Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
sábado, 18 de janeiro de 2025
quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Os Sanvicentinos na Grande Guerra
Com esta postagem, concluo a publicação de informação de todos os combatentes da freguesia de São Vicente da Beira que participaram na I Guerra Mundial (1914-18), no cenário europeu ou em África (Angola e Moçambique). A recolha foi realizada pela Maria Libânia Ferreira e publicada no livro Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra, editado em 2018. Fica assim online toda a informação que conseguimos obter sobre cada um deles.
Silvestre Serra
Silvestre Serra nasceu no dia 26 de julho de
1893. Era filho de Luciano Serra e Ana Bárbara, jornaleiros, residentes no
Casal da Serra.
Mobilizado para fazer parte do CEP, embarcou
para França, no dia 21 de janeiro de 1917, integrado na 7.ª Companhia do 2.º
Batalhão do 2.º Regimento de Infantaria 21, com o posto de soldado n.º 639 e
placa de identidade n.º 9544-A.
Sobre o período em que esteve em França, o seu
boletim individual refere apenas o seguinte:
a)
Baixa
ao hospital, em 8 de maio de 1918;
b)
Licença
em 12 de junho de 1918, por um período de 30 dias;
c)
Baixa
à Ambulância n.º 3, em 30 de setembro; alta em 6 de outubro, a fim de ser
repatriado;
d)
Embarcou
para Portugal, a bordo do navio Gil Eanes, no dia 12 de outubro de 1918.
Silvestre Serra vinha muito doente quando
chegou a Portugal. Mesmo assim, dizem que veio sozinho de comboio, de Lisboa à
terra, e teve que fazer o caminho todo a pé, desde Castelo Novo até ao Casal da
Serra. Contam que, quando chegou ao Cavaco, lugar onde a família morava e que
fica ainda mais acima do Casal da Serra, na encosta da Gardunha, vinha quase a
desfalecer. Antes de entrar em casa, ainda foi espreitar o curral do porco e
das vacas, e só depois subiu as escadas do balcão, já muito a custo, e sentou-se
em cima duma arca que havia logo à entrada da sala. A mãe, quando encarou com
ele, mal queria crer que era o seu filho, de tão desfigurado que estava. Mas
assim que caiu em si, deu tantos gritos que toda a vizinhança acorreu, a ver o
que se passava.
Silvestre Serra já pouco saiu de casa. Morreu a 16 de novembro de 1918, um mês após ter regressado a Portugal. Tinha 25 anos de idade. Dizem que a mãe ficou cega de tantas lágrimas chorar.
(Pesquisa feita com a colaboração de vários moradores
do Casal da Serra, que se lembram de ouvir contar…)
Maria Libânia Ferreira
Do livro Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
domingo, 12 de janeiro de 2025
Os Ribeiro Robles
Ribeiro é português, mas Robles é castelhano e significa
Carvalho. Os Robles chegaram a São Vicente da Beira na sequência do incremento
industrial promovido pelo Marquês de Pombal. Este criou uma fábrica de
lanifícios na Covilhã, onde atualmente se situa o Museu dos Lanifícios, bem no
coração da UBI. E também se preocupou com a modernização dos processos e
técnicas de fabrico, contratando para isso técnicos estrangeiros.
Um deles veio de Béjar, cidade espanhola localizada
relativamente perto da nossa raia, e chamava-se João António Robles (casado com
Belchior Gomes). Teve um filho, Bernardo António Robles que casou com uma
Ribeiro de São Vicente da Beira. Nessa época, esta antiga sede de concelho era
um dos polos industriais mais importantes do atual concelho de Castelo Branco, tendo
inclusive uma fábrica de fiação ligada à fábrica da Covilhã, orientada também
por técnicos estrangeiros.
Os seus descendentes ganharam assim os apelidos Ribeiro
Robles e foram muito importantes nesta Vila, durante o século XIX e início do
século XX: vários secretários da Câmara, uma professora do ensino elementar, um
provedor da Misericórdia… e este Roberto da foto, que foi enfermeiro do
Hospital da Misericórdia de São Vicente e depois seguiu a vida militar, decisão
que lhe seria fatal, pois veio doente de França, na Primeira Guerra Mundial,
morrendo precocemente aos 44 anos, da tuberculose renal que lá tinha contraído.
Outro Robles foi o conhecido ator Robles Monteiro. Casou com
Amélia Rey Colaço e juntos formaram a Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro. À
sua filha deram o nome Mariana (Rey Monteiro), nome da mãe do ator (Marianna
Ribeiro Robles). Estudou no Colégio de São Fiel e no Seminário da Guarda, onde
o aconselharam a seguir antes as artes do palco.
Há poucos meses, um Robles apresentou-se na Misericórdia de
São Vicente com mais de uma dúzia de inscrições para irmãos dos muitos Robles
espalhados pelo país. Um gesto bonito!
