sexta-feira, 24 de junho de 2016

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Animais de trabalho

A vida na agricultura era muito diferente [nos anos 50 e 60] do que é agora.
Não havia tratores, nem ouras máquinas agrícolas. Os fazendeiros tinham uma ou duas juntas de vacas, que lavravam os terenos e transportavam as colheitas. Colocava-se uma canga em cima do pescoço de cada vaca, composta por um tamoeiro e uma correia de cabedal, com um bocado de corda que se atava ao cangalho e passava por baixo do pescoço da vaca. O cambão era engatado na canga. Estes adereços serviam para atrelar o carro de vacas e a charrua de ferro, que havia do número um ao nove, conforme o trabalho que era para ser feito. Antes de haver charruas, o trabalho da lavra era feito com arados feitos de pau, por um habilidoso ou por um carpinteiro.
Os carros mediam cerca de 3 metros de comprido por 1,20 de largura, com um tiro ao meio onde era engatada a canga. Toda a construção dos carros era em madeira, incluindo as rodas e o eixo. Faziam muito barulho quando o eixo começava a rodar e por isso untava-se com gordura de porco ou sebo de cabra. O carro tinha em média quatro buracos de cada lado, onde se enfiavam os afogueiros. Havia também uma peça de madeira, com aspeto de uma forcalha, que se chamava zorra e servia para as vacas transportarem pedras grandes.
Quando andava na lavoura, as vacas traziam uma rede no focinho, chamada focinheira, para não comerem o renovo. Estes animais também eram atrelados às noras, para tirar água dos poços.
As vacas, quando andavam muito em terra batida ou mais agreste, eram calçadas com canelos. Estes eram indispensáveis nas deslocações muito grandes. Lembro-me de haver juntas de vacas que, com os seus carros, iam a Abrantes levar neve e no regresso traziam sal e outras coisas.
As vacas eram cobertas e em geral tinham crias uma vez por ano. Nos primeiros três meses, amamentavam os bezerros e depois disso era aproveitado o leite para ser vendido para alimentação.
Uma junta de vacas, a trabalhar, ganhava em média o ordenado de cinco homens. Um dia inteiro de trabalho era chamado uma geira e se fosse meio dia era meia-geira.
Os lavradores sem uma junta de vacas tinham outros animais que ajudavam na lavoura. O mais comum era o burro, mas também a mula e o macho, que faziam de tudo. Lavravam, transportavam cargas, faziam estrume e até aqueciam a casa no inverno. Normalmente, eram guardados nas lojas por baixo das casas e, como o isolamento era muito deficiente, o calor dos animais passava para a parte de cima das casas. Dos muitos apetrechos que estes animais esavam, destaco o cabresto, o bornal, a albarda, a canga, a carroça, as cangalhas, a tucinheira, etc. 
As fêmeas faziam sempre criação e muitas das vezes até cruzavam raças  para terem animais mais resistentes. Era o caso do macho e da mula que nasciam do cruzamento de uma égua com um burro. Para evitar o desgaste dos cascos, todos eles eram ferrados com ferraduras, os sapatos, como lhes chamávamos.

Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.

