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domingo, 8 de janeiro de 2017

Fontes: os Duarte Ribeiro do Casal da Serra

No dia 16 de janeiro de 1746, casaram os irmãos João e José Duarte Ribeiro com as irmãs Isabel Antunes e Catarina Pires, todos do Casal da Serra.
Eles viriam a ser, nas décadas de 60 e 70, dois dos homens mais ricos e poderosos do nosso antigo concelho. Um foi capitão da capitania da ordenança de São Vicente e o outro foi sargento-mor da ordenança concelhia. Criaram, os dois, uma capela particular devotada a São João Batista, à qual vincularam bens que tiraram cada um do seu património.
A novidade é que estes irmãos Duarte Ribeiro eram mesmo naturais do Casal da Serra (até agora pensava que tinham vindo de Tinalhas/Freixial). 
É que no Freixial do Campo havia também os Duarte Ribeiro, com fortes ligações a Tinalhas, incluindo residência.
Os registos de casamento abaixo apresentados não esclarecem a origem do apelido Ribeiro, nem as possíveis ligações com os Duarte Ribeiro do Freixial.
Recordo que o Pe. João Antunes, testemunha nos dois casamentos, era também natural do Casal da Serra. Foi levado prisioneiro pelos espanhóis, quando estes atacaram e incendiaram parcialmente São Vicente, em 1762, no contexto da Guerra dos Sete Anos. Morreu no cativeiro.



José Teodoro Prata

domingo, 21 de junho de 2009

Guerra dos Sete Anos


Aspecto actual dos antigos paços do concelho. Foto da página do GEGA, na Internet, possivelmente tirada pelo Tó Sabino

A Guerra dos Sete Anos em S. Vicente da Beira: a casa da Câmara e a festa do Santo Cristo
(Síntese da intervenção de José Teodoro Prata, no "Colóquio Internacional - Memória e História Local", realizado em Idanha-a-Nova, nos dias 19, 20 e 21 de Junho de 2009.)

Na Guerra dos Sete Anos (1757-1763), a comarca de Castelo Branco foi invadida e ocupada pelo exército franco-espanhol, desde fins de Setembro a finais de Novembro de 1762. Em 21 e 22 de Outubro de 1762, o exército espanhol atacou e incendiou parcialmente a vila de S. Vicente da Beira. No primeiro dia, mataram Joaquim de Proença do Sobral do Campo, que ali se encontraria em serviço militar, como membro da ordenança, ou por acaso fortuito. No dia seguinte, morreu arcabuzado José dos Santos, também pelos castelhanos. Os documentos dão-nos ainda notícia do Padre João Antunes do Casal da Serra, capelão de Santiago, no monte da Partida, o qual foi levado pelos castelhanos e nunca mais voltou.


Clicar na imagem, para ler melhor.

Na Póvoa de Rio de Moinhos, em dia não determinado, também os castelhanos obraram violências e destruições: partiram portas e sobrados, roubaram alimentos e o padrão de pesos e medidas e levaram consigo oito homens «…dos bons do povo…», um dos quais Manuel Martins Preto, que morreu em Alcântara.
No dia 2 de Janeiro de 1764, a Câmara de S. Vicente da Beira requereu autorização para a reconstrução da casa da Câmara, com os dinheiros do concelho, dos lugares do termo, incluindo da Póvoa, e de uma finta derramada por todos os moradores do concelho. A Câmara da Póvoa opôs-se, por ser um concelho à parte e por estar isenta de fintas. O processo arrastou-se até 27 de Agosto de 1765, tendo o poder central decidido mandar arrematar a obra até ao valor de 300 000 réis, sendo superintendente o Juiz de Fora de S. Vicente da Beira. As relações de poder exerciam-se, hierarquicamente, das Câmaras Municipais para o Provedor da Provedoria de Castelo Branco, a nível regional, e deste para o Provedor da Coroa.
Em 1767, a casa da Câmara de S. Vicente da Beira estava concluída. O 1.º andar era formado pela sala do tribunal, o espaço mais amplo, uma sala de vereações e uma sala com lareira. Totalmente separada destes espaços, existia a casa do carcereiro, com alçapões de acesso às prisões. O rés-do-chão tinha, além das enxovias dos presos e das presas, uma estrebaria para os cavalos e dois espaços cedidos à Igreja da Misericórdia, contígua à Câmara, funcionando num deles a Sacristia.
Anualmente, o ponto alto da religiosidade, em S. Vicente, é a festa ao Santo Cristo, realizada, até cerca de1980, no 3.º fim-de-semana de Setembro e, actualmente, no 1.º fim-de-semana de Agosto. Desconhece-se a sua origem, mas é possível relacioná-la com esta invasão dos castelhanos:
- em 1758, o Santo Cristo da Misericórdia era venerado durante todo o ano;
- de Agosto a Novembro de 1762 houve uma mortandade na freguesia de S. Vicente, tendo o n.º de óbitos subido, em 1762, de uma média anual de cerca de 20 para 49, e destes, 31 só neste período;
- o ataque dos castelhanos ocorreu no pico da mortalidade;
- a casa da Câmara é contígua à Igreja da Misericórdia, morada do Santo Cristo, e só por milagre terá sido poupada pelas chamas;
- a publicação “O Domingo Ilustrado” (Lisboa, 1897) faz referência ao ataque dos castelhanos e à epidemia, que se extinguiu por voto dos vicentinos de realizarem uma festa anual ao Santo Cristo da Misericórdia.
Este assunto requer ainda novas investigações, mas já se pode concluir que a festa do Santo Cristo foi criada logo após 1762, como agradecimento e para que a vila de S. Vicente ficasse protegida de novas calamidades.



A antiga casa da Câmara, apenas parcialmente alterada. Foto da página do GEGA, na Internet, certamente recolhida pelo Tó Sabino.

Nota: A partir do "Tombo dos bens do concelho", de 1767, e com a ajuda dos serviços técnicos da Câmara Municipal de Castelo Branco, já consegui reconstituir os antigos paços do concelho, cujas plantas foram desenhadas pelo nosso conterrâneo Miguel Santos. A publicar...