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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

FORAL MANUELINO - São Vicente, em 1496

O numeramento de 1496 foi uma das primeiras contagens da população portuguesa.
O concelho de S. Vicente da Beira tinha, então, 337 vizinhos (agregados familiares), o que corresponde a uma população de perto de 1 200 pessoas, dispersas por aldeias e casais, desde os cumes da Gardunha à Ocreza e desta à ribeira de Almaceda.

O concelho arrecadava, de rendimentos anuais, 16 000 réis, de diversas proveniências: 6 a 7 000 réis de portagem (imposto pago, pelos comerciantes forasteiros, à entrada da Vila, pelas mercadorias transportadas); 8 000 réis de foros (rendas de terras públicas); 1 600 réis de “soldo d´água”, um imposto pago no concelho, a que tinha direito Vasco Gil de Castelo Branco. Os rendimentos da portagem e dos foros eram divididos, em partes iguais, pelo comendador da vila e pelo mosteiro de São Jorge de Coimbra.
Este mosteiro foi uma das entidades que concedeu foral a São Vicente, em 1195, e o comendador era da Ordem de Avis, que aqui tinha uma comenda e com os seus rendimentos pagava metade das despesas da Igreja, no concelho (despesas correntes e sustento dos clérigos). A outra parte era paga pelo mosteiro de São Jorge, a quem cabia nomear o vigário (o chefe do clero do concelho) e pagar a outra metade das despesas religiosas. Por esta altura, essa obrigação passou para a comenda da Ordem de Cristo, criada pelos bens que tinham pertencido ao morteiro de São Jorge.


Janela manuelina na parede lateral da Igreja Matriz, junto ao altar-mor, a dar para a Rua da Igreja. Foi trazida de uma casa arruinada na Rua Velha, que fora a cozinha da Casa Visconde de Tinalhas, no final do século XIX e princípios do século XX.


Nesta época, no concelho, vivia um fidalgo (média nobreza) chamado Diogo da Cunha. Não foi o antepassado dos condes de São Vicente, pois esses vieram para cá através do casamento de um membro da família Cunha com uma descendente de Rui Vaz de Refoios, um membro da pequena nobreza que, em 1496, vivia em Castelo Branco
Existiam 4 escudeiros (pequena nobreza): Pedro Vasques, Rui Fernandes, Lopo de Azevedo e Pero Camelo (os dois últimos criados do rei e do Infante).
Havia, ainda, 9 oficiais, também eles pertencentes à pequena nobreza: 3 tabeliães, sendo um também escrivão das sesmarias (distribuição de terrenos incultos por cultivadores) e outro coudel (capitão de cavalos); 1 escrivão da coudelaria (criação de cavalos); 1 escrivão da câmara e almotaçaria (inspeção de pesos e medidas e fixação de preços); 2 juízes dos órfãos (menores sem pais, por morte ou abandono); 1 juiz das sisas (imposto por compra de propriedades); 1 escrivão das sisas.
O concelho de S. Vicente da Beira, era, no conjunto da Beira Interior, dos que apresentavam uma maior percentagem de privilegiados (nobres): 4%. Castelo Branco tinha 1% e a Covilhã 1,6%. Belmonte ultrapassava-nos com 4,1% e Salvaterra com 4,4%.

Além dos rendimentos acima referidos, os impostos pagos pelos judeus da comuna de São Vicente e Castelo Branco somavam 23 000 réis e pertenciam ao rei. Alguns judeus já aqui viveriam há muitos anos, mas a maioria era originária de Espanha, de onde haviam sido expulsos quatro anos antes, em 1492.
Dizer que os judeus de São Vicente e Castelo Branco formavam uma comuna significa que o rei lhes dera autonomia administrativa a troco dos referidos 23 000 réis.