José Teodoro Prata
sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Os Sanvicentinos na Grande Guerra
Roberto Ribeiro Robles
Roberto Ribeiro Robles nasceu em São Vicente
da Beira, no dia 20 de julho de 1888. Era filho de Bernardo António Robles,
ferrador, e de Sabina da Conceição, moradores na rua Velha.
Para além da instrução primária, terá feito alguma formação na área da saúde, porque, segundo consta no registo de batismo de uma sobrinha de quem foi padrinho em 1905, tinha a profissão de enfermeiro do Hospital da Misericórdia de São Vicente.
Alistou-se como voluntário no Batalhão de Caçadores n.º 6 de Castelo Branco, em 1 setembro de 1906, e ali terá feito o curso de habilitação para 1.º Sargento das Escolas Regimentais.
Em Março de 1909, foi destacado para fazer
serviço na província de Angola; regressou em Maio de 1910. Em Janeiro de 1911,
fez parte do batalhão destacado para a ilha da Madeira, para ajudar a coadjuvar
as autoridades locais na debelação duma epidemia de cólera-murbus. Regressou ao
continente em 27 de Março.
Estaria colocado em Lamego em 20 de Julho de
1917, data em que foi deslocado para o Regimento de Infantaria n.º 19, em
Chaves, por ordem da Secretaria da Guerra, onde ficou com o n.º 590 e na 9.ª Companhia.
Em agosto desse ano, foi promovido a Alferes e colocado no Regimento de Infantaria
21.
Fez parte do CEP e partiu para França, via
terrestre, em 15 de novembro de 1917 (tinha acabado de ser pai do segundo
filho), integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria
21. Chegou a Paris no dia 18 do mesmo mês.
Sobre este período, o seu boletim individual do
CEP refere o seguinte:
a) Colocado no Batalhão
de Infantaria 21, em 27 de novembro de 1917;
b) Baixa ao hospital
da Cruz Vermelha Portuguesa, no dia 14 de abril de 1918; alta a 20 de
maio;
c) Licença de 60
dias para gozar em Portugal, a partir de 21 de maio. Em Lisboa foi sujeito a
nova avaliação médica, no Hospital Militar Provisório, tendo-lhe sido concedidos
mais 20 dias de licença para tratamentos;
d) Embarcou
novamente para França, a 16 de setembro, chegando a Brest três dias depois, e
aumentado à sua unidade;
e) Abatido ao efetivo do seu batalhão em 20/9/1918, por ter sido transferido para o Depósito de Infantaria.
Regressou a Portugal a 30 de maio de 1919 e
passou ao Regimento de Infantaria 16, em 28 de junho. Desempenhou depois o
cargo de Secretário Interino do Presídio Militar de Santarém e foi promovido a
Tenente, por despacho de 1 de dezembro de 1921. Em 18 de setembro de 1926
passou ao quadro de adidos e, em julho de 1927, foi transferido para o Batalhão
de Ciclistas n.º 2. Em 30 de setembro de 1929, foi considerado supranumerário
permanente.
Condecorações e louvores:
·
Medalha Militar de Cobre da classe de comportamento exemplar, em
21/11/ 1910;
·
Louvado pela muita dedicação, zelo e inteligência com que desempenhou
os diversos serviços que lhe foram confiados, quando fazia parte do
Destacamento de Contacto n.º 3, em Terras do Bouro, a 30/11/1911;
·
Premiado no tiro com a espingarda em uso no exército, no ano de 1912;
·
Medalha Militar de Prata da classe de comportamento exemplar, em
30 de março de 1918;
·
Medalha de Prata comemorativa da campanha de Portugal em França,
com a legenda França 1917 - 1918,
atribuída em 30/11/1918;
·
Medalha da Vitória, em 27 de novembro 1919;
·
Medalha de Louvor da Cruz Vermelha, em 31 de maio 1922;
·
Louvor «… pela dedicação,
muita inteligência e boa vontade com que sempre desempenhou o serviço de que
foi encarregado, muito especialmente pelo desempenho do cargo de ajudante
interino do Regimento nº 8.» (processo militar individual);
· Louvado pela competência com que levou a cabo a organização da Secretaria Regimental anterior a 1919.
Por ter tomado parte na ação que deu lugar à condecoração
do Batalhão do Regimento de Infantaria n.º 22 com a Cruz de Guerra de 1.ª
classe, teve direito, nos termos do art.º 23 do regulamento das ordens
militares portuguesas, ao uso do respetivo distintivo.
Família:
Antes de ser mobilizado para França, Roberto
Ribeiro Robles já tinha casado com Palmira Lopes Leal, na freguesia de
Salvador, Santarém, no dia 5 de maio de 1915. O casal teve 2 filhos:
1. Fernando Leal
Robles (também seguiu a carreira militar), que casou com Nair Júlia de Pinho Colaço
Robles e tiveram 1 filho;
2. Roberto Leal
Robles (nasceu em São Vicente da Beira, onde os seus pais residiam
acidentalmente, no dia 7 de outubro de 1917). Casou, na cidade de Chaves, com
Gabriela Figueiredo e tiveram 1 filho.
