quinta-feira, 28 de abril de 2022

O nosso falar: à lhana

O dia estava ventoso e ameaçava chuva. Saí de casa para o Ribeiro de Dom Bento, mas voltei a entrar, exclamando para a minha mulher:

- Ia à lhana, com este tempo!

Muni-me de guarda-chuva e casaco e voltei a sair, surpreendido pela expressão que me saíra da boca, que já não ouvia há tanto tempo.

Quase jurava não a encontrar no dicionário, mas foi fácil. Lhana significa simples, despretensioso, sincero, amável...

Sair de casa à lhana significará então ir vestido/equipado de forma simples, despretensiosa, sem grandes roupas ou equipamentos (guarda-chuva, boina, chapéu...).

José Teodoro Prata

terça-feira, 26 de abril de 2022

Ditadura / Democracia

 O jornal Publico tem um interessante artigo comparativo de Portugal, nos anos da ditadura e da democracia.

Não sei se poderão aceder: https://www.publico.pt/interactivo/ditadura-democracia-portugal

José Teodoro Prata

domingo, 24 de abril de 2022

A herança de Abril e Maio

Em 2009, publiquei este texto aqui no blogue. Repito-o, pois muitos não o leram na altura e outros, como eu, podem recordá-lo. Tem tudo o que para mim significa o 25 de Abril.

Em 1974, eu frequentava o 6.º ano (atual 10.º ano), no Seminário do Tortosendo.
No dia 25 de Abril, logo cedo, o P.e Guerra, pároco diocesano de Peraboa, chegou de carro e saiu a correr para a sala de professores. A seguir tivemos aula de Português. Com um rádio junto à secretária e outro no fundo da sala, em emissoras diferentes, tentávamos saber mais qualquer coisa do que se estava a passar em Lisboa. Contagiou-nos com o seu entusiasmo, mas cumpriu o dever de educador: atenção, pois liberdade rimava com responsabilidade! Uma chatice, para quem tinha 16 anos.

No dia seguinte, fomos ao Tortosendo. Pessoas ligadas ao Unidos disseram-nos que queriam o nosso P.e Jerónimo no comício de 28 de Abril!

O Unidos era o grande clube desta vila operária, um centro da oposição ao regime, com o qual o Seminário tinha uma boa colaboração cultural e desportiva.

E depois veio Maio.

Já conhecia as tradições das lutas dos operários do Tortosendo no 1.º de Maio. Anualmente, vários trabalhadores teimavam que era feriado e faltavam ao trabalho. Os patrões avisavam a GNR e, pela tarde, os guardas e a Pide iam buscá-los, eles que apenas estavam a comer umas chouriças assadas e a beber uns copos com outros amigos, à sombra de uma latada.

Mas o 1.º de Maio de 1974 foi diferente. A Vila preparou os farnéis e mudou-se para a ponte Pedrinha, no rio Zêzere. O meu pai andava a fazer a instalação da rede de esgotos no Cabeço e também foi à festa. Encontrámo-nos na estrada, mas eu fui com os outros seminaristas e ele com a família de um companheiro.

Meses depois, veio a greve dos operários dos Lanifícios. Nas últimas semanas, já havia fome. Os operários das aldeias em redor tiveram de trazer comida para os camaradas do Tortosendo. E venceram.
A Construção Civil foi igualmente beneficiada. Melhoraram os salários e reduziu-se a semana de trabalho. Com mais dinheiro e tempo livre, o meu pai já passava o sábado connosco e pode comprar e recuperar a casa da Vila, que se tornou a nossa morada. Ele costumava dizer que a nossa casa fora construída graças ao 25 de Abril.

Em 1975, criaram-se as camionetas dos estudantes e os adolescentes, bloqueados após a conclusão da Telescola, puderam prosseguir os estudos em C. Branco. Também eu, sem emprego, nem possibilidades de ir para a universidade, beneficiei delas um ano depois e tornei-me professor do Ensino Primário.

Durante muitos anos, em cada 25 de Abril, emocionava-me aos primeiros acordes da Grândola Vila Morena. Agora, felizmente, já não. A liberdade e os direitos dos trabalhadores tornaram-se tão naturais como o ar que respiramos. E se, infelizmente, as coisas não mudaram o suficiente para o bem de todos, temos a liberdade de contribuir para que tudo melhore.

José Teodoro Prata


sexta-feira, 22 de abril de 2022

A charneca

 Atravessei de novo a charneca (nome do passado, agora devia dizer-se pinhal).

Tem alguma magia (eu sinto-a) este território baixo e tão enrugado. Vejo-me a regressar à mãe Natureza, eu que nunca me afasto muito dela.

As fotos não são dignas da paisagem, mas foi o que arranjei.


Os Enxidros avistados da Lameirinha


A serra da Gardunha (a parte em que vira para sudoeste) 
vista de um alto entre os Pereiros e o Casal da Fraga


A estrada da Partida para o Casal da Fraga está a beneficiar de obras de requalificação: alargamento e corte de curvas.

