Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para dosenxidrosgardunha@gmail.com
sábado, 14 de novembro de 2015
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
A nossa gente
Fotografia cedida pelo Pedro Gama Inácio
Esta fotografia
tem perto de setenta anos e foi tirada na Senhora da Orada. O homem do meio,
com a guitarra, chamava-se Joaquim Inácio e penso que era o mais velho de seis
filhos. Está rodeado por dois dos irmãos. À direita o César Inácio com a sua
Patrocínia; à esquerda (a segunda a contar da ponta) a Maria José com o seu
Guilhermino. À roda, alguns dos muitos filhos que ambos os casais tiveram;
alguns já casadoiros, outros ainda crianças de colo.
Nasceu em 1895
e, como muitos rapazes daquele ano, foi mandado para a França durante a 1ª.
Grande Guerra. Esteve lá para cima de dois anos e quando regressou trazia uma
folha de serviço quase limpa, o que lhe valeu ser admitido na GNR, apesar de,
muito provavelmente, não saber ler nem escrever.
Foi colocado no
Quartel do Carmo e diz-se que valeu a muitos conterrâneos que iam ter com ele a
pedir ajuda. Uma vez, era o Zé Marau ainda rapaz novo, foi a Lisboa e, às
voltas pela cidade, foi ter ao Palácio de S. Bento. Admirado com o jardim que
havia à volta, quis ver melhor e encostou-se ao muro para espreitar. Ainda mal
tinha posto a cabeça dentro, sentiu-se agarrado por um polícia que lhe
perguntou:
- Olha lá, meu
burro, não sabes que não se pode passar para lá do risco encarnado?
O Zé Marau bem
tentou explicar que não tinha visto risco nenhum e só queria ver o jardim, mas
o guarda meteu-o num carro e levou-o preso para o Quartel do Carmo. Por sorte,
quando lá chegaram, encarou logo com o Jaquim Inácio que lhe deu um abraço e
afiançou que era filho de boa gente. Depois pegou-lhe por um braço e foram os
dois beber um copo no primeiro sítio que encontraram.
Sempre que podia,
voltava à terra e as festas de Verão e a Senhora da Orada não se faziam sem
ele. Parece que a mulher e as filhas nem sempre o acompanhavam, mas a guitarra
trazia-a sempre, bem afinada. Era uma alegria quando se juntava com os amigos, à
noite, e corriam as ruas da Vila, do cimo ao fundo, a tocar e a cantar. Só
paravam à porta das tabernas para afinar a garganta. E na Senhora da Orada,
depois de comerem a merenda, pegava na guitarra e armava-se logo ali o baile,
com a família e os amigos todos a dançar.
Os irmãos tinham
um grande orgulho nele e disputavam entre si quem é que lhe dava de comer e de
dormir sempre que cá vinha. Apesar de serem todos muito pobres, esmeravam-se
nos mimos cedendo-lhe a melhor enxerga e pondo-lhe na mesa o que de melhor
tinham em casa. Diz que um ano coube a um dos irmãos mais pobres recebê-lo.
Como não tinham roupa à altura do que sentiam que ele merecia, foram pedir a
outra irmã os lençóis do casamento para lhe fazerem a cama. Ficou tão bonita
que até parecia um altar.
Um dia, meados
de maio de 1961, chegou cá a notícia de que tinha morrido. Diz que nesse ano
ninguém da família foi comer a merenda à Senhora da Orada…
M. L. Ferreira
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terça-feira, 10 de novembro de 2015
Azeitona carrasquenha
Permitam-me que faça aqui o elogio da oliveira carrasquenha. Ela é a parente pobre do olival e está a tornar-se rara, mas ainda vai resistindo, talvez porque os nossos mais velhos tinham inscrito no seu ADN a biodiversidade.
Tenho uma oliveira carrasquenha e só este ano me apercebi de que não me dá cuidados nenhuns. A galega é tão delicada que basta chover sem fazer frio, enche-se de gafa e cai de podre. A bical não se dá na meia altitude da serra e por isso quase não produz. A cordovil é bem boa, mas não somos só nós a gostar dela, a mosca também e por isso facilmente nos aparece bichada. Andava eu nestas reflexões quando me aproximei da oliveira carrasquenha. Ali estava uma amiga fiel, sempre com meia carga ou a vergar de peso, raramente com bicho, nunca com gafa.
Desconfio que ela vem diretamente dos primórdios, sem mutações genéticas como acontece com quase todas as nossas árvores domésticas. Por isso é mais resistente à gafa e a outras pragas.
