domingo, 1 de junho de 2014

Na minha terra...

TEMPOS QUE JÁ LÁ VÃO

Na minha terra Natal
Antigamente
Havia movimento
Havia mais gente
Antigamente
Na minha terra Natal
Havia muitas crianças
Que cantavam, pulavam alegremente
Na minha terra Natal
Havia muita gente
Antigamente
Na minha terra Natal
As pessoas trabalhavam
No campo, ou eram artesãos
Belos trabalhos saiam de suas mãos
Com suas canções alegravam
Os seus e nossos corações
Na minha terra Natal
Ainda a alva estava dormitando
O resineiro já ia a caminho do pinhal
Para extrair a resina ao pinheiro e cantando
Amava a floresta, não lhe fazia mal
Em todas as ruas havia um sapateiro
Sentado no tropeço a sola batia
Cortava, recortava e assim todo o dia
Fivela na mão transformava o cabedal
Nosso amigo sapateiro
Com as mãos calejadas
Batia, batia...
E eis umas botas cardadas
Em certas ruas um rumor se ouvia
Era a máquina de costura
O alfaiate cosia
Cortava o pano para as calças. para o casaco
Trabalhava noite e dia
De vez em quando fazia um fato macaco
E o alfaiate cortava
As medidas tirava
Suas mãos faziam maravilhas
Blusas, saias e camisas
O alfaiate costurava
Fazia aquilo que gostava
No largo principal
Estavam os latoeiros
Moldavam a folha de Flandres
Regadores, cântaros eram feitos no local
Eram uns tipos porreiros
Um deles era o "matador oficial"
Dos porcos da povoação
No tempo da matação
Era ele que matava o animal
Havia os fornos do povo
Que eram geridos pela forneira
Estavam sempre cheios como um ovo
O marido acendia a fogueira
Os pães eram sinalizados
Para as donas os conhecerem
Com uma caruma eram marcados
Mais uma tabuleirada
Para os familiares comerem
Havia muitos pedreiros
Que a pedra transformavam
Também havia carpinteiros
Que faziam janelas e portas
As suas profissões amavam
Também havia os ferreiros
Que o ferro moldavam
Os ferradores ferravam
Eram fortes e nada "pringueiros"
Havia muitas tabernas
Geridas pelos taberneiros
Serviam vinho ao copo
Às vezes os fregueses já não podiam com as pernas
Também havia muitos barbeiros
Os cabelos cortavam
As barbas escanhoavam
Eram uns tipos porreiros
Subia à torre o sacristão
Para o sino tocar
Punha o povo a rezar
Dlim,dlão; dlim, dlão
Havia muitas adegas com grandes tonéis
Que guardavam bom vinho
O litro era vendido a dez réis
Também havia quem cultivasse o linho
As mulheres iam para a ribeira
Lavar a roupa suja
Era posta a corar 
Na erva da lameira
Depois de ensaboada
Com água corrente era lavada
Havia muitos ganhões
Que trabalhavam para os lavradores
Muitos eram patrões
Mas todos pegavam na charrua
Desfaziam os torrões
Lavravam a terra para as plantações
No carro transportavam de tudo os ganhões
Havia grandes cabradas
Por aqueles montes fora
Também havia grandes ovelhadas
Chocalhando a toda a hora
E o pastor
Nas noites frias
Embrulhava-se na sua manta
Era assim todos os dias
Na praça a ganapada
Na hora do recreio corria
Na escola levava-se reguada
Era assim na freguesia
Ao domingo todo o povo ia à igreja
Ouvir a palavra de Jesus
Que morreu por nós na cruz
Assim seja, assim seja...
Hoje os tempos outros são
Muito poucos os moradores
A morar na povoação
As ruas estão desertas
Até dói o coração

Zé da Villa

6 comentários:

Ernesto Hipólito disse...

