sábado, 24 de maio de 2014

Acampamento na Orada

Tinha eu saído do Seminário há algum tempo, quando o Zé Teodoro se lembrou de vir com alguns colegas acampar à Senhora da Orada. Escolheu a altura da festa que, no meu modesto entender, é quando a natureza com as suas cores e os seus cheiros está no seu esplendor.
Armaram a tenda na margem de lá do ribeiro do Rabaçal e, como era sábado, e a festa era só no domingo, os jovens escuteiros desceram à Vila para visitar as famílias e conviver com os amigos que já cá se encontravam para a  peregrinação.
Havia na altura um grupo de amigos composto por ex seminaristas e outros estudantes que estavam cá em  S. Vicente, ou porque cá viviam ou porque cá vinham frequentemente. Eram uns "gandulos".
Quando souberam que aqueles meninos tinham acampado na Senhora da Orada, pensaram logo qual seria a melhor maneira de lhes estragar o arranjinho.
Como a noite era deles, deram tempo a que os rapazes regressassem ao acampamento. Lembro-me que um dos  "gandulos" era o Zé Miguel Teodoro; dos outros já não tenho a certeza.
Lá vamos nós a caminho da Senhora da Orada assaltar o acampamento, assalto esse que se resumiu a um grande estardalhaço e nada mais. Tudo acabou com assaltantes e escuteiros junto ao fogo a comer umas chouriças.
Pensávamos nós (parvinhos) que tudo tinha acabado, mas a verdadeira partida estava só a começar.
Quando regressávamos a São Vicente, já altas horas, numa curva do caminho de  que nunca mais me esqueci,  encontrámos uma mochila cheia de mantimentos que logo percebemos ser dos rapazes. Achámos  estranho  aquele achado, mas, como já estávamos longe, pensámos recolher a mochila com ideia de a devolver no dia seguinte. Trouxe-a para minha casa.
No dia seguinte, dia da festa, manhã cedo,  bate-me o Zé Teodoro à porta, com cara de poucos amigos, a exigir-me a mochila. Tentei explicar o que se tinha passado, mas ele, zangado, virou-me as costas e foi-se embora.
Tive que reunir os amigos e ir ao acampamento onde tive de empenhar a minha palavra de escuta para eles acreditarem que estávamos inocentes.
Mais tarde, viemos a saber que o sacanita do Manel Machana e alguns amigos se tinham adiantado a nós e aos rapazes e eles sim tinham assaltado o acampamento, levando a mochila.
Quando a encontrámos naquela noite, estavam eles escondidos no leirão por cima do caminho, a espreitar os parolos.

Há vários ditados que se podem aplicar a este caso:

De noite todos os gatos são pardos.
A noite até o Diabo a temeu.
O último a rir é o que ri melhor.
Etc.  etc.  etc.


E. H.

Um comentário:

José Teodoro Prata disse...

Ernesto:
Já mal me lembrava deste acontecimento.
Nós não éramos escuteiros. O meu amigo Carlos Bizarro é que era e trouxe o material dos escuteiros, para acamparmos.
Para mim, foi um monte de trabalhos:
1. A noite foi uma arrelia, com o vosso "assalto" à hora de dormir (ainda hoje é para mim uma hora sagrada) e depois o desaparecimento da mochila. Eu sentia uma enorme pressão, pois era o anfitrião e queria receber bem os meus amigos.
Recordo-me de, à hora de dormir, estar tão arreliado que pensei para comigo que não importava ter os pés fora da tenda (era pequena), pois se uma raposa me mordesse, eu acordaria.
2. O outro amigo, o José Bernardo, apanhou tamanha bebedeira que, à hora da abalada, na Praça, as filhas da senhora Céu Matias, a Teresinha e a Mila, tiveram de ir fazer café para ele o beber sem açúcar, a ver se cortava o álcool, para o Pe. Jerónimo não dar por nada, na viagem de regresso. O Zé Bernardo ainda disparatou, mas o Chico Barroso disfarçou e ele depois adormeceu até ao Tortosendo.
Tempos de juventude!