domingo, 2 de dezembro de 2018

No Vale de Alfaia

Quem vem de Tinalhas para São Vicente passa o segundo cruzamento para o Ninho e no final da reta, antes das curvas do Sobral, vira à direita, entra numa estrada de terra batida e, após cerca de 400 metros, chega à Quinta do Veríssimos, o Vale de Alfaia.
Vendem-se lá produtos locais e regionais, como enchidos, feijão seco, azeite e sobretudo os derivados do leite das ovelhas do produtor: requeijão, queijo fresco e queijo amanteigado.
Na sexta-feira fui lá pelo requeijão, mas já se acabara e acabei por trazer dois queijos frescos e ainda a novidade do dia:
Há meses, apareceu por ali uma cadela selvagem que começou a conviver com o cão de guarda, aproveitando a tolerância do dono. Veio a época do cio e a amizade entre os dois era cada vez mais forte. Mas uma noite passaram-na no vandalismo, pois de manhã havia 11 ovelhas feridas ou mortas.
O produtor passou a enxotar a cadela e a impedir o cão de guarda de andar com ela. A cadela ausentou-se.
Nas últimos dias, a ração desaparecia toda da gamela do cão e os donos começaram a ouvir de noite uns latidos e uns uivos desacostumados. Foram tirar a coisa a limpo e encontraram 4 cachorros já desmamados, escondidos entre a lenha.
A cadela teve as crias, criou-as e depois foi deixá-las ao pai, que tem uma vida bem mais fácil do que ela.
E esta, hein!!!

José Teodoro Prata

2 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Agora imaginemos as dificuldades que esta cadela passou para criar os filhos, tendo de procurar comida numa paisagem já tão humanizada!
E como terá levado os filhos do covil até à quinta? Marcha lenta, de toda uma noite, com muitos avanços e recuos, devido aos receios de mãe e às brincadeiras dos filhos ou tê-los-á levado um a um, abocanhados pelo pescoço?
Em qualquer caso, uma epopeia!

M. L. Ferreira disse...

Interessante, esta história! A reforçar a ideia de que qualquer lei de proteção aos animais nunca será demais. Estava era à espera de outro final... Até porque, para além de bons companheiros, os cães são bons guardas para os donos.
E sobre os padrões de comportamento da maternidade/paternidade dos animais,parece não são assim tão diferente dos humanos. Há pouco tempo a minha cadela teve uma ninhada (felizmente que só nasceram duas cadelitas). Durante o período de aleitamento foi duma dedicação comovente aos filhos: não saía da casota, não deixava que ninguém se aproximasse ou tocasse nas crias e qualquer cocó que elas fizessem era imediatamente limpo. Assim que acabou a amamentação, cada uma foi á sua vida e, que eu perceba, não restaram quaisquer sentimentos de família. Parece que era assim também no mundo dos humanos, há dois ou três séculos, em que as famílias tinham os filhos que Deus lhes queria dar, mas depois as crianças eram criadas sem grandes laços de afetividade.