Mostrando postagens com marcador joão duarte ribeiro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador joão duarte ribeiro. Mostrar todas as postagens

domingo, 4 de março de 2012

O nosso falar: estercar

A chamada zona do pinhal, que começa nos Pereiros e acaba nas proximidades de Tomar, é uma região cheia de particularidades.
Região de boa gente, a melhor que conheço, conserva tradições que nas áreas circundantes há muito foram devoradas pela modernidade.
Têm os maranhos (um manjar do Olimpo), ainda fazem a torna (um vizinho ajuda os outros na azeitona e eles vêm ajudá-lo a ele, tudo sem dinheiros) e dizem estercar quando andam a espalhar o estrume (esterco) numa terra de sementeira ou as cabras pastam num terreno de cultivo e aproveitam para se aliviarem.
Na Vila, sede do poder e por isso mais sujeita às novidades, só raramente se usa estercar, pois todos dizemos estrumar.
Mas, em 1769, a palavra ainda tinha dignidade para entrar numa ata camarária.
O Capitão João Duarte Ribeiro do Casal da Serra, aparentado com os Duarte Ribeiro de Tinalhas e Freixial, também tinha casa e terras na Vila. Era um dos homens mais rico e poderoso do concelho.
Trazia arrendada a tapada das Poldras ao Desembargador João Cardoso de Azevedo e, diariamente, as suas ovelhas e cabras desciam do Casal da Serra, atravessavam os Enxidros, passavam por dentro da Vila e vinham pernoitar nas fazendas, para as estercarem.
Foi multado, apresentou reclamação, mas recusaram-lha, por virem as ovelhas serranas misturadas com um cento de cabras. Todos conhecemos o carácter predador das cabras, além de que o gado ignorava que as ruas da Vila não eram sítio para estercar.