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sábado, 16 de novembro de 2019

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

António Fernandes

António Fernandes nasceu no Tripeiro, a 25 de janeiro de 1892. Era filho de Joaquim Fernandes e Maria Rosária.
Assentou praça, no dia 16 de maio de 1913, em Castelo Branco, e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.  
Embarcou para França, no dia 17 de janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado n.º 416, placa de identidade n.º 25966.
Do seu boletim individual do CEP e folha de matrícula militar constam as seguintes ocorrências:
a)    Punido com 15 dias de prisão correcional, em 29/06/1917, por ter faltado à instrução e ser reincidente neste tipo de faltas;
b)    Punido em 04/09/1917, com quatro dias de detenção, por ter faltado novamente à instrução sem motivo;
c)    Punido com oito dias de detenção, em 23/09/1917, por ter faltado à instrução alegando motivos que não se vieram a comprovar;
d)     Louvado pela coragem e disciplina mostradas durante o raide efetuado pela sua companhia, no dia 9 de março de 1918;
e)    Punido em 10/05/1918, com oito dias de detenção, por ter faltado aos trabalhos sem motivo justificado; 
f)     Detido desde Fevereiro de 1919, no Depósito Disciplinar n.º 1, por sentença do Supremo Tribunal Militar, por «na manhã do dia 23 de setembro de 1918, encontrando-se de prevenção de marcha para um novo acantonamento mais perto do inimigo, se recusou a desarmar as barracas e entrar na formatura, ameaçando matar com granadas de mão e atirar com metralhadora a quem tal fizesse.» (Folha de matrícula); 
g)    Condenado na pena de sete anos de presídio militar e mais na pena acessória de igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de dez anos de deportação militar.
António Fernandes regressou a Portugal no dia 9 de junho de 1919, e passou ao presídio Militar de Santarém, a fim de cumprir a pena a que tinha sido condenado. Foi amnistiado passado pouco tempo e, licenciado em janeiro de 1922, veio residir para a freguesia de São Vicente da Beira. A partir de 1925, foi considerado sem domicílio conhecido.
Louvores e condecorações:
  • Louvado pela coragem e disciplina que mostrou no raide efetuado pela sua companhia, no dia 9 de março de 1918;
  • Medalha Militar de cobre comemorativa com a legenda: França 1917-1918.
 


Não foi possível saber se casou e deixou descendência. É provável que não, pois, de acordo com a sua folha de matrícula, na década de cinquenta do século passado estava internado no Asilo de Inválidos Militares, em Runa, de onde saiu a seu pedido. Um dos sobrinhos, Francisco Martins, já com 92 anos, mas ainda muito lúcido, lembra-se de ouvir falar de António Fernandes e conta: «Nunca vi este meu tio, mas ainda me lembro da minha mãe dizer que ele tinha andado na guerra e que quando veio só falava duma batalha muito grande que lá houve no dia 9 de Abril, e onde tinham morrido muitos soldados. Diz que aquilo era mortos por todo o lado, espalhados pelo chão, e muitos tinham sido presos pelos alemães e levados para a Alemanha. Ele depois abalou para fora e dizem que esteve em Évora, e lá arranjou trabalho como relojoeiro, mas que era muito pobre e por isso raramente vinha à terra. Também nunca me lembro de ouvir dizer que se tivesse casado ou tivesse tido filhos.»
De facto, o único averbamento do registo de batismo de António Fernandes refere que faleceu no Hospital da Misericórdia de Évora, no dia 4 de Maio de 1961(?). Tinha 69 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
Nota: desde agosto que não há livros à venda em São Vicente; o único local onde podem ser adquiridos é na Biblioteca Municipal de Castelo Branco

