sexta-feira, 22 de julho de 2011

Rua Nicolau Veloso

A Rua Nicolau Veloso foi das últimas ruas da Vila a receber um nome próprio. Até quase finais do século XVIII, era designada por rua que vai da praça para a ponte.
De facto ela unia dois locais importantíssimos para a Vila: a praça, centro político e religioso, com o seu Pelourinho e ladeada pela Igreja Matriz, pela Igreja da Misericórdia e pela casa da Câmara, e a ponte, uma ponte de pau, como então se dizia, que era a única passagem existente sobre a Ribeirinha.
Esta ponte, além de se localizar junto à capela de Santo André e da azenha e do lagar dos Cabral de Pina, dava ainda acesso à forca, no alto da Devesa, e aos caminhos para o Sobral e para os montes da charneca.
Cerca de 1780-90, a rua que vai da praça para a ponte passou a chamar-se Rua Nicolau Veloso. Mas desconheço em que data recebeu esta designação oficial.
Era este Nicolau Veloso de Carvalho natural de S. Vicente da Beira. O seu pai chamava-se Manuel Leitão de Carvalho e a mãe Maria de Távora. Nicolau Veloso de Carvalho casou, em 1698, com Maria Cardoso Frazão. Tiveram uma filha chamada Maria de Távora. Esta foi mãe solteira de uma menina a quem deram o nome de Mariana. Os padrinhos foram o Capitão Henrique de Carvalho e Andrada e a sua esposa Mariana Nogueira.
O pai da criança era um primo em terceiro grau, chamado Francisco Azevedo Cabral, filho de António de Carvalho, também natural e morador em S. Vicente da Beira.
Tudo gente importante, na época: Andrada, Azevedo, Cabral, Carvalho, Nogueira, Távora…

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O nosso falar: desinsaibido

A palavra aplica-se a quem não tem gosto, não tem paladar para apreciar a comida. E também à própria comida, sem sabor para cativar quem a consome.
Neste aspecto, comida desinsaibida é o mesmo que chalada, sem sabor, por excesso de água e falta de tempero.
Mas o termo usa-se noutras situações sem relação com a comida. Uma pessoa desinsaibida não sabe apreciar, não tem gosto por nada, tanto se lhe dá andar bem como mal vestida, ter uma mesa bonita e com comida bem confeccionada, como uma mesa desorganizada e com comida sem vista, nem sabor. É um pãozinho sem sal.
Normalmente usava-se no feminino. Não que afectasse mais as mulheres, mas porque eram elas que, tradicionalmente, deviam mostrar bom gosto. A falta dele não era problema para os homens, mas era um drama numa mulher, pois a tornava quase incompetente nas funções domésticas que lhe estavam socialmente destinadas.
Não encontrei, nos dicionários, a palavra desinsaibido, mas adivinha-se-lhe a origem: saibido vem de sabor e acrescentou-se o prefixo des para o negar, como fazer e desfazer, coser e descoser, travar e destravar...

domingo, 17 de julho de 2011

Ladainhas à Orada

Ainda o livro “A ANUNCIAÇÃO À VIRGEM MARIA na religiosidade popular do interior da Beira”, de Maria Adelaide Neto Salvado, recentemente editado pela editora Pelimage.
Nas páginas 86 e 87, a autora escreve:

«Outrora,durante a Quaresma, era prática dos habitantes de Tinalhas, aldeia próxima da Póvoa, deslocarem-se em romagem à ermida de Nossa Senhora da Encarnação.
Até ao início do século XX, era igualmente prática do povo da aldeia de Tinalhas organizar a esta ermida, no 3.º dia das Rogações, que precedem a festa da Ascensão do Senhor, uma participada peregrinação.
Eram as Rogações procissões através dos campos, cuja origem mergulha na Antiguidade, para se implorarem aos deuses condições atmosféricas favoráveis à fertilidade da terra e colheitas abundantes para que não faltasse o pão de cada dia. O Cristianismo adoptou esta prática, dando-lhe uma nova roupagem. Chamou-lhe Ladainhas e fixou a data da sua realização nos dias que antecedem a Quinta-feira da Ascensão. Acompanhado pelo pároco, o povo caminhava em procissão pelos campos em redor das povoações, implorando colheitas abundantes. A benção dos campos culminava o final das preces. Algumas povoações, ultrapassando os limites da sua paróquia, faziam as suas Ladainhas até um santuário da sua devoção.»

Já aqui dei notícia das ladainhas que o povo de São Vicente da Beira realizava à ermida da Senhora da Orada, durante a Quaresma. No final do século XVI, um visitador do bispo da Guarda veio à Vila e deixou escrita, entre outras recomendações, a proibição de os padres acompanharem o povo nas ladainhas que faziam à Orada. Elas terão continuado, já sem os sacerdotes, pois subsistiram até hoje, mas limitadas às ruas de São Vicente.
Outro aspecto em que este texto da Dr.ª Adelaide Salvado faz luz é a ligação das ermidas marianas ao ciclo quaresmal e da Páscoa, também já aqui tratado nos Enxidros.
São mais umas peças para nos ajudarem a completar o puzzle do nosso passado, a fim de o compreendermos melhor.


