quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Pepe e Maria



Há dias, à guisa de desafio, pus no facebook uma canção do Paco Bandeira com o título “ Pepe Garcia Moreno “. Por baixo fiz o seguinte comentário: Não fora a violência doméstica  e tínhamos aqui um grande homem.
Esta canção, quase toda falada, conta em castelhano a vida dos ciganos e em particular a de Pepe e Maria. Sempre adorei esta canção e a ideia era ver quem gostava e quem comentava a canção e o autor.
Ninguém se manifestou!
Começaram então a surgir na minha mente várias perguntas:
Será por não compreenderem castelhano e não perceberem?
Será por não gostarem deste género de música?
Será por não gostarem do autor?
Será por não gostarem do autor pelos atos de violência doméstica que ele praticou?
Será que a obra não é boa?
Será que eu estou ultrapassado?
Será que se eu tivesse posto  uma canção pimba do  Tony Carreira responderiam à carreira?
Será que estou bom da cabeça em meter-me nestas empreitadas? Esta foi a última e talvez a mais lógica das perguntas que me acudiram.
No caso do Paco Bandeira, não se poderá dizer “morre o homem fica a fama”, porque a fama foi apagada pelos maus atos que ele praticou. E a obra? Não sendo um clássico, muito longe disso, faz parte do nosso ideário e grande parte da sua obra é de intervenção com grande relevo no pós vinte e cinco de Abril.
Amigos, sempre adorei os comentários dos meus ilustrados colegas do blogue “Dos Enxidros”.
Seria giro que vocês, depois de ouvirem (duas vezes) a canção que o Zé Teodoro muito generosamente vai colar a este texto (porque eu não tenho jeito), dissessem da vossa justiça sobre a canção, o autor, a violência doméstica e a fama.

E.H.

5 comentários:

José Teodoro Prata disse...

1. Estás a ficar velho: andas a ouvir música de há 40 anos e queres que a malta reaja. Por outro lado, nem todos estivemos em Vendas Novas, em 74-75, e por isso escapa-nos muito do Alentejo e arredores. Quando te ouço, e ao Chico Barroso, concluo sempre que nos anos 70 e 80 eu não percebia nada de música (ainda hoje não percebo), além de trautear trechos de algumas canções de intervenção.
2. A música é de fora deste tempo, desconhecida (para muitos como eu), embora melodiosa, em espanhol (dá trabalho a perceber e estamos no tempo da pastilha elástica - consumo rápido). Poucos se dão ao trabalho de a tentar saborear, a ponto de se capacitarem a responder-te.
3. E é uma canção sobre ciganos, uns chatos que não se adaptam à nossa maneira de viver, que falam alto, sem maneiras, e se juntam aos magotes, sem respeito pelos outros. E muitos cometem roubos. Queremos lá saber se os maiores ladrões de Portugal são algumas das pessoas mais conceituadas do nosso país e os maiores roubos se cometem na esfera da alta finança! Com os ciganos é que não perdemos o tempo de uma canção...
4. O Paco Bandeira é autor comprovado de violência doméstica e só isso leva muita gente a nem tentar. A História está cheia de génios que foram intratáveis, no seu tempo, e então de vida familiar nem se fala. Se fica a fama depois do homem? A deles ficou, como ficará a beleza de algumas canções do Paco. Por exemplo, o realizador Roman Polanski fugiu dos EUA, por ter violado uma menina de 13 anos. Mas esse ato não apaga a importância da sua cinematografia, nomeadamente do filme O Pianista. O nosso Santo António não promoveu verdadeiras matanças de cristãos no sul de França, só porque discordavam de algumas orientações do papa de Roma, e não foi logo santificado e agora é o santo mais ternurento da Cristandade?
5. Claro que não estás bom da cabeça ao meteres-te e nos meteres nestas empreitadas. Mas essa é a nossa sorte. Sem ti, qualquer dia estávamos a olhar uns para os outros, sem nada para dizer (Francisco Barroso).

Anônimo disse...

