segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Festa de São Vicente e São Sebastião

É um santo bem esquecido dentro da Igreja Católica, o nosso São Vicente (há muitos santos Vicente, o nosso é o de Saragoça). Nas Jornadas Mundiais da Juventude falou-se nele, pois é o padroeiro de Lisboa, a sede do patriarcado em que se realizaram as jornadas. Mas a net (não estive cá na altura) dá-me informações pouco substanciais do que foi dito.

Nós próprios o largámos de mão, logo no século XVII, quando o trocámos por Nossa Senhora como padroeira da nossa igreja. Ele nem padre era, apenas um diácono (grau anterior à ordenação sacerdotal), quando foi preso, torturado e morto pelos romanos, por teimar entusiasticamente em proclamar a sua fé em Cristo (o bispo da sua diocese foi apenas exilado).

Vicente, tal como muitos outros mártires cristãos da Hispânia, tornou-se logo um símbolo da resistência dos cristãos às perseguições e um exemplo de fé para os não cristãos (a maioria da população; na região onde vivemos ainda quase nem chegara o Cristianismo).

O seu culto foi crescendo, tornando-se um dos santos mais adorados pelos romanos, depois pelos visigodos e, a partir dos inícios do século VIII, pelos cristãos que persistiram em manter a sua fé cristã, sob domínio muçulmano (a maioria converteu-se ao Islamismo), os moçárabes. A zona da nossa freguesia seria um dos locais onde o seu culto era bem forte no período da Reconquista, sendo por isso que logo se restaurou a povoação ali existente e lhe foi dado o nome do santo, São Vicente. E durante a Idade Média havia feira franca em São Vicente da Beira, no dia 22 de janeiro, o dia da sua festa.

Como acima escrevi, trocámo-lo por Nossa Senhora como divindade protetora e a sua festa realiza-se agora em conjunto com a de São Sebastião, que tem poderes de proteger contra as pestes (ontem, à porta da capela, alguém enrolava uma fita vermelha ao pescoço e dizia que o santo o protegia das bichas) e promove a partilha cristã, pela realização de bodos para os pobres, ainda ontem simbolizado pela distribuição de papos-secos, tremoços e filhós (estavam boas).

Terminada a cerimónia religiosa, o simbolismo do bodo de São Sebastião prolongou-se por um almoço-convívio na Casa do Povo, que encheu o salão e se prolongou pela tarde. Obrigado ao Hélder Agostinho que penso ser o mordomo de São Sebastião e coordenou toda a festa religiosa e profana, obrigado extensivo à sua família e a todos, muitos, que se fartaram de trabalhar para proporcionar à nossa comunidade este momento de convívio e partilha.

José Teodoro Prata

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

O nosso falar: lambeteirice

 Estava num hipermercado com a minha mulher e, esgotada a lista de compras, perguntei-lhe:

- Não compramos nenhuma lambeteirice?

Que palavra! Na casa dos meus pais usavamo-la como sinónimo de guloseima, no sentido pecaminoso do termo (pretendia-se repreender a ato já praticado ou apenas desejado de gulodice).

Neste palavra, a net fica quase muda quando lhe pergunto. Só me mostra o lambeteiro, o mesmo que lambeta: mexeriqueiro e delator (Brasil), bajulador e adulador.

A lambeteirice lambe-se, se o guloso se controlar, claro. Em sentido figurado, o mesmo faz o bajulador e o adulador.

José Teodoro Prata

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Pelas brumas da Gardunha

 

O velho petrus


Ternura entre seres imperfeitos


Ave esculpida no granito


Fotos, legendas e título do Francisco Barroso

José Teodoro Prata

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Sobre a importância da Língua Portuguesa

Uma das coisas que me entristece muito é a dificuldade que tenho em manter uma conversa normal com os meus familiares que vivem no estrangeiro, principalmente os meus sobrinhos que já por lá nasceram. Os pais, por razões que percebo, deixaram-se levar pelo receio das mentalidades xenófobas dos países de “acolhimento”, que, por muito que disfarçassem, mais não cuidavam que da força dos braços dos emigrantes, ignorando (ridicularizando até) dimensões importantes da sua cultura. Foi o caso, por exemplo, da Língua Portuguesa, que quase desapareceu dos lares de muitas famílias que vivem lá fora.

