sexta-feira, 1 de maio de 2020

Maio

Como um a vez ouvi na Antena 2: Ponham o volume no máximo, abram as janelas e desfrutem!


Do álbum Cantigas do Maio, com arranjos de José Mário Branco
José Teodoro Prata

3 comentários:

José Barroso disse...

O Zeca Afonso simboliza a visão romântica da política que, ao contrário do que se possa pensar, é tão ou mais importante que outra perspetiva qualquer: a do trabalho, a da educação, a da justiça, a da saúde da comunidade, etc. E a razão é simples: é que, sem aquela, estas não seriam possíveis.
De facto, para haver uma comunidade de pessoas com consciência disso, tem que haver, primeiro, o elemento unitivo que faz dela uma Nação. E depois é que vem o resto. Ora, o que é uma Nação? É um conjunto de pessoas com alma! Era impensável, por exemplo, o 1º. de Dezembro de 1640, se não houvesse uma Nação (pois, o país político estava na altura integrado no reino de Espanha). Portanto, se aquela época não tivesse tido os seus Zecas (fosse qual fosse a sua forma de expressão), tudo aquilo seria impossível. O Salgueiro Maia, sendo um operacional do 25abr74, foi, à sua maneira, também, um romântico. Depois de devolver ao povo a liberdade, desinteressou-se do poder e das honrarias. E o facto de ter morrido novo, tornou-o num ícone da Revolução; porque o romantismo também vem das tragédias!
As coisas que se passam no país comum são, sem dúvida, importantes: estabelecer o sistema político, proporcionar liberdade ao povo, garantir um vida digna a cada um, com educação, justiça etc, isso cabe à maioria concretizar.
Mas, às vezes, há um certo discurso interesseirista e ideológico que hostiliza estes homens. Bem, eles, provavelmente, por algumas ideias que deferam ou por atitudes que tomaram em determinada conjuntura, devem ter cometido erros. Pois, com certeza! Mas quem é que atira a primeira pedra?
Nós nunca iremos viver num país ideal, mas sim num país real de homens e mulheres. E o real é, e sempre será, algo de imperfeito. Nestas datas (25abr74 ou 1º. de maio) são, pois, datas para os lembrar.
Abraços, hã.
JB

M. L. Ferreira disse...

Nada a acrescentar às palavras do José Barroso, sempre sábias, mas, ainda a propósito do 25 de Abril, do 1º de Maio e do filme "A Herdade" que passou estes dias na RTP 1 (agora que revi o filme confirmei a ideia de que se perdeu muito pelo facto de os atores serem todos estranhos àquele contexto, o que não ajudou a credibilizar a história nem a esclarecer a História), recomendo a quem goste destas coisas, um documentário que descobri no sítio da Medeia Filmes, que se chama Torre Bela. Tenho ideia de já o ter passado na televisão há alguns anos, mas vale sempre a pena rever, até porque, em alguns aspetos, está ainda atualizado.

José Barroso disse...

De ‘Torre Bela’ só conhecia as imagens do assalto ao palácio. Acredito que aquelas pessoas eram sérias e qualquer delas condenaria um vulgar ladrão. Talvez, por isso, se possa minorar o ato, se se compreender o momento e a realidade que viviam os trabalhadores da época: estavam na praça à espera de serem contratados, como se vendessem a própria carne!
Depois do que disse a Libânia, estive a ver o filme (com as imagens um pouco aceleradas). A herdade tinha 1.700 ou 22.331 hectares? Haverá algo que não percebi?
Em todo o caso, isto não é uma obra de ficção, mas um documento histórico que sintetiza um momento da nossa revolução. E tem todos os ingredientes desse período. Tal como tentei dizer no meu primeiro comentário, revela também todas as contradições da época. Seja, o confronto do mundo virtual, romântico, com a realidade nua e crua. Basta ouvir um diálogo entre o responsável da cooperativa e um trabalhador, em que este diz que a enxada (ou a pá) é sua, enquanto o outro procura explicar-lhe que a agora não há já ‘o meu’, mas apenas ‘o nosso’. O filme faz-me lembrar a Comuna de Paris na época da Revolução Francesa que também durou um curto espaço de tempo, mas que tanto inspirou os autores marxistas.
A questão da posse da propriedade e o nosso interesse ou necessidade de bens é altamente complexo. Nós estabelecemos uma relação com as nossas coisas que é completamente diferente da relação que temos com as coisas dos outros (ou que não são exclusivamente nossas). As nossas coisas não são apenas coisas, são uma extensão de nós mesmos. E isso muda tudo!
Na União Soviética, a produção que se conseguia em pequenas áreas de terreno que o Estado concedia aos particulares em exclusividade, era, em termos proporcionais, muito superior à que se conseguia nos grandes Kolkozes e Sovkozes comuns. A verdadeira razão pela qual caiu aquele sistema foi o conflito entre o ‘eu’ e o ‘nós’.
Já gora também digo o seguinte: as cooperativas de produção, de que era grande partidário António Sérgio, embora importantes, parece que não têm conseguido dar resposta como forma de organização generalizada dos meios de produção. Por isso, com exceção de alguns países, no mundo tem vingado mais o capitalismo; mas o termo também nos pode sugerir algo de negativo. De facto, aqui entra um outro problema que continua a ser (e sempre será) discutido: o de saber se se deve admitir um capitalismo de alto nível, a todo o preço. Altamente produtivo, sim, mas com os problemas que tem criado à humanidade. Tenho alinhado pela moderação do consumo e pela reciclagem. A pegada humana não pode ser apagada, mas pode ser minorada.
No que respeita à propriedade, aceito mais ou menos a doutrina social da Igreja Católica que, talvez, ao contrário do que se pensa, defende que os bens devem ser distribuídos equitativa e solidariamente. Isto é o que está na doutrina, apesar de ao longo da história estar, muitas vezes, vergonhosamente, ao lados dos ricos e poderosos. Justificar esta tese levava-me muito longe e não há tempo. Só posso dizer que custa saber que muitas das herdades em Portugal continuem (penso eu), a ser votadas apenas a caçadas e a recreio dos donos e respetivos amigos, como acontece(u) com a ‘Torre Bela’. Sobre este assunto, apenas duas coisas para pensarmos um pouco: a lenha dos BALDIOS comunitários (defendidos por Aquilino Robeiro), foi o aquecimento dos pobres em muitas regiões rurais do país; a USUCAPIÃO (respeitados certos requisitos) é a desapropriação dos bens no caso de não serem devidamente rentabilizados.
Finalmente, é de lamentar a atitude do dono da herdade, o tal duque, que, além da arrogância manifestada, acabou mesmo por dizer, referindo-se àquelas pessoas (qual Antonieta de França!), ‘Não percebo o que é que eles querem’. Ora, sabe-se como as terras foram parar às mãos da nobreza! Apetecia, então, responder ao duque: ‘Eles não querem nada; apenas têm fome’!
Abraços, hã!
JB.