Já tive que cortar metade do comentário porque só são aceites 4096 caracteres! Por isso, não sei se o que ficou tem cabeça tronco e membros!...
...
A canção do Paco Bandeira é interessante! O belo costuma ser duradouro e o muito belo, intemporal! É duvidoso que a música do Paco Bandeira consiga galgar séculos como as obras dos grandes compositores, mas marca, pelo menos, algumas décadas.
Indo agora para a vaca fria (que era sagrada mas morreu como acontece com todos pos seres vivos e arrefeceu!), vocês devem recordar-se daquele episódio da regra judaica para a infidelidade feminina (friso, feminina!): delapidação. Para quem não se recorde, a delapidação consistia no apedrejamento da vítima até á morte! É célebre a intervenção de Jesus Cristo num desses actos. Disse Ele: "Aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra!". E todos os presentes caíram em si e fizeram um exame de consciência que os levou a não condenar aquela mulher. Como se sabe, o Cristianismo trouxe uma muito maior humanização e em certo sentido até se opôs, frontalmente, à cultura judaica.
Mas o Cristianismo oficial ainda não apagou essa marca na sua forma.
Em Portugal, só depois do 25 de Abril/74 é que acabou a figura do "Chefe de Família" e a mulher também passou a ser herdeira legítima do cônjuge marido. Até aí, era apenas sua usufrutuária, sendo preterida pelos irmãos (e até pelos sobrinhos) do falecido.
Com uma história destas, o que é que esperavam?! O ZT já falou sobre as relações conflituosas de muitos dos grandes homens da história com as suas mulheres (ou mesmo com os outros elementos da comunidade em que se inseriam). Se formos a ver, os génios estarão, porventura, até, mais predispostos a essas convulsões porque o seu "desassossego" e "paixão" são muito maiores. E isso traz muita instabilidade que pode descambar nessas situações. Não incluo o Paco Bandeiras na classe dos génios. Mas isso também é irrelevante porque, nestas coisas, não há regra. Quer dizer, nem os génios são todos conflituosos, nem os que o não são, são todos gente pacífica.
Todo o homem (creio que já o disse aqui), é capaz das coisas mais nobres e das coisas mais hediondas. Imaginem quantos bons pais de família haverá, hoje, em Portugal, que cometeram crimes na guerra colonial. Por exemplo, cortando as cabeças do pretos para jogar futebol, à revelia das leis da guerra que, apesar de tudo, encerram muita dignidade. Quando se deu a rendição de Marcelo Caetano no Largo do Carmo no dia 25 de Abril/74 (arquivo da RTP), ouve-se a voz original do Salgueiro Maia, dirigindo-se ao povo de Lisboa: "Não haverá a menor sevícia sobre as pessoas que vão saír do Quartel (da GNR) porque quando o inimigo não tem condições de se bater, deve ser tratado com a maior urbanidade, segundo as leis de guerra."
Os grandes homens que juntam a essa grandeza a heroicidade e a honra, mesmo nas condições em que têm um maior poder (um poder de sujeição, físico ou físico-psiquíco) sobre outros (como também acontece no caso do homem e da mulher), recorrem ao que de mais nobre tem o ser humano, escolhendo a paz e não a violência.
Portanto, nem sempre é fácil, mas tudo se resume, afinal, a uma simples escolha!

E não há dúvida que o Paco Bandeira, sendo uma pessoa totalmente imputável e, portanto, estando no pleno uso das suas faculdades mentais - porque outra coisa não foi provada - escolheu, na verdade, ser um homem muito pequenino!
Abraços.
ZB.

Anônimo disse...

Amigo Ernesto, cá para mim, as razões porque ninguém reagiu à tua provocação no facebook, foram todas as que apontaste, mas principalmente a última. É que, de há uns tempos para cá, tu andas mesmo mal da cabeça!
Há muitos anos atrás, também gostei desse cantor. Achava-o mesmo um dos grandes intérpretes da música popular portuguesa; mas ultimamente até já quase me tinha esquecido que ele existia (mérito dos vários meios de comunicação social que deixaram de lhe dar voz), e vens tu agora ressuscitá-lo?!
Sobre violência doméstica? Dava pano para mangas que não cabem num comentário. Mas sempre digo que um dos indicadores sobre a evolução social do nosso país é o facto de determinadas atitudes e comportamentos que há relativamente pouco tempo eram desvalorizadas, quando não incentivadas, passarem a ser considerados crime. É o caso da violência doméstica (quer envolva mulheres, homens, crianças ou idosos), da pedofilia e do incesto.
É claro que tudo isto tem a ver com a fama e o poder do mais forte, seja a que nível for.

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Ao Ernesto que foi meu tutor no campo musical, um abraço especial.
Para quem gosta de flamenco, como eu, espetáculo.
Parece-me que a ideia do EH não era mais que divulgar mais uma perola da música portuguesa e vai daí...altas reflexões sobre a violência e a malvadez humana. Não andarão perturbados? Olhem que estamos na Quaresma...
FB

Anônimo disse...

Penso que os objectivos a que me propunha foram alcançados.
Saí um bocado arranhado e enxovalhado mas já estou habituado.
Bem hajas amigo Francisco, só tu é que me compreendes.
E.H.