sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

 Roberto Ribeiro Robles


Roberto Ribeiro Robles nasceu em São Vicente da Beira, no dia 20 de julho de 1888. Era filho de Bernardo António Robles, ferrador, e de Sabina da Conceição, moradores na rua Velha. 

Para além da instrução primária, terá feito alguma formação na área da saúde, porque, segundo consta no registo de batismo de uma sobrinha de quem foi padrinho em 1905, tinha a profissão de enfermeiro do Hospital da Misericórdia de São Vicente.

Alistou-se como voluntário no Batalhão de Caçadores n.º 6 de Castelo Branco, em 1 setembro de 1906, e ali terá feito o curso de habilitação para 1.º Sargento das Escolas Regimentais.

Em Março de 1909, foi destacado para fazer serviço na província de Angola; regressou em Maio de 1910. Em Janeiro de 1911, fez parte do batalhão destacado para a ilha da Madeira, para ajudar a coadjuvar as autoridades locais na debelação duma epidemia de cólera-murbus. Regressou ao continente em 27 de Março.

Estaria colocado em Lamego em 20 de Julho de 1917, data em que foi deslocado para o Regimento de Infantaria n.º 19, em Chaves, por ordem da Secretaria da Guerra, onde ficou com o n.º 590 e na 9.ª Companhia. Em agosto desse ano, foi promovido a Alferes e colocado no Regimento de Infantaria 21.  

Fez parte do CEP e partiu para França, via terrestre, em 15 de novembro de 1917 (tinha acabado de ser pai do segundo filho), integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21. Chegou a Paris no dia 18 do mesmo mês.

Sobre este período, o seu boletim individual do CEP refere o seguinte:

a)     Colocado no Batalhão de Infantaria 21, em 27 de novembro de 1917;

b)     Baixa ao hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, no dia 14 de abril de             1918; alta a 20 de maio;

c)     Licença de 60 dias para gozar em Portugal, a partir de 21 de maio. Em Lisboa foi sujeito a nova avaliação médica, no Hospital Militar Provisório, tendo-lhe sido concedidos mais 20 dias de licença para tratamentos;

d)     Embarcou novamente para França, a 16 de setembro, chegando a Brest três dias depois, e aumentado à sua unidade;

e)     Abatido ao efetivo do seu batalhão em 20/9/1918, por ter sido transferido para o Depósito de Infantaria.


Regressou a Portugal a 30 de maio de 1919 e passou ao Regimento de Infantaria 16, em 28 de junho. Desempenhou depois o cargo de Secretário Interino do Presídio Militar de Santarém e foi promovido a Tenente, por despacho de 1 de dezembro de 1921. Em 18 de setembro de 1926 passou ao quadro de adidos e, em julho de 1927, foi transferido para o Batalhão de Ciclistas n.º 2. Em 30 de setembro de 1929, foi considerado supranumerário permanente.

Condecorações e louvores:

·        Medalha Militar de Cobre da classe de comportamento exemplar, em 21/11/ 1910;

·        Louvado pela muita dedicação, zelo e inteligência com que desempenhou os diversos serviços que lhe foram confiados, quando fazia parte do Destacamento de Contacto n.º 3, em Terras do Bouro, a 30/11/1911;

·        Premiado no tiro com a espingarda em uso no exército, no ano de 1912;

·        Medalha Militar de Prata da classe de comportamento exemplar, em 30 de março de 1918;

·        Medalha de Prata comemorativa da campanha de Portugal em França, com a legenda França 1917 - 1918, atribuída em 30/11/1918;

·        Medalha da Vitória, em 27 de novembro 1919;

·        Medalha de Louvor da Cruz Vermelha, em 31 de maio 1922;

·        Louvor «… pela dedicação, muita inteligência e boa vontade com que sempre desempenhou o serviço de que foi encarregado, muito especialmente pelo desempenho do cargo de ajudante interino do Regimento nº 8.» (processo militar individual);

·        Louvado pela competência com que levou a cabo a organização da Secretaria Regimental anterior a 1919.



Por ter tomado parte na ação que deu lugar à condecoração do Batalhão do Regimento de Infantaria n.º 22 com a Cruz de Guerra de 1.ª classe, teve direito, nos termos do art.º 23 do regulamento das ordens militares portuguesas, ao uso do respetivo distintivo.