José Teodoro Prata

sábado, 16 de abril de 2022

Tradições da Páscoa

Procissão do Enterro do Senhor

Faltou quase toda a gente, mas havia muitas pessoas, pois anda tudo farto de confinamentos e o pessoal meteu-se ao caminho para matar saudades.
Tantas recordações. Tantas emoções, alegrias e tristezas.
Boa organização da Misericórdia, mas não houve quem gritasse ao Senhor por misericórdia (Senhor Deus, Misericórdia) rua da Costa acima. Para além da fé e das figuras religiosas do andores, existem 5 tradições fundamentais nesta procissão: os passos, os encapuçados + matracas, a música que a nossa banda toca, o canto da Verónica e a súplica ao Senhor, por misericórdia.


Passo da Fonte Velha.


Paragem no passo da Fonte Velha, para ouvir a Verónica.


Ruas da Cruz e do Convento abaixo, guiados pela ti Maria de Jesus do Zé Alfaiate. Benditos 100 anos!

José Teodoro Prata

sexta-feira, 15 de abril de 2022

Andorinhões na Praça

 Há anos, a nossa Praça era animada por bandos de andorinhões que faziam voos acrobáticos em volta da torre, soltando gritos estridentes. Recordo-me vagamente que deixaram de nos visitar depois de umas obras na torre da Igreja, mas tenho esperança de estar a ser traído pela memória.

Podemos vê-los aqui: https://youtu.be/FzddGqEVHTk

Lembrei-me deles ao ler esta crónica do Miguel Esteves Cardoso, no Público:

«Amanhã é noite de lua cheia. As luas cheias amalucam as pessoas. E os bichos. E os mares. E abrem-nos os olhos.

Olhar para a lua cheia é quase como voar. A lua vai-se aproximando de nós, como se fôssemos nós que nos estivéssemos a chegar ao pé dela.

Que pena, que estupidez, que desperdício que o luar seja hoje só uma palavra bonita, que faz o favor de rimar com quase todos os verbos que se quiser produzir.

E o luar propriamente dito? Merece ser visto só de uma janela, quando se olha para a lua, como qualquer coisa que a lua entornou?

Pobre luar, que nem sequer tem direito a ser luz, a não ser quando se liga a luz do telemóvel e se repara, porque perdeu a força do costume, que já não é necessária.

Se ainda há tolos que se sentem obrigados a decidir entre cães e gatos, porque é que, já agora, a tolice não se estende a escolher entre o luar e a luz do sol?

Este sábado, se tem sorte de ter andorinhões por perto, ponha-se a ver como eles se portam com a lua cheia. Anders Hedenstrom, da Universidade de Lund, descobriu recentemente que alguns andorinhões reagem de maneira espectacular à lua cheia, voando até à altura de quatro ou cinco quilómetros.

Mesmo antes de ver os primeiros andorinhões do ano, vejo sempre os passarinhos e os pombos atarantados, a fugir da balbúrdia daqueles turistas: os andorinhões que fazem de vistoriadores, estudando os telhados e a concentração de insectos voadores, para emitir os avais para o resto da malta.

E, de resto, faço minhas as palavras que P.R. deixou ontem num comentário:

“Chegaram hoje, finalmente. Já voam em bando freneticamente, aqui mesmo à frente do 7.º piso. O céu está tão azul que conseguimos ver os movimentos das asas, do planar ao voo picado, ao mergulho. Estão mesmo bem-dispostos, acabadinhos de chegar. Ainda não vi nenhum entrar em ninhos nas frestas das pedras, ainda estão a matar saudades da luz e da beleza desta cidade. Bem-vindos.”»

José Teodoro Prata

quarta-feira, 13 de abril de 2022

A guerra na Ucrânia (4)

 CHINA

Com a atual guerra na Ucrânia, parece estar a desenhar-se uma nova ordem mundial, assente em duas superpotências, os Estados Unidos e a China. Após a 2.ª Guerra Mundial, o mundo dividiu-se entre os apoiantes dos Estados Unidos e da Rússia/União Soviética, depois os Estados Unidos ficaram sozinhos a dominar o mundo e agora parece haver intenção de voltar a dividi-lo em duas áreas de influência, cada uma com sistemas opostos à outra, na economia, nas finanças, na tecnologia, na informação, nas artes, nas humanidades, etc. Segundo alguns analistas, quem vai vencer esta guerra é a China, precisamente por não estar envolvida nela. Por isso devemos conhecermos melhor este gigante asiático, que atualmente desempenha o papel de fábrica do mundo.

A China é o país mais populoso do planeta, com quase um quinto da população da Terra.

Ao longo dos milhares de anos da sua existência, esta civilização realizou algumas das mais importantes invenções da humanidade: o papel, a imprensa, a pólvora, a seda, o papel-moeda, a bússola, o sismógrafo, os números negativos, o ábaco, entre outras.

Após 1949, a China adotou um regime comunista, mas em 1978 voltou ao capitalismo e fez reformas económicas que a tornaram numa das economias de mais rápido crescimento no mundo, sendo o maior exportador e o terceiro maior importador de mercadorias do planeta. A industrialização reduziu a pobreza de 53% (em 1981) para 8% (em 2001). 

A China é a segunda maior economia do mundo e é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, além de ser uma potência nuclear e de possuir o maior exército do mundo em número de soldados e o segundo maior orçamento de defesa.

José Teodoro Prata