domingo, 8 de abril de 2018

Tira água à burra



A burra é um dos engenhos mais antigos e mais simples de tirar água dos poços.
Ainda não há muitos anos, havia muitas por todo o lado, principalmente se houvesse uma horta para regar. Atualmente ainda se vêem algumas, mas a maior parte já é pouco utilizada.
Eram de fácil construção: bastavam duas varas cujo comprimento variava de acordo com a fundura do poço, unidas uma à outra de forma a poderem articular-se. Uma delas era apoiada num poste de madeira que terminava em V (na da fotografia, o poste de madeira foi substituído por um de granito), e na ponta da qual, rente ao chão, era presa uma pedra que servia de contrapeso. Na ponta da outra vara pendurava-se um caldeiro que se fazia descer dentro do poço, até à água, puxando a vara para baixo com as duas mãos. Fazia-se depois o movimento contrário e despejava-se a água do caldeiro num tanque ou diretamente na regueira.  
Este trabalho, aparentemente simples, era feito muitas vezes por mulheres e até por crianças. Fi-lo algumas vezes, e gostava. O pior era quando a água era muita e as costas começavam a doer. Mas nem me queixava porque sabia que a resposta era sempre a mesma: «Ainda bem que há muita aguinha, filha, que sem ela havia de haver muita fome no mundo!».

M. L. Ferreira

sábado, 7 de abril de 2018

Fogos / Central de biomassa

Interior vai ter mais duas centrais, mas pode faltar a biomassa


Construção da central de biomassa na zona industrial do Fundão. 
A entrada em funcionamento está prevista para o final deste ano.

Está em marcha um investimento de €104 milhões em Viseu e no Fundão

Começaram a ser planeadas e construídas antes dos incêndios do último verão. Ou seja, com base num pressuposto de existência de biomassa florestal em quantidades mais que suficientes para a laboração normal destas duas novas centrais, no Fundão e em Viseu. Acontece que as chamas varreram tudo à sua passagem, incluindo a matéria-prima que estava disponível há anos — no chão das florestas e serranias — para estas duas unidades de produção de energia renovável.

Jornal Expresso online, 07.04.2018
José Teodoro Prata

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Origens da família Mesquita


            Penso que o sr. José Romualdo Mesquita e o seu irmão João Romualdo Mesquita foram os últimos a permanecer em São Vicente da Beira, filhos de José de Mesquita e de Maria do Carmo Romualdo.

            José de Mesquita nasceu em São Vicente da Beira a 2-02-1883 e Maria do Carmo Romualdo a 24-09-1871.
            João de Mesquita pai do anterior, nasceu em São Vicente da Beira em 1844 e casou com Maria do Patrocínio de Oliveira da mesma Vila em 1851, casaram a 4-11-1874 e tiveram: João de Mesquita * 12-01-1876, Luiz de Mesquita *14-07-1877, Maria Pulquéria Mesquita * 3-08-1879, Joaquim de Mesquita * 5-10-1880 (Padre) e José de Mesquita * 2-02-1883 (pai do José e João Mesquita).
            João de Mesquita pai do anterior, nasceu em São Vicente da Beira em *13-08-1808 Τ 08-01-1874, casou na Vila a 6-02-1832 com Maria Henriques *17-02-1804 Τ 20-09-1877.
            José de Mesquita pai do anterior, nasceu em São Vicente da Beira cerca de 1757 e casou com Roza Jacinta na Póvoa Rio de Moinhos e tiveram Anna de Mesquita, Jozefa Jacinta de Mesquita * 1801, Joana de Mesquita -1807 Póvoa de Rio de Moinhos, João de Mesquita *13-08-1808 e Antónia de Mesquita *24-03-1812.
            José de Mesquita Seixas, pai do anterior, nasceu em São Vicente, cerca de 1730, casou na Vila a 26-07-1753 com Maria Genoveva de Oliveira, natural de são Vicente da Beira, tiveram Anna Joaquina de Mesquita, José de Mesquita e penso que seria pai do Padre Francisco José de Mesquita, este penso que faleceu entre 1823 e 1830.
            Manuel de Mesquita, natural de Travanca, Amarante, casou em São Vicente da Beira a 20-03-1711 com Maria Velosa, natura da Vila.
            António de Mesquita, natural de Travanca, Amarante, casou em Travanca em 1688 com Antónia de Seixas *1655 natural de Travanca, Amarante.
            Domingos de Mesquita, natural de Pombeiro, casou com Damiana de Mesquita, natural de Ribas, Travanca, Amarante.
            Urbano Rodrigues, natural de Travanca, Amarante * 1610, casou com Maria Seixas * 13-09-1615, natural de Travanca, Amarante, pais de Antónia de Seixas.

