sexta-feira, 10 de abril de 2015

Una saeta



Na Segunda -Feira de Pascoela , em conversa com um amigo espanhol, surgiu o tema da Semana Santa. Estive então a explicar-lhe, com a ajuda deste blogue e das fotos nele publicadas  dias antes, como era a Semana Santa em São Vicente. Esse amigo, depois de ver as imagens e o sofrimento que delas emanava, disse-me o seguinte:
- Eu desde sempre quis ir a Sevilha ver a Semana Santa até ao dia em que ouvi o poema de António Machado "La Saeta". Tu já o ouviste?
- Eu já ouvi falar do António Machado, através do Patxy Andion, mas dele não conheço nada.
Claro que fui logo ver o que se passava e primeiro que tudo descobri que "saeta" são as canções sevilhanas que se dedicam  às imagens, quando passam nas ruas, durante as procissões. Depois estive a ouvir o poema-canção.
É aqui que eu tenho a certeza absoluta que vocês vão dizer: - Lá vem este chato outra vez!
Correndo esse risco, vou traduzir para Português, porque o Zé Teodoro comentou da outra vez (Paco Bandeira) que as pessoas hoje não tem vagar para estas coisas, o que é verdade.

A SAETA DOS CIGANOS

Diz uma voz popular:

Quem me empresta uma escada
Para subir ao madeiro
Para tirar os cravos
A Jesus Nazareno

A Saeta ao cantar
Ao Cristo dos ciganos
Sempre com sangue nas mãos
Sempre por desencravar

Cantar do povo Andaluz
Que todas as Primaveras
Anda a pedir escadas
para subir à cruz

Cantar da minha terra
Que deita flores
Ao Jesus da agonia
E é a fé dos meus maiores

Só não és tu o meu cantar
Não posso cantar NEM QUERO
A esse Jesus do madeiro
Mas ao que andou sobre o mar

Fiquei então a saber que este meu amigo prefere o Cristo vivo e glorioso ao Cristo sofredor e por fim morto.
Ainda não voltei a falar com ele, mas pensei que seria um bom tema para os nossos teólogos e filósofos que, ultimamente, têm andado tão calados neste nosso blogue. Daqui lanço o desafio.
Quero só salientar que António Machado faleceu em 1939, o que faz refletir sobre o que se pensava já naquela época.

O tema cantado quero dedicá-lo ao Francisco Barroso (cá por causa de umas couves).

E. H.

3 comentários:

Anônimo disse...

Belo poema numa voz que nos encanta desde há tantos anos!
Não percebo nada disto e oxalá os teólogos e filósofos nos esclareçam um pouco, mas concordo com o amigo do Ernesto que prefere o Cristo glorioso ao Cristo sofredor. Também acho que a mensagem de Jesus é clara; mas cada um interpreta-a e pratica-a de acordo com o que lhe dá mais jeito…
Temos sorte em chegar a viver num tempo em que o chefe da Igreja Católica está do lado dos mais fracos e excluídos, não sei é se todos nós o acompanhamos neste desígnio.
Já agora, porque o poema também fala de ciganos, gostava de desabafar o seguinte: Para quem vive ou passa por Castelo Branco, nomeadamente pela avenida da Europa, habituou-se a ver um acampamento de ciganos onde viveriam bastantes famílias. Desde há algum tempo deixámos de os ver por lá. Entretanto nasceu um outro acampamento junto do canil municipal, provavelmente para “acolher” os que saíram da avenida Europa. As barracas que fizeram são horríveis (estruturas de barrotes cobertos com plásticos), a localização, perto do canil, quase dá para pensar o pior, por mais que eu goste de cães. Há dias passei por lá e vi que tinham colocado umas barreiras metálicas por cima do muro que separa a estrada do acampamento. Veio-me logo à ideia o ditado: “Longe da vista, longe do coração”. Uma vergonha, com tantas casas desabitadas por aí!

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Como tive o privilégio de ler o desafio do Ernesto dias antes de publicar o texto, fui pensando no assunto.
A minha primeira reação/opinião foi toda para o Cristo vivo, por fazer, edificar um projeto.
Mas o Cristo do Calvário foi ganhando terreno...
O que são uns discussões com os doutores do judaísmo, umas habilidades/magias para curar doentes, andar sobre as águas, fazer de água vinho ou despenhar porcos para o mar comparadas com o que se passou no Calvário?
Ali está toda a essência do Cristianismo: o amor, o perdão, a entrega total, o dar a vida pelos outros! E toda a sua força.

Ciganos:
No Bairro do Castelo sempre houve ciganos, perfeitamente integrados na sociedade albicastrense.
Depois nasceu um pequeno acampamento junto à estação da CP, à esquerda de quem atravessa o viaduto para a Carapalha. E depressa se tornou um enorme bairro de lata, pois eles não acham onde morar, uma vez que toda a gente lhes nega o arrendamento ou até a compra de casa.
O Joaquim Morão acabou com aquilo, através de habitação social na Horta d´Alva, um bairro na Sapateira (na descida para o Ponsul) e aluguer de casas da Câmara no Bairro do Castelo.
Mas não chegaram ou vieram mais de outros sítios. Logo nasceu o acampamento na saída para as Sarzedas e outro no Lanço Grande (saída para Idanha - este a Libânia não conhece).
Embora os detratores do Joaquim Morão e os racistas lhe chamassem "o amigo dos ciganos", a verdade é que as várias solução não foram perfeitas, exceto talvez a do Bairro do Castelo, pois criaram-se novos guetos.
No entanto, o problema é nacional e internacional e tentar resolver num só lugar não chega, pois vão para lá a correr todos os outros.
Por outro lado, a maneira de ser ("educação"), o estilo de vida comunitário (funcionar em grandes grupos) e a marginalidade de muitos dos seus membros tornam os ciganos de difícil aceitação e dificultam o encontrar de soluções dignas.
Mas são seres humanos como os outros, iguaizinhos, só que vivem num outro mundo, num ritmo/estilo diferente.

Anônimo disse...

Ernesto apreciei o teu gesto e registei.
O que espero é que continues a partilhar connosco as tuas descobertas pessoais. Eu, pessoalmente, tenho ao longo de todos estes anos, aprendido muito contigo, neste campo.
Abraço
FB