Ladainha de 2009.
Foto do Dário Inês.

sábado, 16 de julho de 2011

Reabertura do Clube


É já este fim de semana, com um espectáculo de karaoke.
E mais informa o Dário Inês:
«Depois de um intenso trabalho de recuperação das instalações, nomeadamente arranjo dos wc, pintura e limpeza do espaço e de todo o espólio, o Clube está pronto para se dar início às actividade, com o bar aberto todos os fins de semana.»
Está um brinquinho, como podem ver pelas fotos que o Dário me enviou.











sexta-feira, 15 de julho de 2011

O empreendedorismo de Luci Bento

A artista Luci Bento continua a surpreender-nos, com o seu entusiasmo e dinamismo.
Em 2013, prevê abrir ao público, na Partida, um grande espaço artístico e recreativo, formado por uma fundação, um centro artístico e uma quinta pedagógica.
Deixo-vos com a notícia publicada no jornal Povo da Beira, de 5 de Julho de 2011.
(Clicar na imagem para ler melhor)

domingo, 10 de julho de 2011

Nossa Senhora da Orada

Ando a ler o livro “A ANUNCIAÇÃO À VIRGEM MARIA na religiosidade popular do interior da Beira”, de Maria Adelaide Neto Salvado, recentemente editado pela editora Pelimage.
Nas páginas 67 e 68, a autora cita J. Pinharanda Gomes e a sua “História da Diocese da Guarda”, para explicar a origem da festa da Anunciação, a 25 de Março. Ambos os autores fazem recuar as origens da festa ao culto pagão da deusa romana Cibele, a Mãe dos deuses, a grande deusa da fertilidade, cujas festas se celebravam a 25 de Março, data em que, ainda na época do Império Romano, a Igreja passou a comemorar a maternidade divina de Maria.
Já na página 69, a Dr.ª Adelaide Salvado escreve:

«Ora, nas manifestações da devoção popular mariana, igualmente, uma estreita relação se estabeleceu entre a Virgem Maria e a fertilidade da terra. Tal como os antigos santuários da deusa-mãe, as ermidas e os santuários erguidos em honra da Virgem Maria que pontuam os campos peninsulares surgem em locais de grande beleza natural, uns junto a nascentes de água com poderes medicinais (61), outros, não raras vezes, associados a lendas que relatam a intervenção da Virgem Maria sobre a fecundidade da terra, ora salvando as searas das pragas de gafanhotos (62), outras trazendo a chuva à terra sequiosa; ora intervindo na sua paragem, quando a sua abundância inundava perigosamente os campos, como acontece com os santuários de Nossa Senhora do Almurtão (Idanha-a-Nova) e de Nossa Senhora de Mércules (Castelo Branco).»

Nota 61: «Sirva de exemplo o caso de Nossa Senhora da Orada (S. Vicente da Beira).»
Nota 62: «Sirva de exemplo o santuário de Nossa Senhora da Azenha (Monsanto da Beira).»


Ribeira da Senhora da Orada.
Fotografia de Filipa Teodoro.

sábado, 9 de julho de 2011

João Marcelo (1960-2011)

Acabo de saber, pelo Reconquista online, que faleceu o João Marcelo, nosso conterrâneo da Partida.
Dirão que já faleceu muita gente boa, de quem eu não dei notícia. É verdade. Mas há o público e o privado. Não trato deste, mas sim do outro.
Mal o conhecia, mas contavam-me que era um dos melhores advogados da cidade. E também um importante dirigente do Partido Socialista.
Deixo-vos com a notícia do jornal Reconquista (7 de Julho de 2001), da autoria de Lídia Barata:


«João Carlos Marcelo faleceu na madrugada de sexta-feira aos 50 anos, vítima de doença prolongada.
O advogado natural de Partida, concelho de Castelo Branco, licenciou-se em Direito em 1985, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde exerceu alguns anos. Mas acabou por se estabelecer na cidade albicastrense.
Além da advocacia, João Carlos Marcelo era também conhecido pela sua actividade política, sendo actualmente presidente da Comissão Politica Concelhia do Partido Socialista e membro da Assembleia Municipal de Castelo Branco, onde desempenhava o papel de líder da sua bancada.
Em termos políticos também já tinha integrado os órgãos nacionais do PS.
João Carlos Marcelo faleceu no Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco, onde se encontrava já internado há algumas semanas.
O corpo será velado a partir da tarde de sexta-feira na capela de São Marcos, em Castelo Branco.
O funeral realiza-se no sábado a partir das 10h30 para o cemitério da Partida, a terra natal do advogado.»