terça-feira, 28 de setembro de 2021

Autárquicas 2021 - uma leitura pessoal

 Pontos prévios: Sou amigo, primo e cunhado do fotogénico provedor da nossa Misericórdia, e de esquerda, embora sem partido. Não procurei documentar-me especialmente sobre os assuntos que vou abordar, tenho apenas as informações que me foram chegando, como qualquer cidadão.

1. Como se previa, a candidatura independente do Rui Amaro Alves animou estas autárquicas, obrigando as outras candidaturas a um esforço suplementar de reflexão e apresentação de propostas aos eleitores. Acabou por ser prejudicado pelo voto útil resultante da disputa pelo poder entre o Sempre e o PS, mas penso que alcançou os seus objetivos (dar-se a conhecer e às suas propostas para o concelho), até porque não tinha implantação concelhia para ir mais longe.

2. São Vicente, a Santa Casa da Misericórdia e o Adelino Costa saltaram para as “bocas” da comunicação social local e nacional, pelo facto do Adelino integrar a lista do Sempre à nossa Assembleia de Freguesia, em lugar elegível, e simultaneamente a Câmara Municipal ter atribuído 250.000 euros à instituição que ele dirige como provedor. Como a Câmara Municipal se tornou, nos últimos meses, quase uma agência da candidatura do Sempre de Luís Correia (impressão generalizada que terá contribuído para o mau resultado eleitoral do Sempre junto do eleitorado urbano de Alcains e Castelo Branco e Cebolais-Retaxo - aqui foi eleita a lista de Sempre para a Junta, mas votou-se maioritariamente no PS para a Câmara e Assembleia), imediatamente se fez uma associação entre o dinheiro recebido pela Misericórdia e a candidatura do Adelino Costa. Não tenho informação privilegiada, mas partilho convosco o conhecimento que tenho sobre o assunto.

A renovação da cozinha do Lar da Misericórdia era uma necessidade e um imperativo legal que já vinha a ser negociada entre a anterior Mesa e a Câmara. O valor de 250.000 euros foi a quantia que a Câmara já atribuíra a um lar de outra freguesia do concelho para equipar a sua cozinha. Se o processo foi apressado para favorecer a candidatura apoiada pela Câmara e se teve como contrapartida a candidatura do Adelino só os envolvidos o saberão. Mas o que faria cada um de nós se estivesse no lugar do provedor da Misericórdia?

3. Estas eleições surpreenderam-me pela positiva, pela emergência de um político que muitos inicialmente menosprezaram e na campanha se revelou um líder excecional. Leopoldo Rodrigues, o Presidente da Câmara eleito, revelou-se um homem bom (já era) e um grande político: calou muitas sujeiras que lhe foram fazendo; rodeou-se de uma equipa jovem e dinâmica; foi buscar os antigos líderes socialistas locais; uniu o partido, fraturado pelas atitudes que Luís Correia tomara na Câmara (João Carvalhinho e Fernando Raposo); ele e a sua equipa elaboraram e apresentaram propostas para muitos setores da nossa vida comunitária. O futuro dirá se ele e a sua equipa têm futuro na Câmara, mas para já Castelo Branco ganhou um grande líder.

4. Na nossa terra, é tempo de unir ideias e vontades. É natural que uma campanha eleitoral tão intensa tenha deixado ressentimentos, mas a partir de agora a única atitude correta é unirmo-nos para tornar agradável a nossa vida comunitária. Pela minha parte, estou disponível para colaborar em tudo o que for necessário.

José Teodoro Prata

6 comentários:

José Barroso disse...

