sábado, 24 de agosto de 2019

Apicultura: O 1.º desdobramento


Já vos contei que um dos meus dois enxames teve problemas em abril e por isso não aproveitou o máximo da floração e consequentemente produziu pouco mel.
Em fins de junho já não se fazem desbobramentos, pois as flores rareiam e por isso há pouco pólen para alimentar a criação. Mas o silvado do ribeiro estava a começar a floração e por isso decidi rentabilizar esse enxame e a partir dele fiz o meu primeiro desdobramento.
Usei quadros dos dois enxames, com criação de abelhas e zangãos. Estes são fundamentais para fecundar a futura rainha. No final da operação, concluí que não tinha criação de um ou dois dias (para as abelhas produzirem uma nova rainha), nem realeiras ou mestreiros (ovos de rainha). Mas decidi não abortar o desdobramento.
Dias depois fui ver como estava o gado e encontrei uma realeira num dos enxames. Levei-a logo para o novo enxame.
Um mês depois, este enxame já tinha muita postura de ovos, o que significa que tinha uma rainha. Agora, com dois meses, o novo enxame está bem e recomenda-se, como mostra a imagem acima. 

José Teodoro Prata

terça-feira, 20 de agosto de 2019

As mentas

As infusões de menta são muito agradáveis, não só ao paladar como também ao olfato, pois espalham pela casa um aroma muito bom.
Conheço desde sempre a menta suaveolens, mas só hoje soube o seu nome. Cresce nas zonas húmidas e sombrias, por isso abunda nos ribeiros. Não usava esta variedade para infusões, mas no verão passado a minha irmã Isabel levou-a consigo para Lisboa, colhida junto ao Pelome, e eu tive curiosidade em experimentar. Foi um sucesso!
Este ano já não faço a cama das árvores com o grande núcleo de menta suaveolens que tenho no Ribeiro Dom Bento. Colho-a para mim, família e amigos.


Caraterísticas desta menta, segundo o sítio https://blog.folhas-sugestivas.pt/mentastro-mentha-suaveolens-21944:
Outros nomes: hortelã brava, mentrasto, montraste.
Propriedades medicinais: analgésico, antisséptico, digestivo, carminativo.
Como usar: infusão, óleo essencial, tintura mãe.
Outras propriedades: tradicionalmente usado nos colchões para afastar pulgas.
Partes usadas: folhas.
Época de colheita: antes da floração no final da Primavera (nota pessoal: eu colho-a durante a floração).
Habitat: vive em solos húmidos em zonas próximas a cursos de água. Convive com silvas e juncos.
Atenção: em doses altas é toxico e não pode ser tomada por mulheres grávidas.

Ver mais dados e fotos aqui: https://jb.utad.pt/especie/Mentha_suaveolens

José Teodoro Prata

sábado, 17 de agosto de 2019

Sonhos em cinzas

Eis-me de regresso aos Enxidros, depois de uma ausência mais longa do que o planeado.
Tive ecos do fogo em volta da barragem do Pisco, mas não conhecia a dimensão da tragédia. Ontem soube pelo jornal Reconquista e hoje fui ver. A realidade é bastante mais trágica do que o pouco que se avista da estrada.
A família inglesa viu destruído o fruto do seu trabalho durante os cinco anos que durou o sonho de fazer da Fonte da Pipa o seu lar. O fogo entrou-lhe pela quinta e levou tudo: árvores, estufas, equipamentos agrícolas, tubagens de rega e uma carrinha. Fornecera água à empresa florestal que chegou em socorro, mas esta levou-a para as chamas nos eucaliptos...


Outro sonho desfeito foi o do Lugar do Ainda, na quinta do padre Sarafana. A zona habitacional ficou a salvo, mas ardeu parte do pinhal e desapareceu a paisagem que atraía os turistas, já receosos depois da catástrofe de Pedrógão. Não lhes chegava, e também a nós, nunca se ter concretizado, de facto, a rota pedestre circular em torno da barragem do Pisco, ligando o Lugar do Ainda à Praça de São Vicente...
E o sonho do dr.º Lino, não menos importante por já não estar connosco. Tantas vezes o vi com o jipe carregado de grandes vasilhas cheias de água com que regava os sobreiros que ia plantando, no Valouro. Muitos perderam-se com o fogo, que foi atalhado no meio deles. Felizmente são de uma espécie que rebentará daqui a meses. Os sobreiros são perenes, tal como o exemplo que o dr.º Lino nos deixou.

