domingo, 8 de novembro de 2015

Os caçadores da minha terra

Sento-me em frente ao castanheiro e contemplo a dança das folhas amarelecidas que vão caindo das ramagens, debaixo da árvore, um grande “carcomelo”, -parece um guarda-chuva- seu pequeno tronco possui um anel, sinal que se pode consumir.
Subo o pinhal, com um pau remexo a caruma aqui e ali a terra sobressai “escrapiada”. Com cuidado retiro-a, por baixo encontra-se um míscaro. Não está sozinho, muito perto existem outros rodelos. Ouço o latir de cães, de repente passa junto a mim um coelho que estava a ser perseguido por três podengos, um trom e no alto de uma “pesserra” surge um caçador com o cano da espingarda fumegando, um dos cães com o rabo a abanar transporta na boca o coelho…


Os campos da minha terra
São de uma beleza inigualável
Ao fundo o campo, ao cimo a serra
Onde há muita água potável
Na Oles travou-se uma guerra
Os camponeses com sua rusticidade
Na sua terra passam a mocidade

No tempo das caçadas
Operários, doutores e campestres
Pegam suas espingardas
Alguns são verdadeiros mestres
Calcorreiam matos e lavradas
Os cães farejam, latem, são umas pestes
Coimbra busca, agarra, ele anda ai
Carriço…está ao pé de ti

Arma em riste, coronha ao ombro
Empisca o olho em direcção à mira
Pum… ouve-se um grande estrondo
Caçador mais uma vez atira
Que grande coelho, caiu redondo
Este é para a minha avó Alzira
Caçador palmilha, anda, mesmo maçado
Percorre as ruas da vila todo inchado

O diabo é quando a caçada corre mal
Surge na vila disfarçado
Entra logo pelo quintal
Deixa lá homem; vens cansado
São assim regra geral
Vem comer este coelho guisado
Que bom está o coelhinho
Bota aqui mais um copinho

Matei este coelhito ao amanhecer
Os cães não queriam caçar
Andavam cansados, não queriam correr
Bem gritava; busca… agarra…mas tive azar
O piloto encostou-se a mim a gemer
Vamos para casa, para o nosso lar
Não têm faro, o calor aperta
Os coelhos estão encovados pela certa

Na taberna já com um copito
O caçador gabarola…
Só mataste um reles coelhito
Mal enchia a “caçola”
Eu matei dez e falhei outros tantos, tenho dito
Tu o que tens é gola
Não acreditas! Pergunta à minha
Estão dependurados na cozinha

É feliz o caçador
Mesmo espetando cada peta
Calcorreia os campos com amor
Ao ombro leva a escopeta
Com frio, neve ou calor
Leva o carriço, o tejo e a violeta
Botas ferradas, arma em riste
O caçador nunca está triste

Porque o caçador Vicentino
É vivaço e ladino

Zé da Villa

4 comentários:

José Teodoro Prata disse...

No petisco, está bem, mas matarem os javalis que me partem as árvores, vai lá, vai!
Mas, pensando bem, é melhor assim...
Eles têm tantos direitos como eu.

Anônimo disse...

Carcomelos, rodelos, empiscar… Para quando o dicionário do nosso falar?
Quanto à caça, salvo os javalis que, comilões, destroem tudo por onde passam, parece que é cada vez menos; mesmo assim, vale pelo passeio e convívio, pelo que ouço dizer. Por favor, mesmo que o Carriço, o Tejo ou a Violeta não levantem muitas lebres, no final da época não os abandonem. Eles são os vossos amigos mais fiéis, garanto!

M. L. Ferreira

Anônimo disse...


São laranjas, diospiros e cogumelos…
Ó Terra mãe que frutos tão belos!!!
Como é que há, quem não te saiba apreciar
E em Centros Comerciais tanto goste de passear?

P'ró Zé da Villa, que me tira da gaiola do 10ºandar
e com os seus versos me leva a passear. Um abraço
FB

Paula C disse...

Tenho passado por aqui ultimamente e tem sido um prazer. Basta ler para saber quem escreveu. É interessante verificar que cada um tem um estilo próprio, que identifico.
Parabéns Zé da Vila.