Portugal poderia ter criado condições que evitassem esta situação, mas, mesmo sabendo que a Língua Portuguesa é um dos principais elos entre muitos milhões de pessoas, e que havia que cuidá-la, muito ficou por fazer.

Tenho andado a ler o livro de Seixas da Costa «Antes que me Esqueça», em que, para além da insinuação dos muitos almoços e jantares a que o Corpo Diplomático tem de assistir, aborda temas/episódios curiosos sobre as relações entre os diversos países e instituições.

Num dos textos, a que chamou “Demasiada memória” fala da sua missão em Angola na década de 1980: conta alguns problemas que existiam a propósito da liberdade de expressão na imprensa (sempre tão atual!), e termina a falar na importância da nossa Língua, comum a tanta gente. É este trecho que partilho com quem não conhece o livro:

«… À época, os editoriais do Jornal de Angola contra Portugal sucediam-se. A embaixada portuguesa em Luanda optara por não reagir, de modo a que essa catarse mediática não fosse estimulada por um contraditório que se via como de escassa eficácia. Por isso líamos matinalmente essas colunas agressivas e através delas íamos apenas medindo a febre de acrimónia contra Lisboa, esperando que o tempo a atenuasse, como de facto acabou por suceder.

Um dia vi publicado um texto de rara violência, já não sei bem a propósito de quê. Nele se referia que Portugal, como «o miserável país das caravelas decrépitas» era um colonizador frustrado, porque, contrariamente a outros, não deixara em Angola nenhuma herança positiva.

Sem consultar o meu embaixador, tomei a iniciativa de telefonar ao autor do texto. Era um jornalista e escritor de algum mérito, nascido em Portugal (…).

Disse-lhe que tinha lido o seu texto com interesse e queria felicitá-lo pelo mesmo. Do lado de lá da linha a resposta foi a esperada: «Você está a gozar comigo?» Respondi-lhe que não estava e que o artigo, cuja liberdade de apreciação sobre Portugal eu não contestava, comportava, contudo, uma evidente contradição de que ele talvez não se tivesse dado conta, mas que era a única razão do meu telefonema. O meu interlocutor estava cada vez mais perplexo. Até pela deliberada cordialidade que atravessava o meu discurso. Pelo que decidi explicar: «O seu artigo, independentemente do conteúdo agressivo contra o meu país, (…), está extremamente bem escrito e exprime, de forma brilhante, uma leitura crítica do comportamento do meu governo. Embora eu não concorde rigorosamente em nada com aquilo que escreveu, quero dizer-lhe que você está no pleníssimo direito de exprimir aquilo que pensa, embora eu imagino o que “por aí iria”se lá em Lisboa, o Diário de Notícias (…) se abalançasse a escrever uma coisa de natureza similar sobre o governo angolano, Mas não é essa hoje a minha questão. O que eu queria sublinha é que o texto está redigido num português exemplar, numa escrita de grande elegância estilística. Ora, você, diz nesse mesmo texto que nada ficou em Angola de herança lusitana! E essa língua em que você escreve tão bem? É uma herança de quem? Ou será que você é capaz de escrever um editorial em quimbundo, em umbundo ou em chócue, que qualquer angolano que saiba ler possa perceber? E em que língua se publica o Jornal de Angola? Que outra língua une hoje politicamente Angola? Esta é ou não é uma herança do tempo colonial?

(…)»

Claro que este texto pode levantar algumas questões relacionadas com a colonização ou as relações bilaterais, mesmo depois da independência; mas a razão por que o trouxe foi por comungar da ideia que nos dá de que, o maior legado que deixámos pelos lugares onde andámos, foi a Língua Portuguesa.

