sexta-feira, 29 de maio de 2020

Infestantes

Um ou dois anos após o penúltimo grande incêndio na Gardunha, há cerca de 15-18 anos, espantei-me e até me maravilhei com as encostas da Senhora da Orada todas floridas graças às giestas amarelas que cobriam tudo. Nesse dia da romaria, tentei percorrer parte do percurso da estrada romana, mas desisti, porque o caminho estava quase tapado com giestas que cresciam nas margens e já eram mais altas que eu.
Não tive então consciência do que acontecera e só agora me apercebi. O que aconteceu na Senhora da Orada há anos, sucedeu agora, com este incêndio de 1917, no Cabeço do Pisco, no Carvalhal Redondo e até na barreira junto à Tapada de Dona Úrsula: as giestas amarelas tomaram conta de tudo, este ano têm um metro de altura e para o ano terão dois, abafando todos os outros matos e ervas e assim reduzindo a biodiversidade.


Noutros locais foram os eucaliptos e as mimoseiras. Quando vi as plantas a rebentarem após o incêndio, tive a ilusão de que tudo voltaria a ser como dantes, mas não será. As infestantes aproveitam estes momentos de fragilidade dos ecossistemas para monopolizarem todo o espaço. Muitas plantas começam a rarear e até desaparecem e consequentemente a fauna também empobrece.
Lá pela meia encosta, esta é a beleza do momento. Até quando? Em primeiro plano já se veem giestas de meio metro de altura que para o ano vão começar a abafar este mato florido.


Ambas as fotos foram tiradas no Cabeço do Pisco, junto ao cruzamento do caminho que vem do Caldeira para as Quintas com o outro que sobe da Vila para as Lameiras. A das giestas é do lado do poente e a dos matos branco e sargaço é do nascente.

José Teodoro Prata

3 comentários:

Anônimo disse...

Na verdade, a evolução é uma luta permanente e sem tréguas e a ambição desmedida não se verifica só com o ser humano é extensível às outras espécies e como o ZT nos mostra, verifica-se também no reino vegetal. Basta uma alteração com algum impacto nos eco-sistemas, como os tão frequentes incêndios, para estes se desequilibrarem. Nesta luta tremenda não vencem os mais fortes, mas os mais adaptáveis, como Darwin provou na origem das espécias cuja publicação tem pouco mais de 150 anos.
Já agora aviso, que aquela que anda por aí a circular que tudo vai ficar diferente no futuro é verdadeira. Para pior. Nós somos incapazes de nos controlar, incapazes de parar, mas a mãe terra pode tirar-nos a tchia em pouco tempo no esforço de equilibrar o eco-sistema global. Aliás, tivemos agora uma amostra com o covid. Temos que ter esperança...
Peço desculpa de vos maçar, mas soube bem desabafar.
abraço e cuidado com a pegada individual e não esqueçam a diversidade é uma riqueza maior, apesar do eucalipto tanto estar a dar. Viva o mato branco!!!! FB

José Barroso disse...

Tudo isto é a vida a ressurgir em força por todo o lado, alimentada por tanta água caíu este ano! Duas coisas - vegetação e chuva - que costumamos andar por aí a reclamar, especialmente no Alentejo. Mais: isto parece contradizer o sentido para onde aponta a ciência, que afirma que abaixo do Tejo (ou mesmo do Mondego), Portugal irá cada vez mais aproximar-se do clima do Norte de África. Para o mesmo cenário de seca caminhará aparentemente o próprio planeta, dizem. Embora nesse grande e lento processo - diz também a ciência - vai havendo muitos anos que parece contradizerem aquela previsão global. É isto que tem levado muitos cientistas a dizerem que o aquecimento geral não passa de uma tramóia orquestrada por quem ganha com a teoria da "Terra Verde", embora a maioria diga o inverso. Mas eu penso que não é difícil apercebermo-nos que a exaustão da Terra é uma realidade indesmentível e que é preciso acelerar a descarbonização da nossa vida onde for possível, pese embora a energia elétrica traga outro tipo de poluição (por ex. as baterias). Mas, para já, basta ver o que acontece em muitas das grandes cidades em que as pessoas têm que andar de máscara na sua vida diária normal e das dezenas de espécies animais que vão sendo extintas pela nossa má intervenção. É verdade que essa intervenção também pode ser boa, mas, comparada com a má, ainda é muito pouca. Por isso é que os infestantes - tema aqui trazido pelo ZT - só são infestantes do ponto de vista humano, não do ponto de vista exclusivamente naturalístico. De facto, o homem pode intervir, por exemplo, para destruir um silvado e construir um jardim ou uma horta, trocando apenas um tipo de vegetação por outra e conseguindo uma melhoria para si próprio. Isto também é válido para as limpezas, de que tanto se fala, para que a vegetação em excesso, depois de seca, não venha a ser o combustível para destruir a outra toda. Vejamos, todavia, o caso da savana. É um cenário diferente, mas rigorosamente natural, onde a vegetação é queimada através dos raios das trovoadas para que das suas cinzas nasça novo capim para sustentação dos herbívoros, cadeia alimantar de carnívoros e omnívoros. E no reino animal só se pode tocar no sentido da preservação. Senão, já tínhamos começado por aí a matar leões para que eles não caçassem algumas gazelas.
Discutimos o resto depois, na certeza de que a coisa não é fácil.
Abraços, hã.
JB

M. L. Ferreira disse...

Depois de ler os comentários anteriores, com os quais concordo completamente, ocorreu-me a ideia de como seria lindo o mundo antes de a espécie humana se ter desenvolvido e espalhado pela Terra. Mas depois lembrei-me dos passeios que dou frequentemente aqui à roda do Casal da Fraga e, em grande parte do percurso, vejo tanta variedade de plantas, principalmente flores de todas as cores e feitios, que podem ser ainda um sinal de esperança. Oxalá!