sábado, 5 de agosto de 2017

A poesia de Roque Lino




O TOQUE DOS SINOS

São tantos os toques que ecoam
Naqueles sinos da aldeia
Que até conseguiram cantar-me
Na data do meu nascimento
E também celebraram datas
Que a memória vai recordando
Como aquela do casamento.
Sentinela atenta aos fogos
Que crepitavam nos pinhais,
Os sinos eram alvorada,
E convocação para a missa
E chamamento à oração.
Cantavam as Avé Marias
Como o apelo às novenas
E acompanhavam procissões
A par do estralejar dos foguetes
Que explodiam preces no céu.
Curvados sob as enxadas
Vinham camponeses exaustos
E arrastavam-se almocreves
Ao toque do recolher
Que aqueles sinos tocavam
Com a perfeição de um clarinete.
Quero continuar a ouvir
Todas essas badaladas
Já que enquanto as sentir
Não oiço o toque final
Que nunca ouvirei afinal
Porque o sino é festa e é vida.

José Teodoro Prata

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Poesia, amanhã


Reconquista, 3 de agosto de 2017

A apresentação de um livro, um concerto da banda, um espetáculo do rancho, um desfile dos bombos ou uma exposição são momentos de comunhão de afetos (e pouco mais que isso).
Alguém partilha com o resto da comunidade o que lhe deu tanto gosto a preparar, algo de si que oferece aos outros.
Por isso é muito bom termos o Roque Lino connosco. Vem partilhar a sua poesia, algo que para mim é das coisas mais íntimas que há. 
Apelo à participação dos que visitarem este blogue: vamos todos estar presentes!
E nesse gesto nos assumimos como comunidade.

José Teodoro Prata

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Festas de Verão

Mais uma vez se vão realizar as tradicionais e centenárias festas em honra do Santíssimo Sacramento, Senhor Santo Cristo, e Senhora do Carmo; vulgo festas de verão, este ano de 4 a 8 de agosto.

Santíssimo Sacramento: Jesus, na última ceia tomando o pão e o vinho abençoou-os, voltando-se para os seus discípulos disse:- Tomai; comei este pão que é o meu corpo, bebei este vinho que é o meu sangue.
Os Vicentinos ao realizarem a festa em honra do Santíssimo recordam este episódio que antecedeu a crucificação.
Senhor Santo Cristo: Deus feito Homem que se sacrificou por nós, morrendo pregado numa Cruz. Senhor, a quem os Vicentinos recorrem nas horas menos boas da vida. Certa vez o povo aflito a braços com uma praga de gafanhotos suplicou-Lhe que os livrasse de tamanha calamidade, os gafanhotos, à medida que tocavam as paredes da igreja da Misericórdia caiam fulminados.
Senhora do Carmo: Com as cruzadas, muitos cristãos fixaram-se na Terra Santa, alguns foram viver como eremitas para o belo monte Carmelo, começaram a levar uma vida de pobreza, simples e contemplativa.
Sob a protecção da Virgem Maria, a quem atribuíram o título de Senhora do Carmo, construíram uma capela, aos poucos foram-se disseminando pelo mundo.
Passaram muitas dificuldades. Certo dia o monge, responsável pela Ordem, tem uma visão. Vê a Virgem Maria que lhe entrega o escapulário dizendo-lhe: Quem o usar terá a minha protecção.
Ao longo dos séculos, santos, santas, papas, reis, povo, têm-no usado.
É uma armadura protectora, o escapulário. Quem o usar está revestido com o manto de Nossa Senhora. - dizia Santa Teresa de Ávila.
Pode ser substituído por uma medalha.