José Teodoro Prata
Imagem da notícia do jornal Reconquista, de 08.08.2019

terça-feira, 23 de julho de 2019

As riquezas inauditas do Paulino


 
Exposição nos antigos Paços do Concelho, visitável nas tardes das Festas de Verão ou noutra data a combinar com o João Paulino, pelo telemóvel 969 525 298.

Fotos do João Paulino
José Teodoro Prata

segunda-feira, 22 de julho de 2019

A barragem do Barbaído/Tripeiro

Este era o artigo mais importante do jornal Reconquista de 11 de julho. Alguns terão ficado ofuscados pelo sanvicentismo do artigo da Libânia e não deram por ele, embora estivesse na mesma página.
É um texto todo virado para o futuro, do planeta à nossa freguesia. Mas para captar toda a sua riqueza é preciso ler para lá do que vem explícito!

 

José Teodoro Prata

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vocações


A minha terra é quase só uma rua, enfiada no fundo duma barroca. Hoje em dia já mal se lá vê gente. Não tarda, há de ser só silvas, telhados no chão e cães estendidos ao sol. Mas nem sempre foi assim. Antigamente todas as casas tinham gente; algumas até pareciam cortiços. Com tantas bocas a pedir pão, não ficava uma leira por tratar. Não eram tempos de grandes farturas, mesmo a trabalhar de sol a sol, mas também não se passava fome. E sempre havia alguma coisa para alguém mais necessitado que batesse à porta. Naquele tempo andava por lá muita gente a pedir esmola; chegavam de cesta vazia, que diziam que nos outros lados lhes davam pouco, mas ali, antes de acabarem o Pai Nosso pelas alminhas, já tinham alguma coisa na mão, nem que fosse só uma fatia de broa ou uma malga de azeitonas.
A sala da escola estava sempre à cunha; uma fiada de cachopos e outra de cachopas. No ano em que eu entrei, a professora era uma rapariga de fora. Quando a víamos chegar, nas segundas-feiras de manhã, montada num burro, até parecia a Nossa Senhora; só lhe faltava o Menino ao colo, como naqueles quadros da igreja. E ensinava bem: aluno que levasse a exame não fazia má figura ao pé doutro qualquer. Mas um ano, tinha eu feito a terceira classe, quando chegou o primeiro dia de escola, não apareceu; nem ela nem ninguém para o lugar dela. Mais tarde ouviu-se dizer que tinha havido para lá umas políticas, mas nunca se chegou a saber ao certo o que é que tinha sido.
Pela minha mãe, que não sabia uma letra, ficava-me por ali, mas o meu pai queria que eu fizesse pelo menos o exame da quarta. Sempre era uma enxada mais leve que me deixava, como ele dizia, e não de acomodou. Um dia, já perto do Natal, levantou-se cedo e disse que não contássemos com ele senão para a ceia, que ia tratar dumas vidas. E eu que fosse com as cabras para o mato, se o tempo levantasse. Quando chegou, quase noite, vinha feito num pito, mas até os olhos se lhe riam:
- Para o ano que vem vais para o Casal da Serra. Fui lá a falar com a minha irmã e ela diz não se importa que fiques em casa dela até ao exame.
Quando chegou a altura, lá abalo com a bolsa dos cadernos ao ombro, para casa da minha tia. Naquele ano estava lá um professor muito exigente: aquele que não tivesse a tabuada ou os rios e as serras na ponta da língua, eram logo duas ou três reguadas em cada mão. A mim não me deu muitas, que eu também era esperto e aprendia bem; às vezes até me punha a ensinar as contas aos que iam mais atrasados.
Quando chegou ao fim do ano mandou recado ao meu pai, que fosse lá a falar com ele. Nunca foi homem de grandes falas, o meu pai, mas, depois dessa conversa, mal abria a boca. Até cheguei a ter medo que o professor lhe tivesse feito queixas de mim. Mas um dia à noite ouvi-o a falar baixo com a minha mãe:
- O professor diz que o rapaz é esperto, e é uma pena se não continuar; mas o dinheiro mal dá para as décimas, como é que o mandamos Castelo Branco?  
- Manda-o para o seminário, que é capaz de ser mais em conta.