Tenho uma oliveira da CEE, já grande, que ainda não deu nada e já decidi: para o ano, em março, vou fazer uma homenagem à minha boa amiga e enxertá-la de oliveira carrasquenha!
José Teodoro Prata
domingo, 8 de novembro de 2015
Os caçadores da minha terra
Sento-me em frente ao castanheiro e contemplo a dança das folhas amarelecidas
que vão caindo das ramagens, debaixo da árvore, um grande “carcomelo”, -parece
um guarda-chuva- seu pequeno tronco possui um anel, sinal que se pode consumir.
Subo o pinhal, com um pau remexo a
caruma aqui e ali a terra sobressai “escrapiada”. Com cuidado retiro-a, por
baixo encontra-se um míscaro. Não está sozinho, muito perto existem outros rodelos.
Ouço o latir de cães, de repente passa junto a mim um
coelho que estava a ser perseguido por três podengos, um trom e no alto de uma “pesserra”
surge um caçador com o cano da espingarda fumegando, um dos cães com o rabo a
abanar transporta na boca o coelho…
Os
campos da minha terra
São
de uma beleza inigualável
Ao
fundo o campo, ao cimo a serra
Onde
há muita água potável
Na
Oles travou-se uma guerra
Os
camponeses com sua rusticidade
Na
sua terra passam a mocidade
No
tempo das caçadas
Operários,
doutores e campestres
Pegam
suas espingardas
Alguns
são verdadeiros mestres
Calcorreiam
matos e lavradas
Os
cães farejam, latem, são umas pestes
Coimbra
busca, agarra, ele anda ai
Carriço…está
ao pé de ti
Arma
em riste, coronha ao ombro
Empisca
o olho em direcção à mira
Pum…
ouve-se um grande estrondo
Caçador
mais uma vez atira
Que
grande coelho, caiu redondo
Este
é para a minha avó Alzira
Caçador
palmilha, anda, mesmo maçado
Percorre
as ruas da vila todo inchado
O
diabo é quando a caçada corre mal
Surge
na vila disfarçado
Entra
logo pelo quintal
Deixa
lá homem; vens cansado
São
assim regra geral
Vem
comer este coelho guisado
Que
bom está o coelhinho
Bota
aqui mais um copinho
Matei
este coelhito ao amanhecer
Os
cães não queriam caçar
Andavam
cansados, não queriam correr
Bem
gritava; busca… agarra…mas tive azar
O
piloto encostou-se a mim a gemer
Vamos
para casa, para o nosso lar
Não
têm faro, o calor aperta
Os
coelhos estão encovados pela certa
Na
taberna já com um copito
O
caçador gabarola…
Só
mataste um reles coelhito
Mal
enchia a “caçola”
Eu
matei dez e falhei outros tantos, tenho dito
Tu
o que tens é gola
Não
acreditas! Pergunta à minha
Estão
dependurados na cozinha
É
feliz o caçador
Mesmo
espetando cada peta
Calcorreia
os campos com amor
Ao
ombro leva a escopeta
Com
frio, neve ou calor
Leva
o carriço, o tejo e a violeta
Botas
ferradas, arma em riste
O
caçador nunca está triste
Porque
o caçador Vicentino
É
vivaço e ladino
Zé da Villa
sábado, 7 de novembro de 2015
Diospiros
O meu primo Jaime (Teodoro Nicolau) disse-me, há tempos, que a sua horta no Casal da Fraga dava os diospiros melhores do mundo.
Acredito: a horta dele (a água da ribeira e o calor daquela encosta soalheira) e as nossas.
É de facto um fruto extraordinário. Acho que só o conheci já no Tortosendo e era o único motivo que me obrigava a roubar, qual macieira do paraíso.
Sorrateiro, deslizava pela escadaria da fonte e piscina e escondia-me na ramagem da árvore, à cata deles.
Com as cores do outono ficam ainda mais bonitos!
José Teodoro Prata
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Passeio pedestre
Os recantos e encantos de
São Vicente da Beira
Passeio pedestre pelos enxidros
15 de Novembro; 14.15h - 17.00h
Local de partida e chegada: Praça
Conhecer
Os passos do Pistotira
A canada dos Carquejais
A regadia das Lameiras
A mina de volfrâmio
Os soutos da Gardunha
O miradouro da serra
As cores do outono
Organização:
- Junta de Freguesia
- Blogue “Os Enxidros”
Nota: a chegada do passeio coincide com o início do magusto
José Teodoro Prata
terça-feira, 3 de novembro de 2015
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