Família:

Antes de ser mobilizado para França, Roberto Ribeiro Robles já tinha casado com Palmira Lopes Leal, na freguesia de Salvador, Santarém, no dia 5 de maio de 1915. O casal teve 2 filhos:

1.   Fernando Leal Robles (também seguiu a carreira militar), que casou com Nair Júlia de Pinho Colaço Robles e tiveram 1 filho;

2.     Roberto Leal Robles (nasceu em São Vicente da Beira, onde os seus pais residiam acidentalmente, no dia 7 de outubro de 1917). Casou, na cidade de Chaves, com Gabriela Figueiredo e tiveram 1 filho.

Roberto Ribeiro Robles não terá mantido um contacto muito próximo com a terra, nos últimos anos de vida. Talvez por isso, mas sobretudo porque morreu muito novo, não haja muitas memórias dele em São Vicente. Faleceu de tuberculose renal, que terá sido adquirida durante a sua estadia em França, em 14 março 1932. Tinha apenas 44 anos.


(Pesquisa feita com a colaboração de Maria Teresa Nobre Monteiro Barroso, prima de Roberto Ribeiro Robles e Ana Maria Robles, esposa de um dos seus netos)

Maria Libânia Ferreira

Do livro Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Robles Monteiro

A construção do Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco foi iniciada em abril de 1950 e ficou concluída em setembro de 1954. A inauguração foi feita no dia 2 de outubro de 1954, às 22 horas, com a representação das peças Premio Nobel e Ceia dos Cardeais, primorosamente desempenhadas pela Companhia do Teatro Nacional de D. Maria II, de Lisboa, da qual faziam parte a famosa atriz Amélia Rey Colaço, e os apreciados atores, naturais do concelho de Castelo Branco, Robles Monteiro (São Vicente da Beira) e Raul de Carvalho (Salvaterra do Extremo).

José Teodoro Prata

domingo, 5 de janeiro de 2025

Nova criação

 
Farto de comprar pintos e frangos cheios de vírus e bactérias (doenças), encomendei um casal de cocós à Gracinda do Vale de Figueiras. A fêmea era dela e o macho de uma vizinha. Vejam como são lindos! Em segundo plano, pois as primeiras são galinhas. A Gracinda informou-me que a cocó começaria a pôr no início da primavera, mas ela adiantou-se e na primeira semana de dezembro deu-me o primeiro ovo.

Em fevereiro, deverá chocar e nascerão pintos novos, de umas galinhas castanhas escuras muito boas que não se vêm na imagem. Darei notícia!

José Teodoro Prata

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

16.º aniversário: votos para 2025

Um ciclone, em 2019, destruiu 90% da cidade moçambicana da Beira e matou centenas de pessoas

Hoje o blogue Dos Enxidros completa 16 anos, cheio de dúvidas e incertezas, como é próprio desta idade. Nasceu no dia 1 de janeiro de 2009, data adequada para, tal como hoje, fazer votos para o ano que agora começa. Estes são os meus, necessariamente diferentes de cada um dos amigos deste blogue.

1.   Há cerca de 20 anos, acompanhei os meus alunos a uma visita de estudo à lixeira de Castelo Branco, organizada pelos professores de Ciências. No final, um dos técnicos que nos guiou apelou aos alunos para que separassem o lixo, pois quando esta lixeira estivesse cheia já não haveria dinheiro da União Europeia para fazer outra e seríamos nós todos a pagá-la, com impostos elevados.

Recordei este episódio porque li esta semana a notícia do aumento do preço da tonelada do lixo, pago pela Câmara Municipal, de 52 para 86 euros, perspetivando-se que o preço suba brevemente até aos 200 euros.

Não sei se os alunos que ouviram aquele apelo separam atualmente o lixo, mas sei que Portugal é um dos países europeus que menos lixo recicla (apenas 12%, há uns tempos). Neste caso, vigora o mesmo laxismo que se verifica na questão dos telemóveis nas escolas: cada um faz o que quer, sem olhar às consequências dos seus atos.

Em resumo, apelo a um maior civismo, para garantirmos uma vida agradável na Terra, sem o sofrimento causado pelas catástrofes naturais que serão cada vez mais frequentes e atingem sobretudo os mais pobres e os que estão à margem dos poderes.

