sábado, 9 de março de 2019

quarta-feira, 6 de março de 2019

Arte rupestre na Gardunha


O José Barroso mandou-me esta foto logo a seguir à descoberta deste núcleo de gravuras rupestres, na Serra da Gardunha, freguesia de Alcongosta.
Por vários motivos, só hoje a publico.
As gravuras foram noticiadas como sendo do Calcolítico (3300 a 1200 a. C.), o período em que as ferramentas eram de cobre. Do período seguinte, Idade do Bronze, é o machado de bronze descoberto no Castelo Velho e exposto do Museu Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco.
Mesmo que distem 1000 anos entre os artistas que fizeram as gravuras e os construtores da fortificação a que chamamos Castelo Velho, há uma inegável continuidade no povoamento da Gardunha. E se a eles juntarmos os achados arqueológicos da Penha, acima de Castelo Novo,  concluímos que há urgência em estudar os primórdios do povoamento na serra. Talvez seja desta que o Castelo Velho sai do esquecimento a que tem sido votado.

José Teodoro Prata

terça-feira, 5 de março de 2019

Carnaval


Hoje é Carnaval, ninguém leva a mal

Na Antiguidade, tanto os povos do Mediterrâneo, egípcios, hebreus, gregos e romanos, como os povos germânicos do Europa Central realizavam festas religiosas em que se agradeciam aos deuses as boas colheitas ou o fim de um ciclo de escuridão, o inverno, e a aproximação de um novo ciclo, este de luz. O carnaval seria então um ritual de passagem da escuridão para a luz, do inverno para o verão.
Todas estas festividades pagãs de povos tão diferentes, que se realizavam entre novembro e fevereiro, com duração variável, tinham em comum a inversão dos papéis sociais (homem-mulher, senhor-escravo) e a prática de diversão e de excessos.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, vários concílios tentaram acabar com estas festas pagãs, mas sem sucesso. Por isso as cristianizaram, fixando-as nos três dias anteriores ao início da Quaresma, mas no dia seguinte lembrando aos homens que são pó e em pó se hão de tornar.
Assim, para os cristãos, no Carnaval é permitido fazer tudo o que apetecer, mas que é interdito na Quaresma, um longo período de jejum e abstinência.
Na povoação da Partida, até meados do século passado, os rapazes iam aos palheiros tirar palha para fazer os entrudos, uns bonecos de palha que vestiam com roupas de pessoas. Depois colocavam-nos no cimo de um pau comprido. Na tarde do dia de Carnaval, os rapazes levavam o entrudo numa carroça, pelas ruas, e todos gritavam e choravam. No final, queimavam-no.
Outra tradição era, na noite de Carnaval, irem para o telhado da capela gritar, com um funil, coisas caricatas e ridículas que tinham acontecido às pessoas da aldeia. Era a choradela de entrudo.

José Teodoro Prata
(Hoje, na Rádio Castelo Branco)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

As Casas da Roda


A importância do papel da criança na família e na sociedade tem variado muito, quer ao longo da história quer de uma cultura para outra. Sendo indiscutível a valorização da paternidade, chegando mesmo, em algumas sociedades, a validar-se socialmente o casamento apenas quando nascia o primeiro filho, não houve, até há relativamente pouco tempo, um grande investimento afetivo, por parte dos pais, relativamente às suas crianças. O mesmo acontecia relativamente ao seu estatuto social.
Justificando este fenómeno estariam razões de origem económica e demográfica, como a pobreza, uma elevada taxa de natalidade, e, por outro lado, um grande índice de mortalidade infantil. Também a crença que vigorou até ao século XIX de que as crianças até aos 7 anos eram criaturas sem mente, mais parecidas com animais do que com seres humanos, contribuiu para justificar o desinvestimento nesta fase da vida, considerando-a apenas uma transição para a idade adulta.  
Não havendo grande ligação afetiva entre os progenitores e os seus filhos, estes afastavam-se muito cedo do meio familiar, sendo a sua educação e socialização feita na comunidade alargada. Sujeitos a todo o tipo de perigos, más condições de nutrição e higiene, e às muitas epidemias que atacavam toda a população, mas principalmente as crianças, muitas acabavam por morrer. As que conseguiam sobreviver, começavam a trabalhar desde muito cedo, quase sempre na agricultura e pecuária, nas pequenas oficinas ou como criadas das famílias mais abastadas. Algumas dedicavam-se à mendicidade ou ao furto para sobreviverem e ajudarem no sustento da família, correndo também os riscos que tais práticas envolviam.
Se esta era a situação de grande parte das crianças que nasciam dentro do casamento, as condições pioravam quando eram fruto de uma relação ilícita ou inconveniente, e, por motivos morais e sociais, tinham que ser escondidas da sociedade. Muitas eram mortas à nascença ou abandonadas em locais onde acabavam por morrer. Outras eram deixadas em lugares públicos ou à porta de igrejas e conventos, onde pudessem ser encontradas por alguém que as recolhesse. A maior parte destas era encontrada num estado de grande debilidade e não resistia por muito tempo.
Este fenómeno, provavelmente por razões humanitárias, mas também demográficas e económicas (o grande índice de mortalidade infantil e juvenil provocava uma carência grande de mão de obra), merecia, desde há muito, alguma preocupação por parte das autoridades civis e religiosas, que começaram a procurar respostas de acolhimento e proteção para as crianças abandonadas ou órfãs. A primeira terá sido criada em Itália, na cidade de Milão, ainda no século VIII.
Em 1188, por determinação do Papa Inocêncio III, foi criada o que pode considerar-se a primeira Roda dos Expostos, em França; e a pouco e pouco, outras foram surgindo por toda a Europa. Situavam-se quase sempre junto de igrejas e conventos, e chamavam-se assim por dispor de uma espécie de cilindro giratório, em madeira, onde a pessoa que levava a criança podia colocá-la de forma anónima, sabendo que alguém ia cuidar dela.   

Parte da fachada de um dos pátios do Convento de Odivelas, com a roda à esquerda da porta.

 
Pormenor da Casa da Roda de Caria. onde se vê o funcionamento da roda: por baixo colocavam a criança e por cima alguns pertences e mantimentos.
Tem a data de 1784.

Em Portugal, a primeira casa destinada a receber crianças abandonadas foi fundada por determinação da rainha D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, na cidade de Lisboa. A pouco e pouco foram surgindo outras em cidades como o Porto e Santarém. Estavam quase sempre ligadas a ordens religiosas ou à nobreza, e mais tarde à Misericórdia.
Apesar da existência destas instituições, o problema das crianças abandonadas ou mortas não terá diminuído significativamente ao longo dos séculos; nalguns casos terá mesmo aumentado. Paralelamente, o número de óbitos em idades muito precoces, devido a epidemias e às más condições em que a maior parte da população vivia, era tão elevado que poucas crianças chegavam à idade adulta. Terá sido por isso, mas também pelas mudanças que, de forma ainda insípida, começaram a verificar-se no entendimento da infância, que, em 1783, Pina Manique decidiu o alargamento da rede de Casas da Roda (ou dos Exposto), ordenando a sua criação em todos os concelhos. Terá sido também por essa altura que foi criada a Casa da Roda de São Vicente da Beira.

M. L. Ferreira