sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Fonte Velha

Por Francisco Barroso

Já me apercebi que os Vicentinos que vivem fora e que gostam da sua terra têm hoje mais uma forma de matar saudades. Visitar o Dos Enxidros. Já o sabia quanto ao pessoal de Lisboa, onde o autor tem imensa família e amigos, mas confirmei, este Verão, o mesmo hábito no pessoal que vive em França.
É realmente bom visitar este blog. Saber as novidades e conhecer mais da sua história através dos textos que o Zé Teodoro nos oferece depois de horas imensas de investigação, em livros antigos que nós nem sequer conseguiríamos decifrar. Obrigado, Zé. Mas, o coração aquece mesmo é quando lá chegamos, depois de mais uma longa ausência fora.
Eu ainda sou do tempo em o pessoal de Lisboa ia à Senhora da Orada de camioneta e chegavam a cantar: Ó meu S. Vivente amado, tu és banhado pela ribeira, tu és a terra mais linda, p’ra mim tu és a primeira. Esta é a prova de que o aquecimento do coração é intemporal. Voltar à terra que nos gerou é sempre algo de reconfortante, de extraordinário.
Posto isto, no qual certamente todos estamos de acordo, há alguns factores que começam a mostrar-se preocupantes. O primeiro é a acelerada perda de população. Todos os anos há uns quantos que partem e nunca mais regressam do sítio para onde vão. As ruas cada ano mais desertas e cada vez mais casas fechadas. Os que estão fora e sonham regressar aquando da reforma vêm essa hipótese cada vez mais longínqua, com o provável aumento dos anos de trabalho para a obter. Chega a ser desolador quando vou à azeitona e às oito da noite não se vê vivalma nas ruas e os cafés desertos, sem ninguém para dois dedos de conversa.
O outro factor já é antigo. É o estado deprimido dum dos locais nobres e mais bonitos da Vila: a Fonte Velha. Uma terra como a nossa, com uma das praças medievais mais bonitas que conheço, bem arranjada e conservada e depois aquela fonte, meu Deus, que quase mete medo. Um local que é uma das suas principais portas de entrada, onde tantos vizinhos do Sobral, Ninho, Tinalhas e de C. Branco vêm no Verão buscar água e que era para estar num brinco, mas não sei porquê, nunca ninguém se preocupou com ela.
Porventura esquecemo-nos que a Fonte Velha é um lugar mágico, que não nos mata só a sede. Foi ali que os nossos pais sonharam o amor. Foi ali que se começaram tantos namoros. Era ali que se esperava pelas raparigas à tardinha, quando iam com o cântaro buscar água fresca para o jantar. Ali se trocaram (e trocam) tantos beijos, tantos afectos…é por isso que é mágico, porque é o ponto de tantos encontros.
Fiquei deveras feliz quando soube que a Banda vai fazer ali a sua sede e recuperar as casas a seu lado. Com a do Zé Passaraço que está um brinco, um dos lados fica arrumado.
Quanto ao outro, o barracão do Quintalinho já devia ter sido demolido há vários anos, porque não faz qualquer sentido manter-se, depois da Casa do Povo construída. A casa paroquial, que é da comunidade e não do Pároco, é outra vergonha nossa, porque nunca a conseguimos acabar. Nunca se pintou e ficou com uma varanda de costaneiros que acabou por cair de podre ainda há pouco tempo. E foi por falta de dinheiro? Não foi. Foi por falta de brio, de vaidade daquilo que é nosso.
Já agora acabo o projecto. O logradouro da casa paroquial, que mais parece um estaleiro deve ser arranjado. Um pequeno jardim fica muito caro? A Junta podia cuidar dele, porque é ela quem em primeiro lugar deve zelar pelos interesses colectivos. As flores e algumas árvores podiam ser oferecidas. A água para o regar não falta. Os contentores do lixo deviam estar num sítio menos visível e menos bonito.
Parece que o que falta mesmo é gosto e generosidade. Mas generosidade como? Se a Vila está cheia de gente generosa? Vejam a quantidade enorme de pessoas dedicadas à causa pública. Não sabem quem são? Eu digo. Todos os músicos da Filarmónica e a sua Direcção. O seu presidente, por exemplo, poderia estar a gozar a sua magnífica reforma a namorar a sua Daniela. Quanto do seu tempo dá à causa? Digo o mesmo das pessoas envolvidas no Rancho, novas e velhas. Querem um exemplo de grande dedicação à comunidade? O meu amigo Zé Taleta. Tem o seu emprego, trabalha a sua horta, faz os seus treinos com a regularidade de um relógio, levando o nome de S. Vicente a todas as corridas em que entra, andou anos e anos na Banda, e agora no Rancho. O João Paulino quanto do seu tempo deu e dá ao GEGA e o Zé Teodoro quanto do seu tempo nos dá para manter o seu (nosso) blog?
O meu muito obrigado a todos vós que ajudais a manter a Vila em pé. Sobre a recuperação da fonte é bom que pensemos nisso, ou como diria o outro: “era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”. Não acham?
Lisboa, 15 de Outubro de 2011.





