sábado, 9 de dezembro de 2017

Arquitetura tradicional do granito, Gardunha


Não me lembro dela. Escondida no meio das mimoseiras, só com o fogo ficou a descoberto.
Situa-se no alto de uma pequena elevação, entre a Barroca do ti Miguel da ti Laurentina e o Caldeira, perto do caminho para o Cabeço do Pisco, junto ao pinheiro manso.
Ao vê-la, parei o carro e fui fotografá-la:

 A abertura do forro faz lembrar velhos templos românicos.

 Do lado sul tem um curral entre a rua e a loja.

 Escavaram para ter pedra para a casa e aproveitaram o buraco para a loja.
O granito é de dente de cavalo (grão grosso).

 Vista dos lados sul e oeste.

Janela a lembrar seteiras, 
de um tempo em que nem todas as aberturas eram fechadas com portadas.

Lado oeste, entrada da casa.

Ao voltar ao caminho, cruzei-me com o meu padrinho e com os filhos João e Tó, a caminho da azeitona. Disseram-me que aquele monte, casa incluída, fora da ti Mari´Zé Afonso.
Em casa, a minha mãe contou-me que chegou a ir lá levar a merenda ao meu pai, que fez uns arranjos na casa. Quem lá morava era  a ti Áutua.
Gabei o sítio tão soalheiro, a arquitetura da casa e a sua solidez (sem uma rachadela). Ela olhou-me preocupada: "Não queiras comprar aquilo, aqui na terra as casas estão quase todas vazias, só moram duas ou três pessoas em cada rua!"
Esteja descansada, mãe. Não realizarei o sonho de acabar os meus dias sentado numa pedra soalheira, a olhar por umas cabritas. Mas que esta casa (e muitas outras que o fogo pôs a descoberto) valia a pena, isso valia! São já de um outro mundo, mas... Portugal está cheio de estrangeiros que se cansaram da agressividade da vida urbana e optaram por estes paraísos naturais das pequenas coisas.

José Teodoro Prata

2 comentários:

Anônimo disse...

Se algum mérito podemos encontrar no incêndio deste ano, é o de nos ter revelado uma Gardunha habitada e produtiva, como seria há muitos anos atrás. Vê-se pela quantidade casas e leirões que se avistam por ela acima.
Também fico maravilhada com as casas, algumas já em ruína, mas, mesmo assim, a revelarem-nos muitos aspetos da História dos nossos antepassados, sobretudo a sua ligação à terra. Imagino as histórias que contariam, se aquelas pedras falassem!...

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Casas boas de pedra aparelhada e de qualidade. Custará seguramente mais mandar edificar uma casa assim nos dias de hoje do que o valor das própria propriedade.
A tia Carlota do Zé Teodoro tem uma linda casa destas na Serra, com uma vista soberba, próximo do miradouro, com um forno de pedra ao lado, onde a minha mãe fez os bolos de leite mais belos que já vi, vá-se lá saber por quê? Conhecida pela casa do Vermelho, que tratou da propriedade muitos anos e que para além disso tratava todas as maleitas dos Vicentinos, com a celebre pomada 444, que eu uso ainda como after shave.
De maneiras que é assim...sem os 100 milhões o que é que se pode fazer?
FB