sábado, 25 de fevereiro de 2023

(mais) Melhoramentos

 Enquanto esperamos por outros mais significativos, vamo-nos contentando com estes:

A Ribeira foi limpa, repôs-se o acesso a este açude e construiu-se um logradouro com bancos. Uma boa ideia para um momento de relaxe antes de começarmos a subir a barreira até ao Casal; 

Já podemos voltar a matar a sede na Fonte Ferreira (fonte de mergulho onde, dizem, antigamente vinha muita gente buscar água);

E, quando nos aventurarmos a subir até ao Cabeço do Mastro, já podemos andar de balouço. Pode ser um bom pretexto para uma caminhada em grupo até ao cimo da Gardunha…

M. L. Ferreira

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

A nossa arte sacra



Esta foto é de março de 1917, aquando da requalificação da casa Hipólito Raposo para receber o Museu de Arte Sacra.

Republiquei-a em novembro de 2019, quando julguei que o projeto do museu ia ser retomado. Enganei-me. Não foi retomado porque houve neglicência na obra e ausência total de reparação do que então se fizera mal. Hoje, o edifício terá as madeiras dos tetos e do chão todas apodrecidas. Estamos em 2023, é o fim do projeto?

Entretanto, durante a restauração das peças, as técnicas fizeram descobertas muito interessantes, que aguardava com muita expetativa que fossem comunicadas a toda a nossa comunidade. Como esse saber não é meu, não me cabe a mim dá-lo a conhecer.

Ao menos, não temos direito a essas revelações, numa visita guiada pelas técnicas? Câmara e Junta, vocês só existem para nos servir, por isso entendam-se, só fazem a vossa obrigação!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Eugénio de Andrade

Eugénio de Andrade é o pseudónimo literário de José Fontinhas, nascido na Póvoa da Atalaia, Fundão, em 1923. Cedo foi viver para Lisboa, tendo depois ido morar para Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço. Por razões profissionais, era Inspetor do Ministério da Saúde, acabou por fixar residência no Porto, onde viveu até à sua morte, em 2005.

A obra poética de Eugénio de Andrade mereceu-lhe vários prémios, como o prémio Camões, em 2001. Há uma biblioteca no Fundão com o seu nome (a biblioteca municipal, salvo erro).

É importante lermos a sua poesia, pois Eugénio de Andrade é também um fruto do campo que da Gardunha se estende até ao Tejo, possivelmente quase contemporâneo do nosso poeta José Lourenço, igualmente nascido numa das Atalaias. A obra de Eugénio de Andrade reflete intensamente a natureza desta Beira em que ele cresceu (até aos 10 anos).
Sou filho de camponeses, passei a infância numa daquelas aldeias da Beira Baixa que prolongam o Alentejo e, desde pequeno, de abundante só conheci o sol e a água. Nesse tempo, que só não foi de pobreza por estar cheio do amor vigilante e sem fadiga de minha mãe, aprendi que poucas coisas há absolutamente necessárias. São essas coisas que os meus versos amam e exaltam. A terra e a água, a luz e o vento consubstanciaram-se para dar corpo a todo o amor de que a minha poesia é capaz. As minhas raízes mergulham desde a infância no mundo mais elemental (...)
Conheçam-no aqui: 

Nota: Agora nem trudo está disponível/fácil de encontrar. O melhor é ir mesmo ao motor de busca Google), escrever o nome do poeta e aparece muita coisa interessante. No Youtube, a mesma coisa.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Premonição

 No seu tempo, foi um grande jornal, o Pelourinho! Durante os anos em que foi publicado serviu de aconchego para os muitos sanvicentinos espalhados pelo mundo, levando-lhes notícia do que ia acontecendo nas terras de cada um (todos os números tinham notícias das várias povoações da freguesia, o que é admirável).

Atualmente, penso, é um documento importante para fazermos a História, em variadas dimensões, da nossa terra.

O artigo que aqui deixo foi publicado em setembro de 1960 (número 2 do Pelourinho), e, entre outras coisas também importantes, dá-nos conta do que era a pobreza, naquele tempo, em São Vicente: 75 crianças pobres recorriam ao “sótão da caridade” para terem uma refeição de pão com sopa ou leite.

