segunda-feira, 15 de junho de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


Domingos Canuto


Domingos Canuto nasceu em São Vicente da Beira, no dia 9 de setembro de 1893. Era filho de Elisa da Conceição Canuto, jornaleira, residente na Vila.
Foi mobilizado para Angola, em 1914, como soldado de Artilharia, com o n.º 1289. Terá pertencido à mesma Companhia e feito o mesmo percurso inicial dos restantes militares, naturais de São Vicente, que fizeram parte da 1.ª Expedição enviada para aquela colónia ultramarina, logo no início da Grande Guerra. Faleceu pouco tempo após ter chegado a África.
José Silvestre, natural da Paradanta e seu companheiro em Angola, contava que, de todas as dificuldades que por lá passou, aquilo que mais lhe tinha custado foi ver morrer o amigo ao pé dele e não ter podido socorrê-lo, deixando-o para trás. «Guardou essa mágoa por toda a vida», como conta a filha Maria José.
Segundo a relação nominal dos mortos da Grande Guerra e respetivas pensões de sangue atribuídas aos familiares, Domingos terá falecido no dia 18 de Novembro de 1914. Já era casado e tinha um filho, quando partiu para Moçambique, porque, de acordo com a mesma lista, foi atribuída à viúva, então com 22 anos de idade, e à criança, na altura com um ano, a pensão de 72$00 anuais. Este era o valor mais baixo pago aos familiares das vítimas da guerra, manifestamente insuficiente se tivermos em conta a carestia de vida que se vivia por aqueles tempos, mas que correspondia ao pré dos soldados enviados para África.
A mãe de Domingos, Elisa da Conceição, nunca se terá casado e viveu sempre com muitas dificuldades. Contam que andava de terra em terra a pedir esmola e, sempre que passava pela Paradanta, ia bater à porta de José Silvestre, a perguntar porque é que não lhe tinham trazido o filho da guerra. Nunca se conformou que lho tivessem deixado ficar por lá.
Elisa faleceu em fevereiro de 1946, na condição de indigente, e dizem que ainda a chorar pelo filho. Não foi encontrado qualquer registo sobre a esposa e o filho de Domingos Canuto. É possível que não tivessem nascido em São Vicente da Beira.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

2 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Eram muitos os sanvicentinos nesta primeira expedição a Angola. Imagino a angústia que terá sido a morte do Domingos Canuto para aqueles jovens há poucos dias saídos da sua terra, com pouco tempo de serviço militar!

M. L. Ferreira disse...

Apesar de Domingos Canuto ser o único sanvicentino a morrer em África no contexto da Grande Guerra, outros, devido às más condições sanitárias, de alimentação, medicação, etc., regressaram com traumas e doenças que lhes reduziram muito os anos e a qualidade de vida. A eles e às suas famílias.
E não nos esqueçamos que a maior parte destes militares integraram uma primeira expedição para Angola ou Moçambique, regressavam passado um ano, e eram novamente mobilizados para uma segunda expedição.
As guerras são mesmo a pior coisa do mundo! Pelas consequências imediatas e a longo prazo, como vemos ainda atualmente…