- Olha que não é mal pensado. Se calhar ao domingo já vou à Vila a ver o que é que se arranja.
Naquela altura nem sabia o que era um seminário e até julguei que fosse algum daqueles ricos que davam trabalho a toda a gente. Fiquei logo a pensar que era bom era que me metesse como pastor, que era o que eu mais gostava de ser. E até já me via, na serra, atrás de um grande rebanho de cabras. A semana passou-se e quando foi ao sábado à noite, depois da ceia, disse-me ele assim:
- Amanhã salta da cama cedo, que tens que ir despejar a presa; vai num pé e vem no outro, que ainda hemos de ir à missa do meio-dia.
À missa? Ele, que era tão mal amigo de lá ir, para arrelia da minha mãe! Algum santo estava para cair do altar…
- Vossemecê nunca vai à missa, o que é que lá vai a fazer amanhã?
- Isso agora não são contas do teu rosário; logo vês.
Quando chegámos à Vila já era quase meio-dia. A igreja estava à cunha, mas vi um sítio com umas grades, que até parecia um bardo, e perguntei ao meu pai se não podíamos ir para lá. Ele disse logo que não, que aqueles lugares eram só para a gente fina. Bem me pareceu, só pelas caras…
No fim da missa entrámos numa taberna já cheia de homens encostados ao balcão. Deviam-se conhecer todos, que quando viram o meu pai ofereceram-lhe logo de beber:
- Bota aqui mais um copo para este homem, que não há olhos que o vejam há que tempos!  
-É assim a vida... O pão não vai a ter sozinho a casa.
Depois de dois ou três copos, saímos da taberna e metemos por uma rua acima. Mais ou menos a meio, o meu pai bateu a uma porta e disse que era para falar com o Senhor Vigário.
- Ah, mas ele ainda está a almoçar. Têm que esperar um pouco.   
Passado um bom bocado mandaram-nos entrar. O meu pai foi à frente e eu fiquei à espera, à entrada. A seguir chamaram-me a mim. Era uma sala grande, com uma mesa no meio. O Senhor Vigário estava sentado à cabeceira, numa cadeira que parecia a dum rei; cheirava tão bem que até fazia crescer água na boca.
- Chega-te aqui para o pé de mim, meu filho.
Aproximei-me e ele deu-me a mão para lha beijar. Depois pôs-me a mão na cabeça:
- Com que então queres ir para o seminário… Muito bem! Muito bem! Do que a Igreja precisa é de muitas vocações como a tua. E vais dar um belo padre! Ai isso é que vais… Mal possa, vou tratar do assunto; fica descansado que hás de entrar já este ano.
Assim que lhe ouvi estas palavras, compreendi logo quais eram as intenções do meu pai, mas não abri a boca. Quando me apanhei na rua, pernas para que vos quero; nem via o caminho. Só parei já para lá do cemitério.
Vocações como a minha? Não queria ele mais nada! Eu, que com os doze acabadinhos de fazer, já me punha a olhar para as cachopas, rua acima, com o cântaro à cabeça… 
Vocações?

Maria Libânia Ferreira

terça-feira, 16 de julho de 2019

Tirar o mel

Já crestei. 
Os dois enxames que comprei nos inícios de março ficaram a reproduzir-se todo o mês e só lá para meados de abril é que começaram a recolher néctar a sério.
Entretanto, o frio e a chuva de abril criaram problemas numa das colónias, que por isso perdeu a época alta da floração.
Resultado: 1 alça (caixa) de mel num dos enxames, incompleta porque dois dos quadros tinham criação e por isso tiveram de ficar na colmeia.
Foi uma festa! No apiário (às 6 horas) foi tudo fácil, apesar das expetativas que me tinham sido dadas. Depois, em casa, foi o maravilhamento face ao produto do trabalho de seres tão pequenos, mas com uma organização exemplar.





Os favos cheios de mel são tão maravilhosos que tinha pena de os esmagar e por isso guardei muitos (além de terem qualidades medicinais superiores ao mel). Depois esmaguei e espremi o resto com as mãos. Ficou tudo a escorrer num coador, para um balde.
Este mel da Gardunha é leve e muito aromático. 

José Teodoro Prata