Quem é que, andando por fora do país, não vira logo a cabeça se ouve alguém a falar a nossa língua? É uma sensação estranha, mas de conforto…

M. L. Ferreira

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 Luís Batista

 

Luís Batista nasceu em São Vicente da Beira, no dia 26 de julho de 1893. Era filho de João Batista, ganhão, e de Maria de São João, moradores na rua da Cruz.

Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, em 13 de janeiro de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro. Após ter concluído a instrução recruta, foi licenciado e regressou a São Vicente.

Voltou a ser mobilizado em 1916, para fazer parte do CEP, e embarcou para França, no dia 21 de janeiro de 1817, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento de Infantaria 21, como soldado com o número 21 e a placa de identidade n.º 9123. No mesmo barco terá seguido também o seu irmão António Batista.

Sobre o tempo em que permaneceu em França, o seu boletim individual de militar do CEP refere o seguinte:

a)   Punido em 11 de outubro de 1917, com dois dias de detenção, por ter             comparecido na formatura com a barba por fazer, apesar das recomendações que lhe tinham sido feitas;

b)   Punido em 14 de outubro, com 10 dias de detenção, porque, fazendo parte da guarda ao Chateau de St. André, manifestou indícios de embriaguez, pelo que foi mandado recolher ao acantonamento;

c)    Punido no dia 6 de dezembro de 1918, com 5 dias de detenção, por ter saído do distrito da guarda ao acantonamento sem autorização;

d)   Recolheu ao Depósito Disciplinar 1, em 23 de janeiro de 1919;

e)   Embarcou para Portugal, no dia 25 de fevereiro de 1919, chegando a Lisboa no dia 28 do mesmo mês.




Família:

Antes de partir para França, Luís Batista já se tinha casado com Joana Ambrósia, na Conservatória do Registo Civil de São Vicente da Beira, a 25 de setembro de 1916. Tiveram 3 filhas, uma das quais faleceu com 4 anos de idade. Criaram:

1.    Maria da Conceição, que casou com João Maria Madeira e tiveram 9 filhos;

2.    Maria Zara, que morreu solteira e sem descendência.


Quando regressou a Portugal, como grande número dos militares que estiveram em França, Luis Batista apresentava algumas sequelas do stress e do efeito dos gases a que esteve sujeito durante a guerra. Não falava muito desses tempos; apenas, de vez em quando, dos amores que lá teve…

Um dos companheiros de guerra contava que uma vez, perto do Natal, saiu do acantonamento e andou por lá algum tempo. Quando regressou trazia alguns ovos e um pouco de farinha. Ficaram todos contentes porque, assim, puderam fazer uma espécie de filhós para lembrar o Natal da terra e matar algumas saudades.

Apesar das dificuldades, teve sempre um trabalho regular que lhe garantiu o sustento da família. Foi ganhão, como o pai, e fez todo o tipo de trabalhos agrícolas, como jornaleiro, durante muito tempo ao serviço da família Remualdo, nas Quintas.

Na terra, todos lhe chamavam Luís Gonzaga e ainda hoje é lembrado por esse nome. Nem a família mais próxima sabe porquê, mas é provável que fosse porque era esse o nome do padrinho de batismo (Luís Gonzaga de Jesus Pereira, que na altura era solteiro e estudante). Pode ser também porque era assim que se chamava o capitão da sua Companhia (Luís de Sousa Gonzaga).

Luís Batista faleceu no dia 20 de Março de 1979; tinha 85 anos.



(Pesquisa feita com a colaboração dos netos António Madeira e Isilda Madeira)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Boletim agrícola

Enxertias

Encontrei este quadro com o calendário das enxertias e acho útil partilhá-lo convosco. Apesar de cada região ter os seus costumes (neste caso, o seu calendário de enxertia – por exemplo nós fazemos pouca enxertia no tempo quente), o quadro sintetiza informação importante. Por mim, apenas divirjo na época da enxertia da videira, que sempre fiz no inverno, antes da rebentação.

José Teodoro Prata