José Teodoro Prata

domingo, 19 de junho de 2016

Tempos de aprender

Entre os sete e oito anos, idade com que se entrava na escola primária naqueles tempos [anos 50 e 60], fui para a escola que funcionava por baixo do edifício dos antigos Paços do Concelho, local onde agora está a Junta de Freguesia. O meu professor era Artur Eugénio Couto, a quem chamávamos apenas Professor Couto.
Morávamos no Valcaria, a cerca de três quilómetros, e, quer chovesse, nevasse ou fizesse sol, todos os dias calcorreava este caminho, descalço, porque não havia dinheiro para sapatos. Na bolsa de ganga, apenas um livro e uma pedra com o seu lápis também de pedra. Nesta pedra em forma de quadro, de ardósia e madeira, aprendi a escrever as primeiras letras e a construir as primeiras frases. Numa bolsita feita com aproveitamento de tecido que outras pessoas já teriam vestido, levava a minha merenda para o dia todo: um bocadito de pão centeio ou de broa de milho, com um bocadito de queijo ou uma mão cheia de azeitonas.
Nas idas e vindas de e para a escola, muitas vezes transportava alguns bens que os meus pais produziam e que vendiam às pessoas mais ricas da Vila. Trazia cinco bilas de leite, três numa mão e duas na outra, umas de meio litro e outras de um litro. Os fregueses habituais eram o Dr. Alves, a Tia Patrocínia, o Sr. Mesquita, o Sr. Padre Nicolau e o Sr. Major Fabião. Estas entregas eram sempre feitas antes de entrar na escola, às nove horas da manhã. Durante muitos anos, fiz estas entregas que eram para mim uma afirmação de responsabilidade. Era com muito entusiasmo que assumia estes compromissos, sendo uma forma de ajudar os meus pais que, de sol a sol, trabalhavam a terra para o nosso sustento.
Nesse tempo, havia nas Quintas uma população estimada em cerca de vinte casais, todos eles com um rebanho de filhos. Toda a gente trabalhava nas terras e muitas das vezes colaboravam uns com os outros. Quando o trabalho era muito, ajudavam-se mutuamente. Se num dia íamos todos trabalhar para o terreno do vizinho, no outro vinham os vizinhos para o nosso, a compensar. Era uma espécie de troca de mão-de-obra.
Num dia sachava-se o milho e o feijão, no outro mondava-se o trigo e regava-se tudo. A rega era feita sempre ao pé. As ferramentas eram muito limitadas. Por exemplo, o foução era usado para cortar tudo o que havia na horta. Gadanhas ou outros utensílios mais modernos, não havia nada. Do nascer ao por do sol, era esta a rotina diária, acompanhada com um pedaço de pão, por volta das 10 horas. Ao meio dia, ao ouvir o toque das Avé Marias na torre da Vila, toda a gente parava, rezava e jantava. Depois do jantar, todos dormiam uma pequena sesta. A meio da tarde, comia-se alguma coisa e ao por do sol toda a gente largava o trabalho e ia para casa.
Como não havia relógios, o tempo de trabalho era regulado por cálculo e como orientação o nascer do sol, o toque dos sinos e muitas vezes o chilrear dos pássaros que nos acordavam de manhã muito cedo.

Relato de Joaquim Teodoro dos Santos, em pequena autobiografia, edição de autor, publicada pelo GEGA, em Janeiro de 2015.


José Teodoro Prata

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Matriz em miniatura


É uma miniatura da fachada da nossa Igreja Matriz, com imans atrás, para colocar no frigorífico.
O autor chama-se Duarte e tem uma loja de molduras na urbanização Quinta Pires Marques, bem perto da farmácia, em Castelo Branco.
Fez esta de São Vicente da Beira e tem mais de outras terras.
No verso, escreveu um endereço: molduralbi.blogs.pt

José Teodoro Prata

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Destino

Perguntei ao Destino
O que nos reserva o futuro
O Destino respondeu-me
Prevejo um tempo muito duro
Ao Destino perguntei
Qual o tipo de dureza
Respondeu-me; muita pobreza
Guerras, injustiças é o que sei
Destino; que desdita, má sorte
Dá-me também boas venturas
Só te posso anunciar as duras
Vão trazer muita tristeza e morte
Voltei a insistir
Destino, quero saber
Quem nos vai poder valer.
Tem fé; nova vida há de vir
Mais justa e fraternal
Humana e solidária
Feliz e igualitária
Em todo o lado e local
As guerras terminarão
Da face da Terra nessa altura
A vida vai ser menos dura
A paz, a harmonia, vencerão
Tens que ter compaixão,
Destino, tanto sofrimento.
Vais ver que a qualquer momento
Encontrarás uma solução
A semente para dar fruto
Tem primeiro que morrer
Para mais tarde renascer
E assim termina o luto
Zé da Villa

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Boletim agrícola - Junho


 Esta cerejeira estaria a vergar de cerejas, não fora o frio de há semanas que a fez perder os frutos e lhe queimou as folhas. Parece outono!


