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sexta-feira, 16 de março de 2012

FORAL MANUELINO - A colheita régia

O foral manuelino de S. Vicente da Beira (1512) estipulava que «Outrossim se pagará na dita vila um jantar e colheita a que chamam soldo d´água. E por ele pagam em cada um ano mil seiscentos reais repartidos por todos os moradores da dita vila e termo segunda tem a fazenda. Sem nenhuma pessoa ser escuso da dita paga por privilégio nem liberdade que tenha. Posto que seja clérigo, segundo os bens que raiz que tiver.»

Desde o início da nossa nacionalidade que era obrigatório, por parte das populações, o fornecimento de víveres para a mesa das autoridades visitantes. Fosse o rei, o bispo, o senhor da terra ou os oficiais da comarca, todos tinham direito a ser hospedados e alimentados pelos povos. Ao conjunto de alimentos que as populações deviam entregar chamava-se colheita.
A historiadora Iria Gonçalves (Souto da Casa) estudou a colheita devida ao rei D. Afonso III, no século XIII, pelos concelhos de Sarzedas e S. Vicente da Beira.
Eis a nossa colheita régia:

Carnes: 1 vaca, 2 porcos, 5 carneiros e 15 galinhas
Temperos para as carnes: 1 almude (20 litros) de manteiga, alhos, cebolas e 1 almude de vinagre
Ovos: 100
Mel: 1 almude
Sal: 1 almude
Pão: 300
Vinho: 1 moio e 6 almudes (360 litros + 6x20 litros = 480 litros)


A carne dava para alimentar cerca de 340 pessoas e o vinho para 250 pessoas (as damas bebiam pouco). Os reis deslocavam-se acompanhados por um grande séquito!
Se o rei não vinha ao concelho (nunca terá vindo à nossa vila), mandavam-se os animais para o local onde residisse habitualmente. Mais tarde, a colheita régia em géneros foi convertida em dinheiro, devido anualmente ao rei. É a esse imposto que se refere o nosso foral acima citado. Em 1512, andava pelos 1600 réis (1$600 réis).

(Iria Gonçalves, A colheita régia medieval, um padrão alimentar de qualidade (um contributo beirão), Comunicações das I Jornadas de História Regional do Distrito de Castelo Branco, 1994, Castelo Branco)


Janela manuelina ao fundo da Rua Manuel Lopes, na casa n.º 55.
A data inscrita na pedra (MCCLXXI - 1271) é muito anterior à ornamentação manuelina (pouco depois de 1500).