Jaime da Gama

terça-feira, 3 de abril de 2018

segunda-feira, 2 de abril de 2018

A morte de Jesus

Há um ano, li o Novo Testamento, de Frederico Lourenço, um especialista em grego, professor da universidade de Coimbra, que está a traduzir a BÍBLIA, procurando reconstituir a versão original dos textos do livro sagrado dos cristãos. Na introdução que ele faz e com outro livro que lera anteriormente (O Domínio do Ocidente, de Ian Morris, um historiador judeu), fiquei com a convicção clara de que a renovação do judaísmo, pregada por Jesus, constituiu tal ameaça aos interesses do clero judaico que este teve de o matar para sobreviver. Aliás, na história conhecida de Jesus, contada nos Evangelhos, há um constante confronto entre Jesus e a elite religiosa do seu tempo.
É o que se defende neste interessante artigo, que muito contribuirá para aumentar a nossa cultura religiosa.
Encontrei-o em:
https://www.imperativoonline.pt/2018/03/31/jesus-nao-morreu-pelos-nossos-pecados-e-sim-por-enfrentar-o-sistema/

Jesus não morreu pelos “nossos pecados” e sim por enfrentar o sistema
 
Nesta Páscoa, transcrevemos um artigo do blog Caminho Pra Casa. Um artigo exclusivo de um dos maiores biblistas vivos, o frade italiano Alberto Maggi. A tradução é do padre brasileiro Francisco Cornélio. No texto, Maggi procura dar uma nova versão sobre a morte de Cristo.

Segundo o autor, os Evangelhos são claríssimos: Jesus morreu porque confrontou o Templo, um sistema de dominação e exploração dos pobres de Israel. Jesus não inaugurou o tempo da culpa, mas o da misericórdia e o da vida plena para os pobres.
A íntegra do artigo a seguir (em português do Brasil.)
Por Alberto Maggi   | Tradução: Francisco Cornélio

Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados. Essa é a resposta que normalmente se dá para aqueles que perguntam por que o Filho de Deus terminou seus dias na forma mais infame para um judeu, o patíbulo da cruz, a morte dos amaldiçoados por Deus (Gl 3,13).
Jesus morreu pelos nossos pecados. Não só pelos nossos, mas também por aqueles homens e mulheres que viveram antes dele e, portanto, não o conheceram e, enfim, por toda a humanidade vindoura. Sendo assim, é inevitável que olhando para o crucifixo, com aquele corpo que foi torturado, ferido, riscado de correntes e coágulos de sangue expostos, aqueles pregos que perfuram a carne, aqueles espinhos presos na cabeça de Jesus, qualquer um se sinta culpado … o Filho de Deus acabou no patíbulo pelos nossos pecados!
Corre-se o risco de sentimentos de culpa infiltrarem-se como um tóxico nas profundezas da psiquê humana, tornando-se irreversíveis, a ponto de condicionar permanentemente a existência do indivíduo, como bem sabem psicólogos e psiquiatras, que não param de atender pessoas religiosas devastadas por medos e distúrbios.
No entanto, basta ler os Evangelhos para ver que as coisas são diferentes. Jesus foi assassinado pelos interesses da casta sacerdotal no poder, aterrorizada pelo medo de perder o domínio sobre o povo e, sobretudo, de ver desaparecer a riqueza acumulada às custas da fé das pessoas.
A morte de Jesus não se deve apenas a um problema teológico, mas econômico. O Cristo não era um perigo para a teologia (no judaísmo havia muitas correntes espirituais que competiam entre si, mas que eram toleradas pelas autoridades), mas para a economia. O crime pelo qual Jesus foi eliminado foi ter apresentado um Deus completamente diferente daquele imposto pelos líderes religiosos, um Pai que nunca pede a seus filhos, mas que sempre dá.
A próspera economia do templo de Jerusalém, que o tornava o banco mais forte em todo o Oriente Médio, era sustentada pelos impostos, ofertas e, acima de tudo, pelos rituais para obter, mediante pagamento, o perdão de Deus. Era todo um comércio de animais, de peles, de ofertas em dinheiro, frutos, grãos, tudo para a “honra de Deus” e os bolsos dos sacerdotes, nunca saturados: “cães vorazes: desconhecem a saciedade; são pastores sem entendimento; todos seguem seu próprio caminho, cada um procura vantagem própria” (Is 56, 11).
Quando os escribas, a mais alta autoridade teológica no país, considerando o ensinamento infalível da Lei, vêem Jesus perdoar os pecados a um paralítico, imediatamente sentenciam: “Este homem está blasfemando!” (Mt 9,3). E os blasfemos devem ser mortos imediatamente (Lv 24,11-14). A indignação dos escribas pode parecer uma defesa da ortodoxia, mas na verdade, visa salvaguardar a economia. Para receber o perdão dos pecados, de fato, o pecador tinha que ir ao templo e oferecer aquilo que o tarifário das culpas prescrevia, de acordo com a categoria do pecado, listando detalhadamente quantas cabras, galinhas, pombos ou outras coisas se deveria oferecer em reparação pela ofensa ao Senhor. E Jesus, pelo contrário, perdoa gratuitamente, sem convidar o perdoado a subir ao templo para levar a sua oferta.

