quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Endireita da Paradanta

            “Na primeira região da Beira Baixa que conheci não havia ali à roda curandeiros: apenas um antigo servente prestava serviços de enfermagem, sem consequências, aos seus clientes da barbearia. Falava-se muito, porém, no «Endireita da Paradanta». Era um ferreiro de dedos sensíveis e ágeis, que ajeitava com perícia ossos deslocados: os doentes chegavam em carroças, tolhidos, e o homem despedia-os pelo seu pé. Nenhum dos médicos da área conseguiu jamais gabar-se de ter observado uma fractura. Acontecia chegarem doentes ao hospital de Castelo Branco, resolvidos a correr o risco de uma assistência encartada, e aparecer um desconhecido amável, aconselhando uma retirada pela estrada da Paradanta. Às vezes eram agentes de motoristas, a quem convinha o frete rendoso.”

Fernando Namora, Retalhos da vida de um médico, Primeira Série, Publicações Europa-América, 26.ª edição, Lisboa, 2000, pp. 126 e 127 (subcapítulo VI – Mais Curandeiros).

Nota: O médico Fernando Namora trabalhou na região de Castelo Branco (Tinalhas e C. Branco) e em Monsanto, na década de 1950. Da sua passagem por Tinalhas escreveu “A Casa da Malta”, uma casa em que se abrigavam os viajantes e que se situava onde atualmente existe o Café Ginja, junto à Igreja. Neste texto, Fernando Namora parece referir-se ao período em que trabalhou em Tinalhas.

2 comentários:

Ernesto Hipólito disse...

Ainda existem familiares deste senhor na Paradanta.Estive a falar com um deles hà pouco tempo que me contou algumas situações em que se demonstra o seu caracter forte do qual eu já tinha ouvido falar.

Anônimo disse...

Este senhor era meu tio avô e chamava-se João. Teve uma única filha, já falecida e três netos que vivem nas proximidades. Não era ferreiro e, sim, tinha um carácter muito vincado.