O artigo não é claro sobre se o número se referia só ao mês das férias, ou à média anual; de qualquer forma é um número muito grande, o que, já naquele tempo, não augurava nada de bom.

Pelos vistos nem o Senhor Santo Cristo nos pode socorrer…  

 

M. L. Ferreira

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

domingo, 22 de janeiro de 2023

Homens e bichos

Acabei de ler este livro que tem dois aspetos relativos a nosso património local já aqui referidos.

O primeiro diz respeito ao nosso hábito antigo de os irmãos mais velhos serem padrinhos de batismo dos mais novos. Uma das razões será o comodismo da situação: não ter de ir pedir “favores” a ninguém e ainda ter a vantagem de ser a própria família a escolher o nome da criança. Mas este hábito ancestral poderá ter ainda outra origem, já perdida na nossa memória coletiva (ou talvez não).

O livro refere, nas páginas 99 e 100, a propósito de lendas e crenças relativas à interação entre humanos e lobos:

«…Na zona de Bragança, o povo crê que o lobisomem é o resultado de uma relação pecaminosa entre padrinho e afilhada. Ainda na raia, mas na Beira Baixa, as gentes culpavam os padres. Bastava que o pároco se confundisse com as fórmulas do batismo para condenar a criança a este negro fado. Nas aldeias de Pitões das Júnias, em Riba de Mouro ou em Parada do Outeiro, o lobisomem seria o sétimo filho varão de um casamento. E a única forma de quebrar a maldição era a criança ser batizada pela mão do seu irmão mais velho.

            Apesar de menos frequente, o malefício também acontecia às irmãs. O investigador Leite de Vasconcelos, no Tomo II da sua Etnografia Portuguesa, recolheu testemunhos no Minho que se referiam às lobeiras ou peeiras. «E quando se perguntava ao povo o que significa “peeira”, ele responde: a que vive ao pé dos lobos», conta o investigador. Esse fenómeno, segundo a tradição popular, era semelhante ao dos rapazes: quando nasciam sete raparigas numa mesma casa, a mais nova acabaria lobeira. Isso só seria evitado se a irmã mais velha aceitasse ser madrinha de batismo da mais nova


O segundo aspeto diz respeito aos cavalos. No meu livro “O concelho de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular” dei notícia da entrega aos franceses, logo no início da 1.ª invasão, de um cavalo de lista, por João Leitão, de Tinalhas.

Em publicação posterior, aqui no blogue, referia a existência em Portugal de antigos cavalos listados ou zebrados, espécie ainda sobrevivente através do cavalo Sorraia, de que restam poucos exemplares.


Sorraia é um tipo de cavalo de origem portuguesa, redescoberta em 1920 por Ruy d'Andrade e cujos indícios remetem para a zona de confluência entre as ribeiras de Sor e da Raia (daí o seu nome), charneca de Coruche, onde haveria uma extensa população, popular entre criadores de gado para trabalhos do campo. Admite-se que estes cavalos no estado selvagem tenham sido conhecidos em Portugal por "zebro".

Continuar a ler em: https://www.wikiwand.com/pt/Sorraia

O livro “Feras e Homens” fala da caça ao zebro, na época medieval, um cavalo selvagem então muito abundante do nosso país. E conta que os portugueses, nos séculos XV e XVI, ao verem em África um animal também listado como o zebro, lhe chamaram zebra, nome e grafia por que passou a ser designado em todo o mundo.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

O nosso falar

 Recebi de um estudante do Porto o comentário que apresento no final desta publicação, por isso achei interessante partilhá-lo convosco e recordar a questão de se dizer ganal ou ganau.


Publicação de 1 de abril de 2020:

A minha mulher insistiu comigo para que substituísse a palavra ganal da publicação anterior por ganau.

Eu teimei, porque ela não está dentro do espírito da coisa, mas fiquei na dúvida.

Os dicionários online nada dizem sobre ganal, mas informam que ganau é um piolho, um chato, um conjunto de aves de capoeira ou um conjunto de crianças turbulentas.