Como não havia quem fizesse as Festas, um bom Vicentino a viver há muitas décadas em terras gaulesas, João Maria Rodrigues Craveiro (João passaraço), juntamente com um punhado de corajosos, arregaçaram as mangas…
Para que nunca mais se criem impasses como tem sucedido amiudadas vezes nestes últimos anos, está a ser criada uma Associação.
Esta Associação passará a realizar festas e eventos de interesse colectivo e comunitário na Vila, sempre em estreita colaboração com as autoridades civis e religiosas da freguesia.
Outro objectivo da novel Associação visa a preservação do património, seja material ou imaterial: contos, lendas, tradições, histórias… que o tempo vai apagando da nossa memória colectiva.
Deixamos o convite a todos os Vicentinos, para que adiram à Associação, tornando-se sócios, para que o Senhor Santo Cristo continue a ser um farol de fé e devoção…

Comissão de Festas:
João Maria Rodrigues Craveiro
João Filipe Tavares Goulão
Maria Joana Trindade dos Santos
Clara Maria Santos Matos Rodrigues
João Fernandes
José Manuel dos Santos
Luís Caio
Jaime Gama
Pedro Matias Duarte
Fátima Gama
Teresa Inácio
Luís Moreira Fernandes
Ricardo Oliveira
Raquel Inácio
José Moreira Fernandes
Daniel Alexandre dos Santos Fernandes
Maria Teresa Trindade dos Santos Fernandes

Porque a união, faz a força!                                                       


J.M.S

sábado, 29 de julho de 2017

A nossa Beira

Beira charneca, Beira montanha
Beira campina, Beira em flor
Beira pinhal, Beira azenha
Beira meu bem, meu amor

Beira estevas, giestas
Rosmaninho, carqueja, alecrim
Beira de romarias e festas
Onde tudo é belo, nada é ruim

Beira de águas cristalinas
Refrescantes sem igual
Sejam fontes, presas ou minas
Não há melhor em Portugal

Beira da Senhora da Orada
Romaria sem rival
Fica na encosta da serra
Este santuário medieval

Senhora de São Vicente
Banhada pela ribeira
Grande fé tem nossa gente
Para nós, tu és a primeira

Tua água tem virtude
Para nossos males curar
Todos a bebem sem cessar
Para recuperar a saúde

Beira São Vicente
Do Santo Cristo milagreiro
Que bem a gente se sente
Na praça, no Seu terreiro

Beira São Vicente
Das filhoses e do Natal
Fritas na noite celestial.
Na praça, a fogueira aquece a gente

Beira das janeiras
Pelas ruas cantadas
Todos cantam sem peneiras
Sejam solteiras ou casadas

Beira dos entrudos
Mascarados a preceito
Magros, altos ou barrigudos
Cada um a seu jeito

 Beira da semana santa
A de São Vicente sem igual
Das ladainhas que a gente canta
Tradições sem rival

Cantam-se loas pungentes
Os martírios lembram a paixão
São assim estas gentes
Sejam, Vicentinos ou não

O São João é cantado
À volta da fogueira
Seja solteiro ou casado
É assim na nossa Beira

 Lá vem o Senhor Santo Cristo
Festa grande sem igual
Todo o Vicentino gosta disto
Não há outra em Portugal

Terra de grandes olivais
Vila bela e amorosa
Está cercada de pinhais
Meu lindo botão de rosa

Na torre tocam os sinos
Para o povo rezar
Na igreja cantam-se hinos
Para Cristo se adorar

Lá vem o povo leal
Sempre alegre e contente
Do Cimo, Caldeira, Fundo ou Casal
Bem-disposto e sorridente

Beira dos pífaros e pandeiros
Adufes e tocadores de bombos
Partida, Almaceda, São Vicente ou Pereiros…
Carregam-nos, pum, pum…aos seus ombros

Cedo de manhãzinha
Eis os bombos a chegar
O barulho já se avizinha
Lá vem o povo a cantar

Passa a banda Vicentina
Sempre muito afinadinhos
Ao passarem na esquina
Alegram todos os vizinhos

Zé da Villa

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Adro D. Sancho I



Vai ser à tangente, mas acho que tudo estará pronto para as Festas!

