Maria Libânia Ferreira
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
terça-feira, 28 de março de 2023
sábado, 25 de março de 2023
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
José Joaquim dos Santos
José Joaquim dos Santos nasceu no Ninho do Açor, no dia 1 de outubro de 1893.
Era o filho mais velho de Joaquim dos Santos e de Rosa Maria. Terá sido nessa
localidade que viveu toda a sua infância e juventude.
Assentou praça em 8 de julho de 1913, como recrutado,
pertencendo ao contingente de 1913, a cargo do distrito de Castelo Branco.
Presente no Regimento de Infantaria 21, foi incorporado no 2.º batalhão em 12
de janeiro de 1914.
Ficou pronto da recruta em 30 de abril 1914 e regressou
ao Ninho do Açor.
Tomou parte na Escola de Recruta. Presente em
16 de setembro de 1915, foi licenciado novamente em 2 do mesmo mês.
Em 5 de maio de 1916 voltou a apresentar-se, para
marchar a caminho de Tancos, onde recebeu alguma instrução militar antes de
partir para França. Embarcou a 21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª
Companhia(?) do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era o soldado n.º
69, com placa de identidade n.º 9866 do C.E.P.
Terá seguido no primeiro comboio de navios de transporte
para França, saído do cais de Alcântara, que terá iniciado a viagem apenas a
23. Todavia, outras fontes indicam que foi somente a 30 de janeiro de 1917 que
zarparam do Tejo três vapores britânicos levando a bordo a 1.ª Brigada do CEP,
comandada pelo general Gomes da Costa. Estes navios chegaram ao porto de Brest
três dias depois. Em 8 de fevereiro chegaram à Flandres francesa e em 4 de abril
de 1917 as primeiras tropas portuguesas ficaram entrincheiradas.
No seu boletim individual do CEP constam as
seguintes informações:
a)
Punido
com 10 guardas, em 16 de fevereiro de 1917, por ter comparecido com meia hora
de atraso à chamada para o café e ração fria;
b)
Baixa
ao Hospital em 23 de abril; alta a 28 do mesmo mês;
c)
Aumentado
ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de 1918, onde ficou com
o número 616 porque, «encontrando-se com
prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente
do inimigo insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na
formatura, ameaçando de matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora
todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às
intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores»;
d)
Diligência
do Depósito Disciplinar 1 para o Tribunal de Guerra de Base, em 22 de fevereiro
de 1919, ficando à disposição do mesmo tribunal;
e)
Condenado
na pena de 7 anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo
de deportação militar.
f)
Foi repatriado com o Serviço de Adidos, a 5 de
junho de 1919. Desembarcou em Lisboa a 9 junho de 1919, e passou ao presídio militar
de Santarém, em 25 de julho, a fim de cumprir a pena que lhe foi aplicada. Foi
amnistiado pela Lei 1198 de 2 setembro de 1921 e libertado.
Durante o tempo que passou na prisão terá aprendido
a ler e escrever, uma vez que na sua folha de matrícula militar consta a
informação de que era analfabeto. Terá também aprendido a profissão de
alfaiate, embora, de acordo com os registos, demonstrasse pouca aptidão para o
ofício.
Licenciado em 11 de janeiro de 1922, voltou
para o Ninho do Açôr. Passou ao Regimento de Infantaria de Reserva 21, em 31 de
dezembro de 1923, e à reserva ativa, em abril de 1928. Passou às tropas
territoriais e ao Distrito de Recrutamento e Reserva 21, em 31 de dezembro de
1934, e ao Distrito de Recrutamento e Mobilização, a 15 em 30/11/1939, nos
termos das instruções para a execução do decreto n.º 29957 de 24/10/1939. Teve
baixa de todo o serviço militar, em 31/12/1942, por ter terminado a obrigação
de serviço.
Condecorações:
· Medalha militar de cobre comemorativa com a legenda: França 1917 1918" (segundo o neto Hugo Martins, José Joaquim nunca terá visto ou ouvido falar nesta medalha).
Família:
De regresso ao Ninho do Açor, José Joaquim dos
Santos casou com Carmina de Jesus Martins, natural do Tripeiro, no dia 19 de fevereiro
de 1922. Foi ali que o casal ficou a viver, e lá nasceram os três filhos que
tiveram:
1.
António
Martins dos Santos, que casou com Maria Joaquina Martins dos Santos e tiveram 2
filhos;
2.
Isabel
Martins da Conceição, que casou com Artur Afonso e tiveram 2 filhos;
3.
Aurora
de Jesus Martins, que casou com José Joaquim Varanda e tiveram 2 filhos.
Carmina de Jesus veio a falecer com tuberculose
pulmonar, no dia 6 de maio de 1939, e José Joaquim dos Santos voltou a casar com
Maria Joana Lourenço, em 15 de novembro do mesmo ano. Deste casamento nasceu
uma filha: Maria de Deus Faustino, que casou com Adelino de Jesus Faustino e
tiveram 4 filhos.
Maria Joana Lourenço faleceu de parto, em outubro
de 1940, e José Joaquim continuou a viver no Tripeiro, onde foi sempre muito
respeitado por todos.
«Passou a
vida a trabalhar no campo e vivia do que a terra lhe dava. Também foi ganhão e
quando havia menos trabalho no campo acarretava lenha para os fornos da telha,
no Freixial do Campo.
Sempre
foi muito temente a Deus e quando falava no tempo em que tinha andado na guerra,
não se cansava de dizer que, se estava vivo, o devia à proteção da Nossa
Senhora, porque às vezes as balas eram tantas a passar-lhe rentinhas ao
capacete que só mesmo um milagre é que o tinha salvado.