E que ganau vem do castelhano ganado, que significa gado, enxame e conjunto de pessoas. Já estamos mais próximos do meu ganal!

Na minha infância, os meus pais sempre se referiram aos nossos animais domésticos como o ganal. Ou diriam ganau e eu percebi ganal? Talvez isso tenha acontecido, com os nossos antepassados, há muitos anos atrás, pois tentem dizer em voz alta as duas palavras e verão que elas de facto soam parecido.

O que me dizem? No nosso falar, é ganau ou ganal?


Comentário 1

Anônimo  M. L. Ferreira disse...

Não é um termo muito utilizado atualmente (só o ouvi ao Zé Pasteleiro e ao João da Amália), mas é pena que se esteja a perder, à semelhança de tantos outros. Para mim também é ganal, pelo menos é o que ouço (acomodar o ganal), mas pode muito bem ser ganau, porque o som é de facto tão semelhante, que só um ouvido muito apurado é que consegue distingui-los. Não nos esqueçamos que estes termos eram usados num tempo em que a maio parte das pessoas não sabia ler e a oralidade era o principal veículo de transmissão das mensagens.
Mas consultei o “Pequeno dicionário de regionalismos, expressões idiomáticas e alcunhas” da Soalheira (organização do Joaquim E. de Oliveira), e “Como se fala na minha terra” (Gavião do Ródão) de Aníbal da Cunha Belo, e, por lá, o termo usado é ganau. Ganal pode ser uma especificidade nossa…

Comentário 2

Francisco Magueijo disse...

Ganau. no Violeiro

Comentário 3

José Barroso disse...

Para uma simples opinião, pegaria desde logo, na questão da confusão entre o som do "l" e do "u" finais (ganal ou ganau?); devo dizer que os brasileiros não só os confundem, como expressamente trocam o "l" pelo "u", embora isso se verifique apenas na linguagem falada e não já na escrita. Ouçam-nos! Eles dizem "Portugau" em vez de Portugal, "legau" por legal, etc.
A idéia que tenho acerca das palavras em questão, é exatamente a mesma que o ZT e a MLF. Sem dúvida, que sempre me pareceu ouvir dizer "ganal" e não "ganau": "Vou dar de comer ao ganal".
O certo é que "ganal", pelo que averiguei, não consta nos dicionários; e estes dizem que "ganau" é uma variedade de piolho. Porém, outras fontes afirmam que "ganau" é "um conjunto de aves de capoeira" ou "um conjunto de crianças barulhentas". Ora, nenhuma destas definições, incluindo a das aves, parece corresponder ao nosso termo "ganal". Já, do castelhano "ganado" (gado) vem, com certeza, a palavra portuguesa "ganadeiro", aquele que cria (ou guarda) gado; mas não "ganal" ou "ganau".
Cito, porém, um pequeno excerto de um texto de um blog da Estremadura espanhola:

"... tamién ties cantidá de frutas de cuasi toas las clasis, grandis jesas pa crial ganau...".

Mas, atenção, isto não é castelhano, mas sim um dialeto estremeño.
Sobre "ganal" nada descobri, pelo que talvez seja mesmo um termo nosso engendrado de sons próximos; mas deixo em aberta a hipótese de melhor perquisa.

Comentário 4

José Teodoro Prata disse...

O minha irmã Maria da Luz contou-me que "...ainda há pouco tempo uma aluna que tive do Sobral (terminou no ano passado o quarto ano), dizia muita vez a expressâo: "Fui com a minha avó acomodar o ganalo", ( referindo-se aos coelhos, galinhas, ovelhas) o que achei muito engraçado, pois não ouvia essa expressão desde pequena."

Comentário 5

Anônimo  André Almeida disse...

Boa tarde caro professor Teodoro

Hoje numa aula de Engenharia de Software 2 no ESTG do Politécnico do Porto o seu post foi de grande ajuda, visto que não conhecíamos o termo. Estamos bastante agradecidos por esta explicação.

Continuações
André Almeida
3º Ano, Engenharia Informática


José Teodoro Prata