NOTAS:
Chamara-lhe praceta, mas mudei para adro, pois o espaço não pode/não deve ser batizado com um nome se já tem outro.
E D. Sancho I, para homenagearmos o rei que nos concedeu o foral e a quem nós nunca agradecemos.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Transporte de passageiros


Desculpe o torcicolo, mas a imagem não me obedece quando a mando ficar na vertical e, entre ficar assim e não publicar, optei por deixar ficar.
É publicidade ao serviço de "táxi", em 1916, publicada no jornal albicastrense O BEIRÃO, de 2 de dezembro.

José Teodoro Prata

domingo, 23 de julho de 2017

O lobisomem da Partida

Bem a avisaram que não casasse com ele, que havia ali coisa do diabo. Mas, já diziam os antigos, o amor é cego e ela não acreditava numa palavra do que ouvia. Onde lhe punham defeitos, ela só via qualidades: bom rapaz, trabalhador, não faltava ao respeito a ninguém. Ainda por cima bem parecido e com alguma coisa de seu. E casaram.

Apesar de não lhe terem agoirado nada de bom, era feliz e achava-se uma mulher com sorte. Cumpridor de todos os deveres conjugais assumidos no dia do casamento, o homem estimava-a, enchia-lhe a casa de tudo quanto era bom que trazia da horta e depressa a encheu também de filhos. Que mais podia ela querer?

Às vezes ainda se ria das más-línguas que lhe quiseram estragar o namoro e, mesmo já depois de casada, continuavam a encher-lhe a cabeça com patranhas: que era ele, transformado em lobo, que atacava os homens e animais que apareciam mordidos ou mortos em certos dias da semana; ou então, feito cavalo, andava por lá à solta em noites de lua cheia, atormentando quem se demorava nas hortas ou tinha que madrugar. Mas ela não dava ouvidos a ninguém, que havia muita gente assim, sem escrúpulos, capaz de dar cabo duma casa por tudo e por nada. Tudo invejas!

Nem mesmo quando ele se lhe escapava da cama, julgando-a a dormir, e voltava de madrugada, tão cansado que ela lhe ouvia o bater do coração, desconfiava de nada. Ficava numa inquietação, mas encontrava sempre uma explicação para aquelas saídas noturnas: ou era a presa que tinha que ser despejada; alguma vaca que estaria para parir ou uma encomenda de lenha de última hora. Confiava nele e não fazia perguntas. Já lhe bondava a lida da casa e os filhos, sempre tão asseados que era um regalo olhar para eles.

Uma vez, era inverno, e até parece que tinha parido a galega no forno da Barroca. Não que nos outros dias a forneira tivesse uma hora de descanso, que naquele tempo as casas estavam cheias de filhos e às vezes um tabuleiro de pão por semana não chegava para acalmar a fome a tanta boca. Mas naquele dia foi uma coisa por demais. De tal maneira que a vez dela ficou para tão tarde que já era noite alta quando o pão lhe saiu do forno e pôde voltar para casa. O que vale é que a lua estava tão grande que alumiava como se fosse dia.

Começou a subir a rua, com o tabuleiro à cabeça, e nisto ouviu um barulho que até parecia um tremor de terra; primeiro ao longe, depois cada vez mais perto, até que sentiu que estava mesmo encostadinho a ela. Só teve tempo de se atirar para a valeta para não ser levada à frente do que quer que aquilo fosse. Viu então que era um cavalo enorme que abrandou junto a ela, lhe abocanhou um bocado do xaile e continuou a galopar rua fora.

Um pouco mais acima era a casa de um dos cunhados, irmão do homem. Também deve ter ouvido o galope do cavalo e, mais que sabia ele do que se tratava, saiu da cama a correr e galgou as escadas até à loja das vacas que era mesmo por baixo da casa. Pegou no agulhão e espetou com ele no lombo do cavalo que se transformou logo ali no homem que era.

Quando a mulher chegou a casa, toda a tremer, encontrou o homem sentado ao cimo das escadas, a arfar, e ainda a tirar restos das franjas do xaile da boca. Nem quis crer no que os olhos dela estavam a ver, mas foi aí que o homem lhe confessou o mal que o atormentava desde novo e que tinha sido a ferroada do agulhão que o tinha feito perder a perneta.

M. L. Ferreira