2 comentários:

Francisco disse...

Ola
O blogue tambem e seguido por mim desde o Mexico,onde ca vivo e tenho a minha vida.

Sao Vicente da Beira e parte de mim, pois praticamente fui criado pelos meus ja falecidos tios que eram Vicentinos.

Apertam as saudades dos tempos de meninice em que as ferias de verao eram pasadas por completo na vila,longe vao os tempos das Festas de Verao ,em que de Sexta,ate quarta era quase siempre directas atras de directas, estava a verbena para nos abastecer de boa comida e bebida, a famosa arriada dos Bombos de silvares.

Sao Vicente e algo que faz parte da historia,o pongo de partida ou de encontro era siempre a fonte velha, que servia de boa disculpa para uma caminhada e um cigarro escondido.

Longe vao os tempos que hacia grandes comissoes de Festas que conseguiam contractar algumas bandas e artistas bem conhecidos.
Talvez assim a que mais recordo os Ferro e fogo.

Sem duvida uma Terra muito especial.

Bom trabalho do blogue

Deixo aquí muitos cumprimentos.

Dedico este post comentario
Aos meus tios
Jaime Lino Lopes
María de Jesus Lopes

José Teodoro Prata disse...

1. Sabe bem estar deste lado dos comentadores. Obrigado ao Chico, pela colaboração, pois esse era um dos objetivos iniciais deste blogue.
2. A questão do património da Igreja, a nossa «galinha dos ovos de ouro» como há tempos lhe chamei, é muito complexa.
Por um lado, a comunidade teve até finais dos anos 60 a ideia pura e ingénua de que tudo o que era da Igreja era da comunidade. De facto assim não é aq persistência dessa ideia até aos dias de hoje deve-se ao facto de, durante séculos, o sagrado e o profano (Igreja e Estado) terem estado estreitamente unidos, além de que todos os membros da comunidade eram católicos praticantes.
Na nossa terra, cerca de 1970, isso perdeu-se, talvez mais fruto de uma evolução natural da sociedade do que por culpa deste ou daquele, embora todos os protagonistas tenham influenciado o sentido da evolução que ocorreu.
E esta foi a separação entre a Igreja e a Junta de Freguesia, um separar de águas, em que cada poder passou tratar apenas dos assuntos da sua esfera, colaborando a comunidade com uns e outros, conforme os casos. O exemplo mais simples de entender foi a passagem da manutenção (de séculos) da torre da Igreja da Junta para a Igreja, cerca de 1980.
E assim se chegou à quase indiferença da comunidade face à necessidade de acabar a Casa Paroquial e de qualificar o espaço envolvente. E assim se manteve fechado o Museu da Misericórdia, que na sua fundação previa uma gestão conjunta da Igreja e da Junta. E até se nota essa dificuldade de articulação dos dois poderes na gestão (na simples manutenção da limpeza) do espaço da Senhora da Orada.
Esta problemática não é fácil de gerir, mas creio que só será ultrapassada com grande desejo de colaboração entre as partes e o empenho de todos nós, não só para criticar (é muito importante, numa primeira fase), mas sobretudo para fazer (na fase seguinte).