Os anos cinquenta da nossa Vila em verso.
Há dias perguntei a um amigo quem seria o "Zé da Villa". Não me soube responder. É que ele tem um certo jeito para versalhar. Tem todo o direito de ser o " Zé da Villa " mas quem será?.
Lembro-me de um sacanita que no "O Vicentino" me atazanava o juízo sendo eu na altura o p. da junta.
Dava pelo nome de JoB e só quando ele me disse é que eu abri os olhos. Era o Zé Barroso o atazanador. O dono do Rabomole!

E.H.

Anônimo disse...

Ernesto, desta vez não sou eu. Não tenho jeito para poeta popular. Antes deste teu comentário, já me tinha perguntado se não serias tu. E, se reparares, os teus textos têm aparecido escritos em rectângulos brancos no fundo castanho do blogue, como os versos do … Zé da Villa!
Mas também já me lembrei se não seria o Zé Manel dos Santos (Mosca, para saberem quem é). Ele é que tem um acervo de versos deste género sobre S. Vicente, se bem que não os queira publicar com o nome… próprio!
Ainda há dias vi aqui uns versos inspirados na vida militar, assinados pelo Zé Bernardino e achei interessante.
Para resumir: já tenho dito ao Zé Teodoro que, afinal, o blogue também poderia servir de oficina da escrita, porque julgo que esta diversidade é que é importante. O Zé da Villa a fazer versos é como uma levada da regadia: leva muita água e refresca tudo à sua volta.

Abraço.

Zé Barroso

Anônimo disse...

O dono do Rabomole?! Então eu é que ando a bater à porta das casas do Violeiro; rua acima rua abaixo na Partida; às duas da manhã, às voltas de carro pela Vila e pelo Casal, e depois o Zé Barroso é que é o dono? Quando muito o padrinho, e é se lhe der uma boa prenda!...
Quanto ao autor destas memórias, também não tenho a certeza de quem seja (não é seguramente o estilo do ZB, nem na poesia nem na prosa), mas que nos pôs todos a olhar para a nossa terra de há muitos anos atrás, é verdade! Que pena que todas essas actividades de que fala já estejam quase só representadas nos museus (há dias, a caminho de Oleiros, vi que ainda se por lá colhe a resina) e que a maior parte dos dias as ruas estejam quase desertas. É verdade. Até dói o coração!

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Os retângulos brancos em fundo castanho são devidos ao texto vir por e-mail, sem ser mandado em ficheiro anexo.

Rua abaixo, rua acima, às duas da manhã, por terras do Violeiro e da Partida?
Queres raptar o Rabomole?
Eu já andava para perguntar por ele, mas não esperava uma notícia tão surpreendente!

Ernesto Hipólito disse...

Vocês andam impossíveis aqui no blog!.
Nem quis dizer que o Zé Barroso é o versejador, pois é evidente que não é ele, nem que ele era dono legal do Rabomole.
A menina Libânia já se esqueceu que me quis impingir o cão só porque eu disse que tinha os olhos bonitos. Agora já o quer todo para ela. É uma inconstante. Cá por mim, o melhor, se ela o encontrar, é cozinhá-lo no forno com batatas e acabar com esta invejice.
A sobremesa fica a meu cargo: " Cerejas da Dona ".
Bem-hajas cachopa.
Um abraço a todos.
E.H.

Anônimo disse...

Ora vivam ! Tantos comentários! Por aqui está tudo em cima! Ainda bem!
Como dizia há dias o Ernesto: a Libânia é um coração mole; também para as boas causas.
Continuo intrigado com o cão. Por um lado, 'cola-se' tão rapidamente a uma pessoa, que parece não ter dono; por outro, não tem aspeto de faminto. Mas a Libânia deve ter mais informação sobre o assunto. O que importava era que ele encontrasse o/um lar. Esperamos que tenhas êxito!

Já percebi essa do textos enviados a granel, ó Zé Teodoro! Podia ser um indício...

Abraço.

ZB.