quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Eleições na Misericórdia

No passado domingo, dia 4 de dezembro, 
realizaram-se as eleições dos órgãos sociais da Santa Cada da Misericórdia de São Vicente da Beira, 
para o quadriénio 2017-2020.
Candidatou-se uma única lista.
Os eleitos são:

Assembleia Geral
Dr. João Guilherme Macedo Dória, Presidente
Anabela da Conceição Pedro Matias, Vice-Presidente
Maria Lucília da Conceição Rodrigues, Secretária


Mesa Administrativa
Efetivos:
João Benevides Prata, Provedor
João Maria dos Santos
Maria Libânia S. M. Ferreira
Maria da Luz Prata Teodoro
Pe. José Manuel Dias Figueiredo

Suplentes:
João Fernandes
Domingos dos Santos O. Goulão
Luís Fernandes Moreira


Conselho Fiscal
Efetivos:
Francisco Eduardo C. Martins, Presidente
Pedro Manuel Vaz Gama, Vice-Presidente
Manuel Bernardino Baptista, Secretário

Suplentes:
Lilia Maria Moreira Mateus
António Rodrigues Inês
Sebastião Barroso Mendes

José Teodoro Prata

domingo, 4 de dezembro de 2016

As profecias do Pescão Seco

Chamava-se António Fernandes e nasceu no lugar de Pescanseco, Pampilhosa. Sabe-se lá porquê, veio ainda novo para São Vicente e por cá se casou com Maria de São João, no ano de 1884. Tinha vinte e oito anos e era soldado na reserva. Por causa da terra onde nasceu, começaram a chamara-lhe Pescão Seco.
Conta o Chico Insa que ouvia dizer ao avô e ao pai que era um homem muito instruído, que sabia ler e escrever muito bem e falava de coisas que davam que pensar. Havia uma que dizia mais ou menos assim: «Hão de vir tempos em que os caminhos estarão pintados de preto e no ar hão de voar coisas que deixam riscos no céu. Quando isso acontecer, virão cataclismos tão grandes que será o fim do mundo».
Naquele tempo, já lá vão cento e muitos anos, mal se imaginavam as voltas que o mundo havia de dar e as transformações no modo de vida das pessoas: carroças e carros de bois substituídos por automóveis e aviões; gente a viver em gaiolas (parece que em muitas cidades do Oriente é quase literal) e a alimentar-se com comida que cresce à custa de fertilizantes, hormonas e pesticidas; mezinhas substituídas por antibióticos que já se deixam enganar pelas bactérias; armas capazes de arrasar cidades inteiras; e tantas outras coisas que, a pouco e pouco, estão a tornar cada vez mais frágil a qualidade de vida das pessoas e do ambiente.
Ainda assim, ainda não há muito tempo, os mais desatentos dizíamos que os avisos sobre as ameaças da vida na Terra tinham origem em teorias alarmistas e pouco fundamentadas e continuávamos a olhar para o lado como se não tivéssemos nada a ver com o assunto e estas questões não tivessem a ver com cada um de nós.
Agora os cientistas já dizem que chegámos a um tempo em que, se não se tomarem medidas extremas dentro de um período muito curto de tempo, chegaremos a uma situação em que não haverá retorno em termos da sustentabilidade do Planeta.
Conscientes desta realidade têm-se conseguido compromissos por parte de um grande número de países, para a implementação de medidas que evitem males maiores, nomeadamente pela redução de gases poluentes. Mas logo agora que se estavam a dar passos importantes nestas questões, os americanos voltam a surpreender-nos com a escolha que fizeram para seu presidente: um homem que tem revelado uma atitude de negação e desprezo por grande parte das conquistas civilizacionais que fomos alcançando, incluindo a consciência ecológica e a preocupação pelas questões ambientais.
Se tivermos em conta a origem das primeiras felicitações que lhe chegaram do estrangeiro (Marine le Pen, Putin, Erdogan…), se calhar temos razões sérias para estarmos apreensivos quanto ao futuro; se não do nosso, pelo menos do dos nossos filhos.
Oxalá não se cumpra cedo demais a profecia do Pescão Seco!

