segunda-feira, 17 de abril de 2023

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José Leitão

José Leitão nasceu em São Vicente da Beira, no dia 9 de agosto de 1893, filho de António Leitão Canuto e Maria do Patrocínio, moradores na rua Velha.

Era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro, quando assentou praça em Castelo Branco, no dia 9 de julho de 1913; foi incorporado no Regimento de Infantaria 21, 2.º Batalhão, em 13 de janeiro de 1914.

Pronto da instrução da recruta em 30 de abril, foi licenciado em 1 de maio, domiciliando-se em São Vicente da Beira. Apresentou-se novamente no dia 4 de fevereiro de 1915 e foi licenciado em 1 de maio. Nesta altura recebeu instrução de corneteiro, mas não a concluiu por “inabilidade artística”, como consta na sua folha de matrícula.

Voltou a ser convocado em 5 de maio de 1916 e, fazendo parte do CEP, embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, incorporado na 6.ª Companhia do 2.º Batalhão, 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 72 e chapa de identidade n.º 9128.

No seu boletim individual de militar do CEP e folha de matrícula constam as seguintes informações:

a)   Baixa ao hospital em 16 de junho de 1917, por ferimento por gases; alta a 20;

b)   Ausentou-se sem licença no dia 24 de agosto de 1918 e foi considerado desertor passadas 24 horas;

c)    Apresentou-se de deserção, no dia 28 de agosto, e foi detido na prisão da base em 30;

d)   Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em sete de setembro, foi libertado poucos dias depois;

e)   Foi punido em 17 de setembro, por ter feito uso de um passe regulamentar fora da data para que lhe fora concedido, ausentando-se indevidamente do seu local de estacionamento;

f)     Baixa ao hospital em seis de março de 1919 e alta em 24, seguindo para o Depósito Disciplinar 1 a 25 de março;

g)   Punido em 23 de maio de 1919, pelo Comandante, com sessenta dias de prisão correcional, por ter exigido ser transportado por um camião quando se dirigia da base para a sua unidade na frente, dizendo que estava muito fatigado (Este castigo ficou sem efeito, em virtude da Ordem de Serviço n.º 156 de 11/6/1919);

h)   Foi repatriado com o Depósito Disciplinar 1, a cinco de julho de 1919;

i)     Desembarcou em Portugal, no dia 8 de julho de 1919, e regressou a São Vicente da Beira.

Em outubro de 1919, passou ao Batalhão n.º 1 da GNR com o posto de soldado de 2.º classe. Em 21 de outubro, passou a soldado da classe de aprendiz de corneteiro e em 27 de abril de 1920, após ter terminado a especialidade, passou a soldado de 1.ª classe. Em 4 de janeiro de 1921, foi promovido a 2.º cabo corneteiro.

Licenciado em 21 de junho de 1921, mudou a residência para a freguesia de Santos, em Lisboa, passando ao Regimento de Infantaria n.º 1.

Por ter terminado o tempo de serviço nas tropas ativas, passou ao Regimento de Infantaria nº 1 de Reserva em 31 de dezembro de 1923, à reserva activa em 31 de dezembro de 1926 e à reserva territorial em dezembro de 1934.

Na sua folha de matrícula consta um castigo de 15 dias de prisão correcional aplicado pelo comandante da companhia em maio de 1921, por «no dia 23 de Maio do corrente, pelas 10h, estar entre um grupo de praças referindo-se aos últimos acontecimentos e dizendo: se nós temos muitas tropas eles também as tinham, e se nós éramos republicanos eles também o eram, que a nossa bandeira se achava içada e a deles andava à frente da força, e mais disse que os oficiais da 4ª companhia tinham sido uns falsos por terem abandonado a sua companhia» (Foi amnistiado deste crime pela Lei n.º 1629 de 15/7/1924).

Condecorações e louvores:

·        Medalha militar de cobre comemorativa com a inscrição França 1917-1918;

·        Medalha militar de cobre de classe de comportamento exemplar.

Família:

José Leitão casou com Benvinda de Oliveira, natural do Gavião, na 2.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, no dia 23 de julho de 1922. Não foi possível saber se tiveram filhos, nem qual foi o seu percurso de vida, mas o castigo que sofreu em maio de 1921 pode significar que seguiu a vida militar ainda por algum tempo e terá estado colocado na cidade de Lisboa, provavelmente integrado na GNR.

Faleceu na freguesia do Campo Grande, no dia 2 de fevereiro de 1967. Tinha 73 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

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