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


António de Matos


António de Matos nasceu no Casal da Serra, a 31 de setembro de 1894. Era filho de Fernando de Matos e Maria Bárbara.
Embarcou para França, integrado no 1.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, no dia 21 de Janeiro de 1917. Era o soldado n.º 609, com a placa de identidade n.º 9517.
O seu Boletim Individual do CEP refere o seguinte:
a)    Baixa à ambulância, em 24 de junho de 19717;
b)    Evacuado para o hospital n.º 26, em 2 de julho;
c)    Julgado incapaz para todo o serviço em sessão de 16 de julho; evacuado para o hospital de Brest, em 26 de agosto; alta em 4 de outubro;
d)    Baixa ao mesmo hospital, em 14 de outubro; alta em 16 de dezembro;
e)    Seguiu para Portugal em 18 de dezembro e desembarcou em Lisboa no dia 22.
Quando regressou a Portugal, António de Matos já viria doente com tuberculose ou terá adoecido passado pouco tempo, pois o seu boletim individual refere que deu entrada no Sanatório Militar de São Fiel, no dia 6 de junho de 1919. Terá permanecido internado durante pouco tempo, uma vez que a instituição foi encerrada em setembro de 1919.
Não foi possível saber qual foi o seu destino, mas é provável que tenha falecido talvez ainda em 1919, pois não há memória dele no Casal da Serra. O seu registo de batismo também não tem qualquer averbamento que possa dar conta de um possível casamento ou a data e local da sua morte.

Nota. O Sanatório Militar de São Fiel foi criado em 1918 para receber e tratar os militares que regressaram da Grande Guerra com tuberculose. Funcionou nas instalações do antigo Colégio dos Jesuítas, mas foi encerrado inesperadamente em setembro de 1919, por razões que nunca terão sido bem esclarecidas.  




Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

António Batista



António Batista nasceu em São Vicente da Beira, no dia 1 de fevereiro de 1895. Era filho de João Batista, ganhão, e de Maria de São João.
Embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1917, integrando a 8.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2.º Regimento de Infantaria, com o posto de soldado n.º 582, placa de identidade n.º 9972. Na mesma viagem seguia também o seu irmão Luís Batista.
No seu boletim individual do CEP é referido o seguinte:
a)    Punido em 3 de novembro de 1917, pelo Comandante da Companhia, com 10 dias de detenção, por ter faltado à revista no dia 31 de outubro e ser reincidente neste tipo de faltas;
b)    Punido com 5 dias de detenção, pelo Comandante da Companhia, no dia 6 de maio de 1918, por ter faltado aos trabalhos no dia 5;
c)    Aumentado ao efetivo do Depósito Disciplinar 1, em 26 de setembro de 1918, onde ficou com o número 738;
d)    Marchou em diligência ao Tribunal de Guerra do Quartel-General de Base, no dia 22 de fevereiro de 1919;
e)    Condenado em 18 de abril de 1919, na pena de 6 anos e um dia de presídio militar, com igual tempo de deportação militar ou, em alternativa, na pena de 10 anos de deportação;
f)     Repatriado com a Secção de Adidos, em 5 de junho 1919.



Não foi possível encontrar documentação que permitisse conhecer o motivo desta detenção, julgamento e condenação, mas, pela coincidência de datas e pena aplicada, é provável que tenha participado na insubordinação levado a cabo por um número significativo de praças, no dia 23 de setembro, que «…encontrando-se com prevenção de marcha para um novo acampamento mais avançado em relação à frente do inimigo, insubordinou-se, recusando a desarmar as barracas e a entrar na formatura, ameaçando de matar com granadas de mão e a tiros de metralhadora todo aquele que tal fizesse, como também se recusando a entrar em ordem às intimações que lhe foram feitas pelos seus superiores.» (Folha de matrícula de outros militares que participaram nesta insubordinação)
É provável que não tenha saído com vida da prisão, pois nem mesmo os familiares mais próximos voltaram a ter notícias dele.
Contam que os pais ainda venderam algumas coisas do pouco que tinham para ir à procura dele, mas foi tudo inútil. Terão desistido, finalmente, quando lhes disseram que ele tinha morrido.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.