E foi mesmo
um milagre porque, apesar de tudo o que por lá passou, não trouxe moléstia
nenhuma, como tantos outros companheiros que lá andaram com ele, que vieram
cheios de doenças, fora os que por lá ficaram.
Nunca recebeu
nenhuma pensão pelo tempo que passou na Guerra porque diziam que, como tinha
terras, não precisava.» (testemunho da filha Maria de deus)
José Joaquim faleceu no dia 8 de julho de 1970. Tinha 77 anos. Está sepultado no cemitério de São Vicente da Beira.
(Pesquisa feita com a a colaboração da filha
Maria de Deus Faustino e do bisneto Hugo A. dos Santos Gomes Martins)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
domingo, 19 de março de 2023
O concerto do Coro de Manchester
terça-feira, 14 de março de 2023
quinta-feira, 9 de março de 2023
Os Sanvincentinos na Grande Guerra
José Francisco Afonso
José Francisco Afonso nasceu
no Tripeiro, no dia 8 de março de 1985. Era filho de Francisco Afonso,
cultivador, e Maria Sebastiana.
De acordo com a sua
folha de matrícula, era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando se
alistou em 13 de janeiro de 1916. Foi incorporado nesse mesmo dia no 2.º
Batalhão do Regimento de Infantaria 21 de Castelo Branco.
Após a conclusão da
recruta, foi mobilizado para fazer parte do CEP e embarcou para França, no dia
21 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento
de Infantaria 21. Era o soldado número 540 e tinha a placa de identidade n.º 8957.
A sua folha de matrícula e boletim individual referem
o seguinte:
a) Baixa ao hospital no dia 29 de maio; alta em 19 de junho;
b) Marcha para o Quartel General de Base em 7 de fevereiro de 1919, a fim de
ali ficar á disposição do Tribunal de Guerra, porque na manhã de 23 de setembro
de 1918, juntamente com outros militares, encontrando-se em prevenção de marcha
para um novo acantonamento mais avançado em relação à frente inimiga, se
recusou a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando matar com
granadas de mão e atirar com a metralhadora a quem tal fizesse, e recusando-se
a obedecer às intimações que lhe foram feitas pelos superiores;
c) Condenado à pena de sete anos de presídio militar e mais na pena acessória
de igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de dez anos de
deportação militar (Ordem de Serviço n.º 105 de 8/4/1919).
d) Regressou a Portugal com a Secção de Adidos, no dia 9 de junho de 1919, e
passou ao presídio militar de Santarém, para cumprir a pena a que tinha sido
condenado.
Foi libertado por ter efeito da Lei nº 1198 de 2 de setembro, publicada em
Diário do Governo de 5 de setembro de 1921, que amnistiava os castigos de
guerra.
Licenciado em 11 de janeiro de 1922, passou à reserva ativa em 11 de abril de 1928 e à reserva
territorial em 31 de dezembro de 1936.
Família:
José Francisco casou com Maria de Jesus da Conceição,
também natural do Tripeiro, no dia 9 de setembro de 1922. Tiveram três filhos:
1. Joaquina Antunes Afonso, que casou com José Venâncio e tiveram 5 filhos;
2. Francisco Afonso Martins, que casou com Olívia de Jesus e tiveram 2 filhos;
3. Elisa da Conceição, que casou com António Marques e tiveram 2 filhos.
Conta uma das netas que se lembra de ouvir o avô falar do tempo que tinha
passado na guerra, mas como era muito pequenina se recorda mal do que ele
dizia. Lembra-se apenas de uma vez se voltar para ela e lhe perguntar: «Olha lá, filha, sabes como é que chamam às
batatas lá na França? Chamam-lhe pão da terra!». Diz que nunca mais se
esqueceu.
José Francisco Afonso
trabalhou quase sempre na agricultura, mas também foi pastor e madeireiro. Teve
uma vida difícil, como quase toda a gente nessa altura, mas conseguiu que lhe
fosse atribuída a pensão a que tinha direito por ter participado na guerra, o
que o ajudou a viver um pouco melhor durante a velhice.
Faleceu no dia 29 de outubro de 1972. Tinha 77 anos de idade.
(Pesquisa feita com a colaboração do filho Francisco
Martins)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
domingo, 5 de março de 2023
O nosso São Brás
Do rico espólio de arte sacra de São Vicente da Beira faz parte uma escultura de São Brás, embora nesta freguesia nunca tenha existido o culto ao santo.
A imagem terá vindo de antiga
capela de São Brás, no alto do monte junto ao Barbaído. Este território pertencia ao extinto concelho medieval
de São Vicente da Beira, onde se criou, no século XVII a freguesia do Freixial
do Campo, mas com uma particularidade: a ermida de São Brás continuou a pertencer
à Igreja Matriz de São Vicente da Beira, cabendo ao Vigário ir ali dizer a missa
da festa do santo, no dia 3 de fevereiro, recebendo como paga a esmola da
missa. Isto de acordo com as Memórias Paroquiais de 1758. Segundo Joaquim
de Matos, consta que no princípio
do século passado ainda se realizavam os festejos em louvor de São Brás,
junto à antiga capela, no alto do monte.
Ali existiu também um povoado
e uma fortaleza que serão anteriores à época romana, cujas ruínas podem ainda
ser observadas.
Texto elaborado e gravado para a rubrica História ao Minuto, da Rádio Castelo Branco
José Teodoro Prata