Zé Teodoro:
Concordo integralmente com tudo o que dizes. Acho que devias publicar o teu texto também no facebook porque teria muito mais visibilidade. É um facto: as pessoas cultivam mais aquela rede social em virtude de tudo estar à distância de um simples clique! Um clique ainda mais rápido que o do blog.
Não voto em S. Vicente da Beira, mas também eu simpatizei com os "Independentes" apoiados pelo MPT, que se apresentaram na Vila, como tive oportunidade de escrever neste blog, num Post de 20/6/2021, a propósito da candidatura do Rui Alves.
Também já escrevi (aqui ou no facebook), que não concordava com a candidatura do "Sempre", Luís Correia, à câmara de Castelo Branco (ou a qualquer outra), depois de ele ter sido afastado do cargo pelos tribunais, sem, pelo menos, um período de nojo. Afinal, se não acreditamos um mínimo, na justiça, em quem vamos acreditar? Acho, por isso, que a lei que permite essa hipótese deveria ser revista urgentemente. Nesse caso, por consequência, a lista do "Sempre" em S. Vicente da Beira (para a qual também fui convidado e disso não guardo segredo), não seria possível.
Quanto à questão do Adelino Costa, meu primo direito, amigo e bom rapaz, atual provedor da Misericórdia, foi, neste particular, injustamente colocado nas bocas do mundo; tendo sido indevidamente apontado num programa da RTP, "Sexta às 9", que não se documentou convenientemente sobre o assunto. Mas não é de admirar porque a senhora que o dirige já é useira e vezeira nessa matéria! Antes de tudo, ela que investigue a própria mãe, Fátima Felgueiras, ex-presidente da câmara de Felgueiras que esteve cerca de 2 anos no Brasil, fugida à justiça portuguesa devido a um caso de "saco azul" da autarquia.
Para concluir: os 250.000,00 euros atribuídos à Santa Casa da Vila, já tinham sido atribuídos (ou prometidos) no tempo do provedor anterior, João Maria dos Santos (ou, não sei exatamente, se mesmo ainda no mandato do João Prata). E, portanto, não existe qualquer conexão entre a lista do "Sempre" (onde está o Adelino, elaborada recentemente) e o presidente da câmara de Castelo Branco (ainda) em funções, mandatário do Luís Correia. A verdade acima de tudo!
Mas também gostei da eleição do Leopoldo Rodrigues.
Abraços, hã!
JB

José Teodoro Prata disse...

Zé: não tenho facebook.

M. L. Ferreira disse...

Senti-me tão baralhada e tão triste com esta campanha (e não foi só em Castelo Branco e São Vicente) que se tivesse que votar cá não sei se, pela primeira vez, não votava em branco. São situações como as que se viveram aqui e em muitas outras autarquias do país que levam cada vez mais gente a não votar ou a votar em partidos que Deus nos livre deles.
Agora que os votos estão contados, e interesses partidários à parte, que quem foi eleito tenha vontade e condições para fazer alguma coisa por quem confiou neles. Desejo-lhes muito sucesso.
Sobre o subsídio à Santa Casa da Misericórdia, há muito que deixei de ver o programa que trouxe o caso à baila, e como não tenho facebook nem tenho falado com muita gente nos últimos dias, desconhecia a polémica. Mas o caso só existiu porque dizer mal é uma coisa que nos está no sangue: se não tivessem conseguido o dinheiro para as obras, há tanto necessárias naquela instituição, era porque não tinham sido suficientemente ativos ou a câmara tinha preferido não gastar o dinheiro; como conseguiram, foi para favorecer um candidato. E isto apesar de também sabermos que estes casos existem e têm que ser denunciados e combatidos.

José Teodoro Prata disse...

Embora não goste nem veja o "Sexta às 9", é importante que estas coisas se saibam, aliás só chegaram à televisão porque já tinham sido amplamente divulgadas na comunicação social local e até o Presidente da Câmara se sentira na obrigação de de fazer uma conferência de imprensa a dar explicações.
E de facto a atribuição de mais de 1 milhão de euros na fase de pré-campanha, período em que as listas estavam a ser formadas, foi tudo menos inocente. Cada caso foi um caso e só os próprios saberão como as coisas se passaram. Mas que esta prática dos políticos instalados no poder usarem os dinheiros públicos quando e para o que querem é uma subversão do jogo democrático. Já o caso de alguns que terão sido "obrigados" a concorrer, acho-os sobretudo vítimas destas práticas.
Imaginemos que foi isso que se passou com o subsídio à nossa Misericórdia: independente do que cada um pense sobre o assunto, o que faria se fosse o provedor? É que, na decisão, não estava só em causa a pessoa que decide, mas sobretudo o cargo que se exerce e a instituição que se dirige.
No passado achava mal estas denúncias, mas agora penso que elas são importantíssimas para limpar a política destes vícios de tantos políticos. Temos de limpar a casa da democracia para não dar razão a outros que a quererem destruir, com o argumento de que está pobre.