2.   Mais produtos que dão vida e menos produtos que causam sofrimento e morte. O último passatempo dos políticos europeus é o aumento dos orçamentos para a defesa, tanto ou mais do que se gasta com a educação ou com a saúde das pessoas. A guerra tornou-se um negócio lucrativo, há que investir na produção de armas e munições. E há os outros negócios, de muitos e milhões e biliões, os tais que originaram e justificam a guerra entre a Nato e a Rússia, na Ucrânia, e a continuação do genocídio dos palestinianos na Palestina (que já dura desde o fim da I Guerra Mundial, há mais de 100 anos). Em 1918, os palestinianos eram 90% da população dos territórios que agora formam Israel e a Palestina; agora, quantos restam?; e em que parcela desses territórios eles estão seguros? Tudo com a bênção do Ocidente, Portugal concluído.

Para a Ucrânia, desejo que ucranianos e russos se harmonizem, eles que têm tão frágeis tradições democráticas e de respeito pelos direitos humanos. E que o Ocidente os deixe em paz e às suas riquezas.

Para Israel e Palestina, faço votos para que acabem os ódios de parte a parte e se ponha fim ao sistema de apartheid em Israel, para que israelitas, palestinianos e outros povos e religiões que lá existem vivam amistosamente. E novamente que o Ocidente os deixe em paz e às suas riquezas (o petróleo do Médio Oriente).


Gaza, 2024

José Teodoro Prata 

domingo, 22 de dezembro de 2024

Natal de uma (nossa) emigrante

O MEU PRIMEIRO NATAL NO BRASIL

Maria de Lourdes Hortas

Foi em Olinda. Chegamos a Pernambuco em outubro de 1950. Ficamos na casa de um amigo do meu pai, no Bairro Novo. E lá passamos o primeiro natal brasileiro. O calor não me permitia acreditar que o aniversário de Jesus pudesse acontecer sem neve, sem filhoses, sem madeiro ardendo na praça, sem a minha avó e o meu avô, sem o cheiro de resina no pinheiro na árvore, sem o musgo apanhado na ribeira, para o presépio.

Tudo era absurdamente estranho e melancólico para o meu coraçãozinho de imigrante de apenas 10 anos.

Dias antes, uma das meninas da casa me revelou que o Pai Natal (Papai Noel, no Brasil, até isso era diferente) não existia...

Me lembro bem. Passeávamos na praia, as ondas revoltas do mar subiram, carregadas de sal, e apagaram a ilusão, como uma rajada de vento apaga uma candeia. Em silêncio engoli algumas lágrimas ...

- Não existe?!...

E o Menino Jesus? Lá, em São Vicente, era Ele que vinha, descendo pela chaminé. Na fria madrugada do dia 25 podia jurar que ouvia seus passos de pluma e que na manhã seguinte os via impressos na neve...

Categórica, a menina concluiu:

-Também não...

Houve peru e abacaxi naquela ceia de Natal. A prenda, deixada no meu sapato, foi um vestido de xadrez, em tafetá. Era lindo. Cheirava a alfazema, ao mesmo perfume das meninas anfitriãs.

Lembrei de um outro vestido, prenda de outro Natal. Era de lã cor de rosa. E minha mãe me disse, muito contrita, que tinha sido tricotado por Nossa Senhora, nos serões do Céu.

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Agora, minha Mãe e Nossa Senhora talvez estejam tecendo outro vestido, para mim: com ele espero me apresentar, à grande Ceia do Senhor.

(Do livro de inédito de memórias AS CASAS DO DESTINO.)


José Teodoro Prata

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Pontas

 1. Foto de João Engenheiro (completa uma das publicações anteriores):


ML Ferreira


2. Dia dos Sinos: há dois comentários novos e interessantes, na publicação anterior sobre o assunto.

José Teodoro Prata

domingo, 15 de dezembro de 2024

Conto de Natal

 Desculpem, mas não resisti, assaltei de novo o facebook. Mas foi por uma boa causa!

José Teodoro Prata


Porque é de novo Natal…

Conto de Natal de Francisco Candeias em São Vicente da Beira

Calcorreava a rua da Costa abaixo numa felicidade que descontrolava o andar, fazendo alternar o passo, ora apressado, ora quase em corrida.

Havia naquele dia alguma coisa que o mobilizava e que lhe dava uma cor mais luminosa ao rosto, ausente em outros dias. Passou à porta do Zé Ar, ar esse que ainda cheirava ao pão fresco!

A agitação era tanta que nem deu conta que a Menina Maria do Céu estava à janela aguardando a salvação de um bom dia!

