quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O tempo dos poetas

Encontrei esta música que já não ouvia há muitos anos. 
Brutal! 
Inquietante como os tempos que vivemos.

Paz, Poeta e Pombas 
A Paz viajou em busca do silêncio 
Sitiou Berlim 
Abdicou em Londres 
A Paz saltou dos olhos do poeta
Atacada de psicose maníaco-depressiva

Foi nessa altura que as pombas 
Solicitaram nas agências as tarifas 
Mas não viram mais o poeta 
Que gozava na Suíça 
Duma licença graciosa

A Paz saiu aos saltos para a rua 
Comeu mostarda
Bebeu sangria 
A Paz sentou-se em cima duma grua 
Atacada de astenia

Foi nessa altura que as pombas 
Solicitaram nas agências as tarifas 
Mas não viram mais o poeta 
Que gozava na Suíça 
Duma licença graciosa 

 José Afonso, 1973
Do album "Venham mais cinco"
(Acompanhado por Mário Viegas)





Um comentário:

Anônimo disse...

Estás sempre a surpreender-nos! Desta vez trazendo à memória duas das referências da cultura contemporânea portuguesa que, infelizmente partiram quando ainda esperávamos tanto deles. O Zeca Afonso, comecei a ouvi-lo no início dos anos setenta no Rádio Clube Português. Nessa altura, à semelhança da maior parte das pessoas, principalmente as que como eu tinham nascido e crescido neste interior sempre esquecido, não tinha grande consciência política. No entanto, quando ouvia as canções do Zeca, para além do prazer emocional que me despertavam, ficava sempre com a sensação de que o mundo devia ser maior do que a realidade que queriam impingir-nos: para além deste “jardim à beira mar plantado” (às vezes é mais à beira mar parado) devia haver um mundo imenso para descobrir.
Quanto ao Mário Viegas, vi-o em alguns filmes dos mais importantes realizadores portugueses da altura; mas do que mais gostava nele era a maneira inconfundível como declamava. A força, e por vezes também a ironia, com que dizia os poemas ajudou a voar mais alto as palavras de alguns dos maiores poetas nacionais (e não só). Que pena ter partido tão cedo, surpreendendo a maior parte de nós!
Parabéns pela descoberta e obrigada por a teres partilhado connosco!
M. L. Ferreira

P.S. Não conhecia esta versão cantada pelo Zeca e declamada pelo Mário Viegas. Concordo contigo quando falas na inquietação do tempo que vivemos, à semelhança da que se vivia na altura. São os ciclos da História que conheces bem, mas de que já falava o teu pai, na sabedoria das pessoas que já viveram muito, quando te dizia que o mundo evolui de forma circular, com períodos bons e outros maus…