou com o Dr. Diogo José Pires Bicho Leonardo, natural de Tinalhas, mas residente no Ninho. Enviuvou cedo. Morava na Praça e era dona de uma azenha, no Freixial, e de um lagar confrontante com a ervagem do Vale do Curro.
O Pe. Manuel Marques era natural do Louriçal, já fora cura do Freixial e era-o então do Sobral. Ensinava Gramática aos filhos de parte da elite local: dos Duarte Ribeiro do Casal da Serra e dos Ramos Preto do Louriçal, mas originários do Sobral.
O tribunal e a cadeia eram na Câmara da Vila. Os pais cujos filhos sujassem a água do chafariz passavam 8 dias na enxovia dos presos e das presas. E quem colhesse uvas ou figos, em vinha alheia, pagava de coima 500 réis (Manuel Henriques andou um dia ao entulho, para as calçadas, e recebeu 150 réis).


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O nosso falar: fenadouro

Mais uma palavra do outro mundo ou antes, de outros mundos.
Conheço a palavra fenadouro desde sempre e ainda a uso frequentemente, mas nada sei dela além do significado que lhe atribuo: sentir uma fome ligeira, um leve despertar do apetite para comer algo, o protesto delicado de um estômago já vazio. Ainda não é fome, nem fraqueza, é apenas um ratinho, ou melhor, um fenadouro.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Genealogia de um beirão restaurador

A existência de Portugal e a qualidade de ser português devem-se a homens e mulheres que, em vários momentos da nossa história, teimaram em manter uma individualidade própria neste nosso berço à beira mar plantado. São Vicente da Beira não se alheou deste esforço colectivo de afirmar a nossa identidade nacional.
Os moçárabes desta região lutaram ao lado dos guerreiros de D. Afonso Henriques, na batalha da Oles, ainda Portugal era pouco mais que um sonho. Em 1385, os castelhanos foram barrados em Aljubarrota pelo vicentino D. Fernando Rodrigues de Sequeira e um punhado (de poucos milhares) de heróis que desprezaram as suas vidas em troca do ser português. Em 1640, António de Azevedo Pimentel Galache, capitão-mor de São Vicente da Beira, levantou a bandeira real portuguesa por D. João IV, na vila e depois em Castelo Branco. Deu-nos tanto e a nós basta-nos conhecê-lo melhor.


1. António de Azevedo Pimentel, fidalgo, casou com Isabel Ferrão Galache, de Castelo Branco, senhora de Felices, em Espanha. Tiveram:

2. Fernão de Azevedo, moço fidalgo da Casa Real, por Alvará de 1551. Casou, em 1567, com Leonor da Costa, filha de Gaspar da Costa, de S. Vicente da Beira. Neste casamento, foi testemunha Jácome de Sousa e Refoios, também de São Vicente, cuja mãe pertencia igualmente aos Costa e que foram antepassados dos condes de São Vicente.
Fernão de Azevedo casou, em segundas núpcias, com Maria de Brito, filha de João Homem de Brito e Clara Tavares, neta paterna de Vasco Homem de Brito, comendador de S. Vicente da Beira. Deste casamento nasceram 3 filhos, o mais velho dos quais foi:

3. António de Azevedo Pimentel Galache que nasceu em S. Vicente, no dia 07-10-1567 e aqui faleceu em 21-01-1643. Foi moço fidalgo e senhor de um morgado de bens de raiz em São Felices dos Galegos, herdado da avó Isabel Ferrão Galache.

Em 29-10-1731, António de Azevedo Pimentel Galache foi testemunha, em Castelo Branco, do casamento de António Feio da Maia e Almeida, natural de Abrantes, e Oriana Maria Brígida de Brito e Fonseca, de Castelo Branco.

Um documento da mesa do Desembargo do Paço, de 24 de Julho de 1641, refere-se-lhe como sendo «Antonio de Azevedo Pimentel fidalgo da casa de V. Majestade morador na vila de sam Vicente da Beira…».
De seguida, informa que ele era possuidor de um morgado de bens de raiz na vila de São Felices dos Galegos, Reino de Castela, no valor de mais de vinte mil cruzados, confiscado pelos espanhóis logo após a Restauração da independência, em Portugal.
Por isso se queixava de não poder viver conforme a sua qualidade, apesar de ter sido o primeiro a aclamar D. João IV em S. Vicente da Beira, tomando a bandeira real nesta vila e depois em Castelo Branco.
E pedia que lhe fosse dado um morgado na cidade da Guarda, propriedade de um castelhano de Cidade Rodrigo, no mesmo valor do que perdera, oferecendo-se para servir na guerra (da Restauração) com dois sobrinhos e cunhados.
O Desembargo do Paço pediu informações ao Corregedor da comarca de Castelo Branco, o qual confirmou tudo o que o capitão-mor de S. Vicente da Beira tinha argumentado. Face a esta informação, a Mesa do Desembargo do Paço sugeriu a Sua Majestade que lhe fosse dado o morgado da Guarda, conforme requerera.