Notas:
António Fernandes e Maria de São João moraram na Vila e aí lhes nasceram os dois primeiros filhos que morreram anjinhos. Viveram depois no Casal da Fraga, numa casa que seria mais ou menos no local onde eu moro agora e onde terão tido uma filha que se chamava Bernardina; mudaram-se a seguir para a Senhora da Orada, mais precisamente para o Vale Caria, onde lhes nasceu pelo menos mais um filho, Anselmo, que andou na Grande Guerra, mas que também deve ter morrido ainda novo.


A casa do Vale Caria, onde viveram, era muito humilde, e dela já só existem vestígios das paredes traseira e laterais e o sítio onde acendiam o lume.
Apesar de ser um homem com uma instrução acima da média para aqueles tempos, António Fernandes terá sido toda a vida jornaleiro. Dos poucos descendentes que teve, ainda vivem alguns no Casal da Serra. Continuam a ser conhecidos pelo nome de Pescão.

M. L. Ferreira

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Fontes: convento franciscano

A 7 de novembro de 1714, casou, em São Vicente, Joaõ Martins Mouzinho, natural de Estremoz, 
Tenente de Cavalos da Companhia do Capitão Antonio Velho de Britto, do partido da Beira Baixa. 
A noiva foi Barbara Maria de Oliveyra da Cunha e Sylva, filha do Capitão Manoel de Oliveyra e Cunha e de sua mulher Maria Figueyra de Castellobranco, de Aldeia Nova do Cabo.
Dirão que casamentos há muitos e é verdade. 
Só que esta noiva era recolhida «...no convento das religiosas desta vila...»
E esta? Os pais depositaram (não se choquem com o verbo, era mesmo assim) aqui a sua filha, mas depois arranjaram-lhe um bom partido e pediram autorização ao Reverendo Doutor Provisor deste bispado, que deu ordem ao vigário para que ela saísse do convento.
Tomara eu que a coisa fosse assim tão clara, mas de facto o pormenor que apresento mostra um conjunto de frases não totalmente claras de significado, na parte final.



Este Antonio Velho de Britto era o marido de Dona Ursulla Roballa, 
natural das Sarzedas, que em São Vicente deu nome a uma rua e a uma tapada.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Fontes: Casal Duarte da Fraga

Já aqui me referi à origem do topónimo Casal da Fraga: 
durante muitos anos, apenas lá viveu uma família com o apelido Fraga.
E fraga tanto pode ser uma rocha como uma forja (neste caso, inclino-me para este segundo significado).
No dia 20 de agosto de 1714, casou a Luzia Gonçalves, filha de Duarte da Fraga e de Maria Rodrigues.
Mas os pais dela já haviam falecido. Na época, a vida era tão precária que eram poucos os jovens que tinham um dos pais vivo na altura do seu casamento.
Segue-se o registo de casamento da Luzia e por baixo em pormenor, para lerem melhor.



A 6 de novembro de 1715, casou um viúvo que vivia no casal Duarte da Fraga.
Talvez ali trabalhasse como ganhão ou pastor do herdeiro de Duarte da Fraga (sei que tinham gado).
Apesar de já falecido, o Duarte da Fraga deu o nome ao seu casal. Depois ficou só Fraga.
O registo deste segundo casamento apresenta-se em baixo, também com pormenor.



Estes Fraga deram origem aos Jerónimo, 
pelo casamento do filho de Duarte Fraga (Jerónimo Duarte) com a filha dos rendeiros do Casal do Pisco.

José Teodoro Prata

Fontes: Pouzão e Pinna

Na segunda metade do século XVIII (1750-1600), moravam em São Vicente, na rua que vai da praça para a ponte, futura Rua Nicolau Veloso, 
dois padres (Manoel Cabral de Pinna e Estevam Alvares de Pinna) 
e duas irmãs solteiras (Brittis Cabral e Joanna Cabral). 
Eram naturais do Violeiro, filhos de Domingos Nunes Pouzão e Brittis Maria Cabral 
(a tal que foi sepultada na Misericórdia de São Vicente, vestindo o hábito franciscano).
Também já sabeis que este casal tinha uma outra filha (Maria Cabral de Pinna) casada em Tinalhas, 
cujo bisneto foi o primeiro visconde de Tinalhas.
Os primeiros dois documentos abaixo apresentados são o registo de casamento deste casal Domingos Nunes Pouzão e Brittis Maria Cabral e o terceiro é um pormenor do segundo, para lerem melhor.




