terça-feira, 10 de novembro de 2015

Azeitona carrasquenha


Permitam-me que faça aqui o elogio da oliveira carrasquenha. Ela é a parente pobre do olival e está a tornar-se rara, mas ainda vai resistindo, talvez porque os nossos mais velhos tinham inscrito no seu ADN a biodiversidade.
Tenho uma oliveira carrasquenha e só este ano me apercebi de que não me dá cuidados nenhuns. A galega é tão delicada que basta chover sem fazer frio, enche-se de gafa e cai de podre. A bical não se dá na meia altitude da serra e por isso quase não produz. A cordovil é bem boa, mas não somos só nós a gostar dela, a mosca também e por isso facilmente nos aparece bichada. Andava eu nestas reflexões quando me aproximei da oliveira carrasquenha. Ali estava uma amiga fiel, sempre com meia carga ou a vergar de peso, raramente com bicho, nunca com gafa.
Desconfio que ela vem diretamente dos primórdios, sem mutações genéticas como acontece com quase todas as nossas árvores domésticas. Por isso é mais resistente à gafa e a outras pragas.
Tenho uma oliveira da CEE, já grande, que ainda não deu nada e já decidi: para o ano, em março, vou fazer uma homenagem à minha boa amiga e enxertá-la de oliveira carrasquenha!

José Teodoro Prata

3 comentários:

Anônimo disse...

É verdade. As oliveiras são boas amigas, mas generosas e saudáveis como a carrascanha, não há. Tenho uma na Serra que deve ser prima da tua.
Lembraste-me o Torga, Zé. Tal como ele exerces uma profissão não ligada à terra e à natureza, mas os post's que nos vais deixando, vão testemunhando o amor que lhe tens. Impressiona-me a quantidade de pessoas que perderam essa ligação, que não a respeitam, nem a amam e ela é a condição primeira da nossa existência. A mãe Terra é ainda a única plataforma em que corre o programa da Humanidade.
FB

Anônimo disse...

De repente, quando li esta publicação, pensei: «É uma enciclopédia este homem! Sabe de tudo». Mas de facto não pode ser apenas saber; deve ser mesmo o amor que tem pelas coisas que faz.
E concordo com o F.B: a relação com a Terra, planeta e matéria, para além do prazer que é, ajuda muito a construção da nossa humanidade.
Quanto à azeitona carrasquenha, não sei bem qual é. Acho que só tenho galega e cordovil, e este ano, quando comecei a colhê-la, fiquei toda contente porque achei a tarefa mais fácil do que em anos anteriores. Só depois é que vi que se soltava melhor porque estava bichosa (ou será gafa?).

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Depois de fazer a publicação, pesquisei na internet e fiquei a saber que a oliveira carrasquenha (carrascanha, para os vicentinos) é muito vulgar no Alentejo e boa produtora de azeite.
O nosso desprezo por ela só pode vir do desconhecimento!
A minha era um tronco velho que cortei rente e rejuveneceu.
Libânia: Bichosa é com bicho e gafa é podre (isso sabes tu). Este ano, alguma azeitona tinha as duas coisas e por isso não consegues ver bem a diferença. Mas a chuva parou e, como a maioria ainda não amadurecera, a gafa não alastrou e pode ser um bom ano de azeite.