domingo, 8 de abril de 2018

Tira água à burra



A burra é um dos engenhos mais antigos e mais simples de tirar água dos poços.
Ainda não há muitos anos, havia muitas por todo o lado, principalmente se houvesse uma horta para regar. Atualmente ainda se vêem algumas, mas a maior parte já é pouco utilizada.
Eram de fácil construção: bastavam duas varas cujo comprimento variava de acordo com a fundura do poço, unidas uma à outra de forma a poderem articular-se. Uma delas era apoiada num poste de madeira que terminava em V (na da fotografia, o poste de madeira foi substituído por um de granito), e na ponta da qual, rente ao chão, era presa uma pedra que servia de contrapeso. Na ponta da outra vara pendurava-se um caldeiro que se fazia descer dentro do poço, até à água, puxando a vara para baixo com as duas mãos. Fazia-se depois o movimento contrário e despejava-se a água do caldeiro num tanque ou diretamente na regueira.  
Este trabalho, aparentemente simples, era feito muitas vezes por mulheres e até por crianças. Fi-lo algumas vezes, e gostava. O pior era quando a água era muita e as costas começavam a doer. Mas nem me queixava porque sabia que a resposta era sempre a mesma: «Ainda bem que há muita aguinha, filha, que sem ela havia de haver muita fome no mundo!».

M. L. Ferreira

3 comentários:

José Teodoro Prata disse...

A burra, cegonha ou picota é uma dos mecanismos de rega mais antigos do mundo. Foi inventado nos primórdios da agricultura, no Egito, para regar as margens férteis do Nilo, e terá chegado à nossa região ao mesmo tempo que a agricultura, milhares de anos depois.

Gostavas, Libânia? Ajudei o meu pai a armar uma na serra do meu cunhado Joaquim e coube-me tirar a água algumas vezes: era duríssimo, pois tinha de se manter o ritmo de tiragem para a água correr nos regos...

M. L. Ferreira disse...

Isso era porque a horta do Joaquim seria muito maior que a nossa. Para além disso, sempre preferi os trabalhos mais pesados àqueles que normalmente davam a fazer às crianças; por exemplo, colher azeitona em vez de a apanhar do chão. Agora estou tramada, que tenho que a colher sozinha...

Unknown disse...

Aqui há uns anos andava "vagueando" pelas aldeias da nossa freguesia, a certa altura avistei uma burra, fiz um cliché e segui jornada
Também tirei muita água desta maneira, não era das tarefas que eu mais gostava, nunca mais via o fundo ao tanque.
O pobre tinha a burra, o rico, a nora
A partir de certa altura começaram a surgir os motores de rega,
as picotas desapareceram da paisagem rural e as noras que ainda existem passaram a maior parte delas a peças museológicas.

Comemora--se hoje dia 9 a celebre batalha de La Lis.
Há cem anos nas cercanías de Armentières milhares de soldados portugueses comandados pelo general Costa Gomes bateram-se valentemente nas trincheiras, os soldados alemães eram em maior número, as armas mais modernas...
Centenas pereceram, milhares de prisioneiros...
De entre todos os soldados, sobressaiu o soldado transmontano Aníbal Augusto Milhais "o soldado milhões". Com sua metralhadora bateu-se valentemente; o seu comandante voltando-se para ele disse-lhe
-Tens o nome de Milhais, mas vales milhões.
Em sua memória a sua terra "Valongo, Murça" desde 1924 que passou a chamar-se
-Valongo de Milhais
J.M.S