 Dos pessegueiros, ficaram só os paus...


As pereiras gostaram da chuva e do frio! Não são mediterrânicas...

Uma boa notícia: 
Um emigrante comprou o Balcaria e vai fazer plantações de oliveiras (abaixo da estrada) e medronheiros (acima da estrada), usando as mais modernas técnicas. 
Até meteu férias e esteve cá a tirar um curso de fruticultura, na Escola Superior Agrária de Castelo Branco.
Quem foi à Senhora da Orada, já viu os trabalhos que se estão ali a realizar.
Desconheço se o proprietário tem raízes na nossa região.

José Teodoro Prata

sábado, 11 de junho de 2016

Tempos gloriosos


Aproveitando a maré.... queria acrescentar mais uma fotografia desses tempos idos e "gloriosos". 
É mais um boneco que o meu primo João "Brito" tirou. Naquele tempo, ele, juntamente com o Chico do Caldeira, eram os fotógrafos de "serviço". 
Esta fotografia foi tirada num domingo à tarde no então novíssimo café do "João "Cagarola" tempos áureos da construção da barragem, a empresa Terbal "construtora do grande lago" empregava muitos operários, os cafés, os comércios fervilhavam de gente, durante dois anos o marasmo desapareceu. Quem não se lembra "rapazes e raparigas do meu tempo" do gira discos que lá existia. metia-mos uma moeda de dez tostões num orifício, escolhíamos um disco (Roberto Carlos, Roberto Leal, tango dos barbudos...) um braço ia buscá-lo e era uma torrente a deitar música.
Esta barragem foi a primeira grande albufeira do concelho, na freguesia já existia outra: "Sales Viana ou Penedo Redondo" que se situa na ridente povoação do Casal da Serra, custou 472.000$00 e foi construída em 1934.
A cidade com o tempo foi crescendo, a água daquela barragem passou a ser insuficiente daí a necessidade de se construir novo lago: desta feita o local escolhido foi o Casal do Pisco.
Adjudicada à empresa Terbal pela quantia de:-29.971.012$10; tem 16 m de altura, armazena 1.400.000 metros cúbicos de água; e por aí fora...
Do lado de baixo da barragem situa-se este lindo edifício "Lugar do Ainda" que se estava a transformar numa ruína. Aqui está um exemplo que deve ser seguido, a história da casa mantêm-se, o espaço enriquecido e valorizado. (Quem acode à casa Cunha!...).
O padre José Maria Sarafana do Rosário viveu os últimos anos da sua vida neste lugar, Fonte da Pipa. Era um homem alto, seco de carnes, coxeava um pouco, olhar penetrante e grave. Durante muitos anos, paroquiou as paróquias alentejanas de Bencatel, São Romão, o histórico santuário de Nossa Senhora da Conceição e a bela igreja de São Bartolomeu em Vila Viçosa.
Todos os dias o senhor Manuel "criado da casa" se deslocava na sua bicicleta à vila buscar o correio, comprar o pão...
Era um senhor forte, alto. Assim que chegava à fonte encostava o velocípede à parede da casa do senhor João "Coxo" (actual sede da banda), entrava na taberna, emborcava um canjirão e seguia à sua vida.
Com estes entretantos, quase me ia esquecendo da rapaziada da fotografia.
Da esquerda para a direita: Jaime Madeira (Jaime scanta) a fazer o seu cigarrinho; depois sou eu, o Zémanel mosca, enrolando o cigarro; Joaquim Ambrósio (Jaquim parrego) pensativo; José Augusto (Zé do café) empinando um caneco; por fim Madeira (Tó scanta) com o  cigarro pronto para ser fumado. Encenação...
Aqui deixo mais esta: Bebe vinho, mas nunca bebas o siso.

J.M.S