António de Azevedo Pimentel Galache casou com Maria de Lemos Pereira, natural de Almeida, e, em segundas núpcias, com a sobrinha Joana da Costa, filha de António de Brito Homem, natural de S. Vicente da Beira, e de Luísa da Costa, de Castelo Branco. Deste casamento nasceu:

4. Tomás Fernando de Azevedo Pimentel, nascido em S. Vicente da Beira, a 07-03-1642. Tornou-se moço por alvará de 1653. Foi padroeiro do Convento da Graça (atual Santa Casa da Misericórdia), em Castelo Branco. Casou com Josefa Micaela de Freire de Avis e tiveram:

5. António de Azevedo Pimentel Galache.

BIBLIOGRAFIA
Hipólito Raposo, Um Beirão Restaurador, "Oferenda", Lisboa, 1955
Manuel Estevam Martinho da Silva Rolão, “Famílias da Beira Baixa”, Lisboa, 2007
Manuel da Silva Castelo Branco, O Amor e a Morte… nos antigos registos paroquiais albicastrenses, Cadernos de Cultura “Medicina da Beira Interior da Pré-História ao Século XX”, N.º 7, Novembro de 1993
Eis os heróis do nosso tempo: equipados a rigor, sem temer o frio, depositaram um ramo de flores no nosso pelourinho, assinalando a Restauração da Independência de Portugal.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um hino

A. dos Santos


GARDUNHA

Antes do lusco-fusco,
Da manhã,
Na serra,
Cheira já a hortelã.

Lá no cume,
Ti’ Liberato,
Salta da cama, brusco,
Para acender o lume.

Quer ir ver as coisas a crescer,
De imediato,
Pois, como é?!

Breve, põe-se a pé,
Deixando a brasa,
E a Ti’ Maria,
Em casa,
Ainda a dormir.

Logo ali, no pátio, ao alvorecer,
Nota-se o ar fresco,
Sente-se o esvoaçar d’asa,
Do passaredo,
Ouvem-se os porcos grunhir,
No cortelho,
O piar do mocho agoireiro,
Grotesco,
E o vento a dar no arvoredo.

Eia!!! De repente,
Mesmo ali no terreiro,
Em frente,
Um coelho,
Corre, desalmadamente,
Fugindo de um cão,
Ão, ão, ão, ão…

Esta madrugada,
Vai estando animada!

Mas, no mais,
Além do sururu dos animais,
Tão familiar,
Tudo está em sossego.

Liberato, no escuro,
A tatear,
Afoita-se à frente,
Com cautela, como que em segredo,
A perscrutar o breu profundo,
Para além do pequeno muro,
Ali à volta construído,
Postado como um guarda.

Pareceu-lhe ouvir um ruído,
Além do bulir do mundo,
Na vala, lá mais adiante.

Não precisa da espingarda,
A zagaloteira, sempre alerta, carregada,
Para a caça ou a bicharada,
Mas que já preveniu desavença.

Soberbo, confiante,
Como um juiz que profere uma sentença,
Sem medo,
Brada:

“Que é lá isso”?!
“Quem é que lá vem”?!

E nada…
Bem…
C’o mosquedo,
Que já ferra a sua lanceta,
Descorçoada,
Incomodada,
Talvez tivesse sido a “Preta”,
A burra,
Presa p’la trela,
Além mais a cima, na loja, a sós,
Que deu algum coice,
E bateu nalguma cancela.

Como que picada por foice,
Zurra,
Assim que lhe ouve a voz!!

Amanhece.

Naquele início de dia,
De primavera,
Ares lavados,
Orvalhada fria,
Liberato desce,
Cedo,
Por veredas e valados,
Com a maresia,
Para ver o trigo e o pão.

Assobio a silvar, ledo,
Volteando pelo ar,
Em melodia,
C’o vapor d’água,
Da respiração,
A desafiar o melro
E a cotovia,
Que cantam mágoa,
Alegria.

A lavourar, assim,
P’la serra,
(Ainda não viu vivalma),
A cheirar o rosmano e o alecrim,
A vistoriar a terra,
Solitário, parcimonioso,
Congemina,
Com toda a calma:
“Aqui semeio a ervilha”,
“Além o pepino”,
“E o grão”.

E lá p’rá frente, para a rega,
Há boa água na mina,
Que riqueza, que maravilha!

C’o sol a pino,
No verão,
Quando canta a cegarrega,
Tanque cheio todos os dias,
A vazar por cima,
Onde as aves nativas
Ou de arribação,
Vadias,
Vêm beber,
Furtivas,
Quase a arder,
Sequiosas,
Refugiando-se, depois, sadias,
À sombra das mimosas.

sábado, 24 de novembro de 2012

Nas Jornadas do Património

Luzita Candeias

Dia de S. Martinho e das Jornadas Europeias do Património na nossa Vila.
O dia estava de vento frio que soprava da Gardunha, mas de um sol radioso e céu azul que convidavam a sair de casa e ir conviver, ver, conhecer, ouvir as histórias da nossa história, as nossas músicas, canções e tradições, participar no magusto, comer as castanhas e beber jeropiga.
Por incompatibilidade de horários, só me foi possível estar presente na Praça Vicentina, onde:

- Ouvi as músicas e canções, trajes e tradições do nosso Rancho Folclórico Vicentino.

- Senti e estremeci com os fortes batuques dos Bombos Vicentinos.

- Ofereceram-me castanha com verso-canção.

- Comi mais castanhas oferecidas de mão em mão.

- Bebi doce jeropiga que me aqueceu a alma e o coração.

- Recebi, dei e partilhei beijos e abraços dados com emoção.

- Não faltaram sorrisos de alegria e gargalhadas de satisfação.

- Nem me faltou o farrusco no rosto como manda a tradição.

E quando a noite chegou a Praça se iluminou.
É hora de regressar a casa e seguir a Estrela que sempre me guiou.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

5.º CENTENÁRIO DO FORAL MANUELINO DE S. VICENTE DA BEIRA

Amanhã, 22 de novembro, completam-se 500 anos da publicação do nosso foral, pelo rei D. Manuel I.
O GEGA produziu um vídeo alusivo a este foral. Aqui vo-lo deixo.