Ontem, de regresso a casa e a este blogue, houve um pequeno
problema técnico no avião que me trazia, e a viagem demorou mais meia hora do
que as duas horas e meia previstas.
Como vinha no banco fundeiro, local onde se situava uma das
casas de banho, na última hora foi tal o acumular de pessoas no corredor, à
minha volta, que exclamei para a minha gente:
- Pensam que isto é alguma comua!
Se estivesse em São Vicente da Beira, mandava-os para a
Devesa, que era para onde os adultos mais rezingões mandavam as crianças e
adolescentes que os incomodavam com correrias, algazarras, jogos da bola ou
andar de bicicleta na praça ou pelas ruas da nossa terra.
A Devesa era o nosso baldio na encosta oeste da Ribeirinha,
mesmo em frente à Vila. Comua vem de comum e comuna, não tendo
esta necessariamente apenas significado o político-ideológico a que atualmente
está reduzida. Aliás, o termo e o significado têm já muitas centenas de anos.
A minha mãe usava esta palavra em sentido pejorativo, um
local ou uma situação com muita gente, em que se fazem coisas não muito graves,
mas negativas, tipo bandalheira, anarquia.
É provável que este significado tivesse origem na campanha do
Estado Novo contra a ideologia comunista. A esmagadora maioria das pessoas não
percebia nada do assunto, mas a campanha das mais ilustres figuras do Estado e
do Partido, mesmo a nível local, era tão intensa que alguma coisa ficava na mentalidade
do povo.
Há poucas semanas, fiquei impressionado com as muitas referências
deste tipo presentes na poesia do nosso poeta José Lourenço. Mesmo que não
viesse a propósito, a certa altura do poema lá conseguia encaixar um louvor a
Salazar, à excelência do Estado Novo, que nos salvavam do Mal!
José Teodoro Prata