quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia de todos os santos/halloween

Vêm aí o dia de todos os santos ou halloween, como se diz em inglês.
As nossas tradições desta época foram-nos trazidas pelos celtas, grupo de povos que habitaram a Europa, há cerca de 3000/2500 anos. Os Lusitanos eram seus descendentes. As tradições que nos deixaram foram as mesmas que deixaram na Inglaterra e Irlanda, as quais depois atravessaram o Atlântico e retornam agora pela televisão, na forma do halloween, que deixa as nossas crianças cheias de pena por não terem tradições iguais.
Em vez de me perder em explicações, vou contar uma história verdadeira.


Estávamos no Outono de 1974 e, na ala nova do Seminário do Tortosendo, logo à entrada, ficava o dormitório de quatro vicentinos: o Chico Barroso, o Zé Augusto, o Zé Teodoro e o Quim Trindade. Este dormia no segundo dormitório e os outros três logo à entrada.
Tínhamos um grande amigo da cidade que nos moía o juízo com marcas e modelos de carros, entre outras coisas do mundo urbano, a nós repletos de terra e de sol, como escreveu o Eugénio de Andrade, e mais das águas que corriam nas fontes e regadias da serra.
Aproximava-se o dia de todos os santos e resolvemos ensinar-lhe como era na nossa terra. O Quim foi à quinta e escolheu uma abóbora bem grande. Mas não era coisa que se levasse debaixo do braço, pela porta de entrada. Arranjámos um cordel com o comprimento da altura da estrada à janela e, comigo a puxar a abóbora atada pelo Quim, lá em baixo, ela foi trazida para os quartos, não sem uma descida vertiginosa a meio da subida, pela passagem do carro do nosso reitor.
A abóbora ficou aos cuidados do Quim, que lhe cortou uma tampa, tirou o miolo e abriu uma boca dentada. Lá dentro, a meio, uma vela ficou a aguardar pelo escuro da noite.
Deitámo-nos e no primeiro dormitório ficámos a conversar tranquilamente, já com as luzes apagadas. Pouco a pouco, a conversa foi indo para as histórias de bruxas e almas penadas, pela boca do Chico Barroso. Eu e o Zé Augusto compúnhamos o ramo, ajuda fraca e até dispensável face à mestria do Chico nas artes do falar, apenas útil para reforçar a credibilidade do que ele contava. Só me lembrei da história do lobo branco, que aparecera, nas Tapadas, a um filho do tio Miguel Rodrigues e a tia Ana Prata. Ficou com os cabelos em pé, de tão arrepiado! E quando contei ao Chico que, à noite, da Tapada, víamos umas luzes na serra onde ele morava, em vez de explicar que era ele e o pai à cata do texugo que lhes comia o milho, falou de espíritos do outro mundo.
O ambiente foi-se carregando e no dormitório ao lado já o Quim trepara com dois amigos para a arrecadação das malas. Por entre as nossas histórias, começaram a ouvir-se uns barulhos e gemidos vindos do alto da arrecadação, fechada com uma porta. E a narrativa fantasmagórica passou da Gardunha para o nosso dormitório, com epicentro na arrecadação onde ninguém ia.
Os gemidos tornaram-se gritos e correrias, com malas atiradas pelo ar. Ambiente aterrador. Depois o silêncio, temperado com as nossas interpretações do que poderia ser: espíritos, almas do outro mundo, com certeza.
A tensão já estava no limite e os gritos e ruídos ainda redobraram de intensidade. No quarto, pairava um sentimento de terror total! De repente, no escuro da porta aberta da arrecadação, apareceu uma caveira iluminada a falar com uma voz cava, acompanhada de ruídos estranhos. O nosso amigo teve um ataque de pânico, começou a gritar e nós saltámos das camas, aflitos, a acender as luzes e a acalmá-lo, pois suava frio e tremia como varas verdes. Um de nós foi ao outro quarto dizer aos colegas que a brincadeira acabara e todos corremos a remediar o mal que tínhamos feito.



Passados estes anos, surpreende-me que as tradições ancestrais desta quadra estivessem tão vivas nas nossas cabeças, como que inscritas nos nossos genes.
Mandem as vossas crianças pedir o santorinho, mas que não digam doçuras e travessuras. Quanto às almas do outro mundo, não vale a pena assustar a criançada. Os nossos santos que descansem em paz.

3 comentários:

Francisco disse...

Caro José é com gosto uma vez mais que deixo o meu comentário.

Onde actualmente vivo, a tradicao do dia das bruxas vive-s com enorme itensidade, para ter uma ideia, existem superficies comerciais dedicadas somente ao comercio de artefactos e disfarces para a ocasiao, falamos desde insuflaveis gigantes de gatos pretos, de monstros de esqueletos, realmente algo magnifico, tal como nos Estados Unidos, e uma tradicao muito enraizada.

Devo dizer que nste momento devido a Passagem do Furacao RINA exactamente onde vivo, nao se ira celebrar o dia das bruxas neste estado, pois deste ontem e até domingo tudo o que é centros comerciais, lojas escolas, servicos, esta tudo fechado, estamos em alerta Laranja, talvez a cor do alerta seja util as celebracoes da epoca.

Tive o cuidado de divulgar no meu blog tal situacao, que ja mereceu alguns telefonemas bem cedo para saberem se eu estava bem.

Aqui tambem a aprtir de hoje e ate ao dia 01 de Novembro celebra-se o dia dos mortos, ao qual as familias tratam de fazer as oferendas aos seus entes queridos,as oferendas geralmente sao coisas que os entes falecidos gostavam muito,poe se comida bebida music, diz-se que nesses dias as almas estao junto das familias nas suas casas, e uma forma de recordar quem ja partiu com alegria, sao culturas diferentes da cultura Portuguesa.

O Portugues por regra adapta-se bem as condicoes e as culturas que enfrenta.

Despeco me com um abraco e mtas saudacoes a todos seguidores deste blogue.

Peco desculpa pela acentuacao,e pontuacao, nao tem haver com nenhum acordo ortografico tem mais a haver com o facto de estar a escrever num computador com teclado para a america latina, os acentos aqui sao mudos.

Cpts

Francisco

Anônimo disse...

A nossa cabeça é uma coisa fantástica. Lembro-me como se fosse hoje. Aquele entusiasmo do Quim e o pavor do CB. Tão grande e tão maricas.
Na verdade, já não me lembrava de como a abóbora tinha chegado lá tão alto. Trabalho de equipe esta visto.
Francisco Barroso

Anônimo disse...

Que relato delicioso. Eu já tenho uma abobora guardada para fazer com as minhas crianças.
Margarida Gramunha