“Perdoai e sereis perdoados” (Lc 6,37) é, de fato, o chocante anúncio de Jesus: apenas duas palavras que, no entanto, ameaçaram desestabilizar toda a economia de Jerusalém. Para obter o perdão de Deus, não havia mais necessidade de ir ao templo levando ofertas, nem de submeter-se a ritos de purificação, nada disso. Não, bastava perdoar para ser imediatamente perdoado…
O alarme cresceu, os sumos sacerdotes e escribas, os fariseus e saduceus ficaram todos inquietos, sentiram o chão afundar sob seus pés, até que, em uma reunião dramática do Sinédrio, o mais alto órgão jurídico do país, o sumo sacerdote Caifás tomou a decisão. “Jesus deve ser morto”, e não apenas ele, mas também todos os discípulos porque não era perigoso apenas o Nazareno, mas a sua doutrina, e enquanto houvesse apenas um seguidor capaz de propagá-la, as autoridades não dormiriram tranquilas (“Se deixarmos ele continuar, todos acreditarão nele … “, Jo 11,48).
Para convencer o Sinédrio da urgência de eliminar Jesus, Caifás não se referiu a temas teológicos, espirituais; não, o sumo sacerdote conhecia bem os seus, então brutalmente pôs em jogo o que mais estava em seu coração, o interesse: “Não compreendeis que é de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e não pereça a nação toda?” (Jo 11,50).
Jesus não morreu pelos nossos pecados, e muito menos por ser essa a vontade de Deus, mas pela ganância da instituição religiosa, capaz de eliminar qualquer um que interfira em seus interesses, até mesmo o Filho de Deus: “Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança” (Mt 21,38). O verdadeiro inimigo de Deus não é o pecado, que o Senhor em sua misericórdia sempre consegue apagar, mas o interesse, a conveniência e a cobiça que tornam os homens completamente refratários à ação divina.
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Alberto Maggi, biblista italiano, frade da Ordem dos Servos de Maria, estudou nas Pontifícias Faculdades Teológicas Marianum e Gregoriana de Roma e na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém. É autor de diversos livros, como A loucura de Deus: o Cristo de JoãoNossa Senhora dos heréticos
Francisco Cornélio, sacerdote e biblista brasileiro, é professor no curso de Teologia da Faculdade Diocesana de Mossoró (RN). Fez seu bacharelado no Ateneo Pontificio Regina Apostolorum, em Roma. Atualmente, está em Roma novamente, para o doutorado no Angelicum (Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino), onde fez seu mestrado

Há anos, com o Album Cabeças no Ar, Rui Veloso, Tim, Jorge Palma, João Gil e Carlos Tê brincaram com o tema, tentando atualizar o primeiro confronto entre Jesus e os doutores do Templo. O resultado foi Jesus no Secundário: 
 https://www.youtube.com/watch?v=mQ9-ykfZpw8
 Fechem os olhos e ouçam...

José Teodoro Prata