José Barroso disse...

Deixem-me dar só mais uma achega ao caso.
Como pessoas bem intencionadas e sem ocupar cargos políticos (ou outros), nós pretendemos sempre que tudo se faça de forma linear e perfeita. É assim que deve ser. Nunca estive tão de acordo convosco. Também entendo que os políticos que estão nos cargos e são de novo candidatos, não deviam distribuir milhões nas vésperas das eleições, porque isso os coloca em vantagem; não só a eles, mas ainda àqueles a quem pretendem beneficiar (porque são da mesma cor política ou amigos, etc). Mas uma coisa é a ética e outra a realidade da política. E pelo meio fica a realidade jurídica.
Vamos ver:
Os autarcas não deixam todos as obras para o ano das eleições, a fim de que o eleitor leve essa impressão quando vai à mesa de voto? Claro que sim.
Não foi o António Costa que, em véspera de eleições, andou a prometer tudo e mais alguma coisa com o dinheiro da "bazuca", quando esse dinheiro já estava destinado a vir para o país para atender à mossa deixada pelo Covid-19? Também parece.
São só dois exemplos. E eu julgo que não sou suspeito porque (habitualmente) voto nele (Costa).
O que está aqui em causa (e cá temos a questão jurídica) é que a esperteza (mesmo que seja saloia), pode admitir-se, se não colidir com a lei. Já aqui escrevi, em tempos, que nós, que queremos tudo muito direitinho, acabamos sempre por admirar a sagacidade de um político, do mesmo passo que desprezamos a sua ingenuidade.
Portanto, só há uma coisa a fazer, não para resolver o problema, mas procurar minorá-lo: é publicar uma lei a proibir que, num determinado prazo anterior às eleições, nenhum político poderá fazer ou prometer seja o que for. E isto é exequível? Talvez.
Vejamos este caso: o mesmo Costa, há uns dois anos, além de outras coisas, conseguiu fazer ministros o marido e a respetiva mulher e ainda um pai e sua filha. Não era muito ético, mas foi tudo legal. De facto, não havia qualquer impedimento na lei a estas 'brilhantes' decisões, porque o legislador, provavelmente, esperava que qualquer chefe de governo tivesse um certo bom senso. Como isso não aconteceu e, após cerradas críticas, penso que fizeram uma lei a proibir que os parentes e afins até um certo grau, não podem ser nomeados simultaneamente para o mesmo governo! Dá vontade de rir. Mas, às vezes, é mesmo preciso pegar-lhes na mão para lhes indicar o trilho!
Ora, com as promessas e distribuição de benesses em vésperas de eleições, se calhar, é capaz de ser preciso fazer o mesmo.
Mas, repito, não me parece que os contornos concretos do caso da Misericórdia se enquadre (pelo menos não parece típico) numa campanha com segundas intenções.
Abraços, hã!
JB


M. L. Ferreira disse...

Quanto às obras das autarquias em vésperas de eleições, o José Barroso tirou-me as palavras da boca. Sobre o aparente favorecimento de instituições cujos dirigentes são da mesma cor política do presidente em exercício, ajudaria a esclarecer a situação se outras, de cores diferentes, viessem dizer se também tinham pedido apoio e lhes teria sido negado. Será que as houve?
E, já agora, e isto não tem qualquer juízo sobre um ou outro candidato, achei deprimente ver algumas pessoas que há oito e quatro anos apoiavam determinados pessoas pondo as mãos no lume pelas suas capacidades e honestidade, e agora vemo-los em bicos de pés junto de candidatos diferentes. Será que andavam tão cegos na altura e não conheciam os factos de que vieram a ser acusados, ou os apoio é apenas em função dos interesses do partido ou dos proveitos próprios que podem tirar?