Roberto Ribeiro Robles não terá mantido um
contacto muito próximo com a terra, nos últimos anos de vida. Talvez por isso,
mas sobretudo porque morreu muito novo, não haja muitas memórias dele em São
Vicente. Faleceu de tuberculose renal, que terá sido adquirida durante a sua
estadia em França, em 14 março 1932. Tinha apenas 44 anos.
(Pesquisa feita com a colaboração de Maria Teresa Nobre Monteiro Barroso, prima de Roberto Ribeiro Robles e Ana Maria Robles, esposa de um dos seus netos)
Maria Libânia Ferreira
Do livro Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
Robles Monteiro
A construção do Cine-Teatro Avenida de Castelo Branco foi iniciada em abril de 1950 e ficou concluída em setembro de 1954. A inauguração foi feita no dia 2 de outubro de 1954, às 22 horas, com a representação das peças Premio Nobel e Ceia dos Cardeais, primorosamente desempenhadas pela Companhia do Teatro Nacional de D. Maria II, de Lisboa, da qual faziam parte a famosa atriz Amélia Rey Colaço, e os apreciados atores, naturais do concelho de Castelo Branco, Robles Monteiro (São Vicente da Beira) e Raul de Carvalho (Salvaterra do Extremo).
José Teodoro Prata
domingo, 5 de janeiro de 2025
Nova criação
Em fevereiro, deverá chocar e nascerão pintos novos, de umas galinhas castanhas escuras muito boas que não se vêm na imagem. Darei notícia!
José Teodoro Prata
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
16.º aniversário: votos para 2025
Um ciclone, em 2019, destruiu 90% da cidade moçambicana da Beira e matou centenas de pessoas
Hoje o blogue Dos
Enxidros completa 16 anos, cheio de dúvidas e incertezas, como é próprio desta
idade. Nasceu no dia 1 de janeiro de 2009, data adequada para, tal como hoje,
fazer votos para o ano que agora começa. Estes são os meus, necessariamente diferentes
de cada um dos amigos deste blogue.
1. Há
cerca de 20 anos, acompanhei os meus alunos a uma visita de estudo à lixeira de
Castelo Branco, organizada pelos professores de Ciências. No final, um dos técnicos
que nos guiou apelou aos alunos para que separassem o lixo, pois quando esta
lixeira estivesse cheia já não haveria dinheiro da União Europeia para fazer
outra e seríamos nós todos a pagá-la, com impostos elevados.
Recordei
este episódio porque li esta semana a notícia do aumento do preço da tonelada
do lixo, pago pela Câmara Municipal, de 52 para 86 euros, perspetivando-se que
o preço suba brevemente até aos 200 euros.
Não
sei se os alunos que ouviram aquele apelo separam atualmente o lixo, mas sei
que Portugal é um dos países europeus que menos lixo recicla (apenas 12%, há
uns tempos). Neste caso, vigora o mesmo laxismo que se verifica na questão dos
telemóveis nas escolas: cada um faz o que quer, sem olhar às consequências dos
seus atos.
Em
resumo, apelo a um maior civismo, para garantirmos uma vida agradável na Terra,
sem o sofrimento causado pelas catástrofes naturais que serão cada vez mais
frequentes e atingem sobretudo os mais pobres e os que estão à margem dos
poderes.
2. Mais
produtos que dão vida e menos produtos que causam sofrimento e morte. O último
passatempo dos políticos europeus é o aumento dos orçamentos para a defesa, tanto
ou mais do que se gasta com a educação ou com a saúde das pessoas. A guerra
tornou-se um negócio lucrativo, há que investir na produção de armas e
munições. E há os outros negócios, de muitos e milhões e biliões, os tais que
originaram e justificam a guerra entre a Nato e a Rússia, na Ucrânia, e a
continuação do genocídio dos palestinianos na Palestina (que já dura desde o
fim da I Guerra Mundial, há mais de 100 anos). Em 1918, os palestinianos eram
90% da população dos territórios que agora formam Israel e a Palestina; agora,
quantos restam?; e em que parcela desses territórios eles estão seguros? Tudo
com a bênção do Ocidente, Portugal concluído.
Para
a Ucrânia, desejo que ucranianos e russos se harmonizem, eles que têm tão frágeis
tradições democráticas e de respeito pelos direitos humanos. E que o Ocidente
os deixe em paz e às suas riquezas.
Para
Israel e Palestina, faço votos para que acabem os ódios de parte a parte e se
ponha fim ao sistema de apartheid
em Israel, para que israelitas, palestinianos e outros povos e religiões que lá
existem vivam amistosamente. E novamente que o Ocidente os deixe em paz e às
suas riquezas (o petróleo do Médio Oriente).
José Teodoro Prata