O vento, suave e frio, trazia com ele os aromas do inverno de lenha queimada e que se misturava com o cheiro a cedro que vinha da Quinta.

Passou a Fonte Velha e entrou na Loja do Joaquim Boas Noites, que àquela hora já estava cheia de gente. Eram as compras de última hora, logo à noite não podia faltar nada!

- Vê lá o que o que é que o filho da Hermínia quer, disse alguém na sua vez de ser atendida.

Tirou o papel bem dobrado da algibeira, e mostrou o recado: dois quilos de açúcar, duas garrafas de óleo e farinha.

Transação feita sem dinheiro.

- A mãe depois vem pagar! Assim disse, como lhe transmitiram.

Passou pela praça só para comprovar que a fogueira ainda lá estava. Madeiros colocados em pilha e depois escondidos por rama de pinheiros. A fogueira seria a anfitriã da noite, recebendo as gentes procurando o calor numa noite que é sempre fria.

Em casa, a sua avó vestida de preto, lenço na cabeça e já emborralhada de farinha juntava os ingredientes recém trazidos para a iguaria mais famosa do Natal: as filhoses.

O pinheiro já tinha ocupado o seu lugar uns dias antes, enfeitado com fitas de cores colocadas de forma generosa.

O presépio, como sempre, presente: cama de musgo pulverizado de pequenas imagens de barro, o moinho era acolhido numa montanha feita de pedras e os Reis Magos ficavam sempre longe da Sagrada Família (porque ainda teriam quinze dias de caminhada), os pastores tinham um ar feliz e a lavadeira tinha um lago feito de prata de maço de tabaco Português Suave, os caminhos foram feitos de farinha e uns pedaços de algodão os flocos de neve, porque era importante dar realismo ao cenário natalício.

Dia importante, não se comia na cozinha. Mesa grande aberta na sala, a melhor toalha, pratos e talheres.

A comida era abundante nessa noite. Bacalhau, peru, couves cozidas, arroz doce, fatias douradas e tantas outras coisas.

O jantar de Natal decorria ao som da televisão a preto e branco que transmitia a mensagem de Natal do Cardeal Patriarca.

Todos à volta da mesa partilhando o momento e sem dar conta que aquela seria a mesa mais composta de sempre.

- A que horas vamos para a fogueira? Perguntou.

- Um pouco antes da missa, para ver acender a fogueira! Responderam.

Descia a rua e já se conseguia ver o fumo.

De repente o pai diz:

- Esperem! Tenho que voltar a casa, esqueci-me da carteira.

A fogueira já estava acesa. As gentes da terra e as suas famílias que tinham vindo passar o Natal espalhavam-se pela Praça Velha e junto à fogueira, que estava a cargo dos mancebos da inspeção militar. Eles garantiam que a fogueira não perdesse vida e que orgulho tinham quando alguém dizia:

- Já há muitos anos que não via uma fogueira tão grande!

A igreja cheia de gente, o presépio num dos lados do altar e o Coro do outro, onde a Menina Maria de Jesus e a Nelita garantiam os últimos ajustes. Tudo teria que correr bem, foram feitos dois ensaios durante a semana. O Padre inicia a liturgia. O sermão é sobre o nascimento do Menino e o que Ele contribuiu na caminhada cristã. Os cânticos criam um ambiente de festa, mas há um que todos cantam enchendo a igreja de alegria: “Alegrem-se os céus e a terra, cantemos com alegria, que já nasceu o deus menino, filho da Virgem Maria"...

A celebração termina com o “beijar do Menino” e cá fora os adultos ficavam por ali em conversa com as famílias ou juntavam-se com os que não viam há muito tempo. As crianças estavam sempre ansiosas de ir para casa para abrir os presentes.

Ao chegar a casa os presentes estão todos junto à chaminé. Roupa e algum brinquedo. Ficou feliz, mas nada era o que imaginaria ter tido! A sua imaginação esperaria sempre algo mais mágico.

- Para o ano tens que te portar melhor!

Ficou triste! Afinal havia meninos melhores que ele e por isso ficaram com as melhores prendas.

Só algum tempo depois terá dado conta que o Pai Natal era o pai que se esquecera da carteira. Mas todos os anos continua a desejar que a magia dessa noite seja eterna.

Dizem que o seu espírito de criança surge todos os natais e a dizer que fez tudo para se portar bem!

Que a magia desta quadra vos inspire e encha o coração!

Feliz Natal

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