Não sendo eu
um participante ativo na Revolução de Abril, pois como disse entrei para a
tropa no dia 24 de Abril de 1974, aí vão umas coisinhas que me aconteceram
nesses primeiros dias. É pouco, mas é de boa vontade:
Cheguei ao
quartel do Regimento de Infantaria nº 7, em Leiria, no dia 24.
Se já viste
um boi a olhar para um palácio assim era eu. Era eu e mais quinhentos que não
faziam a mínima ideia do que estava para acontecer na noite seguinte.
Nesse dia recebemos o fardamento, a roupa de cama, o armário e a cama.
No dia 25 de
Abril de manhã, estranhámos que não nos viessem despertar, pois já não era
cedo. Um colega que tinha um rádio minúsculo (para ouvir a bola), disse-nos que
estava a haver uma revolução. Na altura, achei que aquilo não era nada comigo.
Soube mais tarde que durante toda a noite e parte desse dia tínhamos sido o
alvo dos canhões do Regimento de Artilharia n.º 4 sediado no castelo do outro
lado da cidade de Leiria e cuja guarnição era a favor do Marcelo Caetano!
"Nós" éramos contra!!!
Tivemos
sorte, porque as bocas de fogo nunca chegaram a disparar, senão este vosso
herói talvez não estivesse aqui para contar.
Durante esse
dia 25 não saímos do quartel (talvez tivessem medo que nós matássemos alguém errado)
e assim foi até ao dia 30. Víamos movimentações de tropas, víamos as notícias
da T.V. e era só.
No dia 30 de
Abril fui para Lisboa!! Fiquei em casa do meu Tio Joaquim Caio, o Assobiador do
Chico Barroso. No dia 1 de Maio, saímos os dois para a rua a ver as
manifestações. Lisboa estava em festa. Nunca vou esquecer.
Nesse dia
também vi uma coisa estranha: Gente do Povo revoltada a perseguir e
prender certas pessoas.
Disse-me o
meu Tio que essas pessoas eram pides.
E.H.
Um dia, o Ernesto, vindo lá da revolução, ensinou-me a mim e a outros uma canção do Zeca que não conhecíamos.
José Teodoro Prata
Um dia, o Ernesto, vindo lá da revolução, ensinou-me a mim e a outros uma canção do Zeca que não conhecíamos.
José Teodoro Prata
5 comentários:
Zé.
O título é "Ó Ti Alves " Está no álbum " Eu vou ser como a toupeira" do Zeca, claro.
E.H.
Ernesto:
Gabo a forma diplomática como tu me informaste que me enganei.
E já andava enganado há muitos anos, por isso nem sequer me recordava da letra toda.
Esta música é soberba, um portento!
Obrigado. Já emendei.
Apesar do drama da guerra, a ida à tropa, para os rapazes, era quase um rito de passagem da juventude para a idade adulta. De tal forma que os que ficavam livres eram olhados com alguma desconfiança quanto a serem homens de facto. As coisas que o regime inventava para legitimar a guerra!
Ainda bem que o Ernesto nos pôde contar a sua experiência da ida à tropa sem complexos e com o humor que lhe é habitual! Desse tempo lembro-me ainda dos rebuçados de café que trazia de Montemor-o-Novo (espero que a memória não me esteja a atraiçoar…). Eram mesmo bons!
Mas esta história fala-nos também da falta de informação e consciência política da maior parte dos portugueses, principalmente os que, como nós, viviam no isolamento das pequenas cidades e aldeias do interior.
Lembro-me de um colega que tive já no sexto ou sétimo ano do liceu. Era o Carrilho. Sempre que vejo um retrato do Che Guevara lembro-me dele. Era um líder! Nos intervalos das aulas fazia autênticos comícios sobre a situação política do País. Ouvia-o com atenção, mas ao mesmo tempo achava que o que ele dizia era tudo mentira. Um louco!...
Que será feito dele? …
M. L. Ferreira
Libânia:
Mas esta é apenas a introdução às muitas histórias que o Ernesto nos "deve"!!!
Não te ponhas já a agradecer-lhe, pois ele fica pringueiro e não lemos mais nada!
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