Não sei se repararam que este casamento é de 1714 
e que o vigário se chamava Estevaõ Alvares de Pinna.
A noiva, órfã de pais (Estevaõ Alvares de Pinna e Mariana Cabral, da Quinta da Canharda, Fornos de Algodres) viveria em São Vicente com o irmão, 
o qual lhe arranjou um bom partido para casar (foi sargento-mor). 
Mas vivia com eles um outro irmão padre, o Manuel Cabral de Pinna,
que aparece a celebrar um outro casamento, nesse ano de 1714, o da Luzia, uma minha parente dos Jerónimo, de quem darei notícias daqui a dias.
Este Manuel Cabral de Pinna foi depois prior da Igreja de São Silvestre, na Covilhã.

Curioso que os irmãos padres desta família, em duas gerações diferentes, eram um Estevão e outro Manuel.


José Teodoro Prata

terça-feira, 29 de novembro de 2016

As crianças devem sujar-se?

Muito se tem falado sobre a falta de contacto das crianças com as brincadeiras de rua. Médicos de família, nutricionistas e especialistas em psicomotricidade  alertam para a falta de mobilidade das crianças e para a obesidade infantil.
Habitualmente, desenvolvo um projeto sobre Horta Escolar e planto diversos legumes. Sempre que me é possível, dou um saltinho à horta e noto que inicialmente os miúdos sentem um grande constrangimento em mexer na terra. Os dias de rega são os favoritos, pois a mangueira verte alguma água e faz pequenas poças. Um dia, contei-lhes que quando era da idade deles brincava com a terra e fazia bolinhos. Incentivei-os a fazer a experiência e foram eufóricos para a sala a perguntar se para a próxima podiam repetir a brincadeira. Uns dias depois, voltámos à horta e uma aluna disse não poder ajudar; os pais tinham proibido por ter chegado a casa com os sapatos sujos de terra.
Fiquei perplexa por pensar nos pais atuais, com máquinas para tudo. A minha mãe criou oito filhos e nunca nos proibiu de brincar ou reclamou por nos sujarmos. Claro que o meu pensamento foi até à Tapada da minha infância. 

Aproveitávamos os dias em que a minha mãe ou a tia Stela despejavam as presas da Barroca, para regar as hortas ou armazenar água no tanque. As regueiras ficavam cheias de água límpida e nós começávamos a azáfama. Fazíamos um cone de terra e com o cotovelo uma cavidade na ponta. Deitávamo-nos ao lado do rego e com a boca, sorvíamos um gole de água que lançávamos na cova redondinha. Víamos a água a desaparecer e esperávamos um pouco. Com os dedos indicadores, íamos afastando a terra solta e com muito cuidado pegávamos na malguinha que colocávamos na palma da mão. Ficávamos encantadas por ver como tinha ficado perfeita! Era colocada, com muito jeitinho, nas saliências da rocha que servia de cozinha. Voltávamos ao rego e a brincadeira continuava pela tarde fora. Diversas sementes seriam o arroz que iria encher as malgas.
Entretanto, íamos vigiando o caudal do rego para sabermos o momento de irmos tapar as presas à Barroca. Pegávamos num sacho e íamos por uma vereda junto ao rego. Chegadas às presas, verificávamos se realmente estavam completamente despejadas. Colocávamos a tranca na parte exterior do alvanel e na parte de dentro colocávamos terra que era apertada coma as mãos e com o sacho, para não haver o perigo de vazar durante a noite. O mais difícil era tapar a mina. À entrada víamos um túnel cavado na rocha e ao fundo uma imensa escuridão. A água era escura, pois o desnível provocado pelas areias acumuladas, à boca da mina, fazia com que ela ficasse sempre com bastante água. Para a tapar por dentro, era preciso inclinar-me sobre a água e tatear até encontrar a cavidade que tinha que ser fechada com torrões para ficar completamente selada. Imaginava serpentes a enrolarem-se à volta do braço e, quando terminada a tarefa, suspirava de alívio. Regressávamos a casa felizes por termos cumprido bem a nossa missão. A nossa mãe perguntava sempre:
 - Então as presas ficaram bem tapadas? Vejam lá se amanhã, quando o dono da água as for despejar, não encontra lá nada!

Conceição Teodoro