terça-feira, 18 de outubro de 2022

Biblioteca Dr. Hipólito Raposo

 Abertura ao público

Embora a Biblioteca ainda não esteja organizada de acordo com as regras devidas (é um trabalho que leva muito tempo), pensamos que já tem condições que permitem a sua reabertura e utilização por todos os que gostem de livros ou que começam agora a descobri-los.

Esperamos que sejam muitos! 

De acordo com as necessidades, esta informação (horário de funcionamento) pode ser reajustada. 


 
M. L. Ferreira

Fotografias da Conceição Luzio

3 comentários:

Anônimo disse...

Uma mais valia para São Vicente, resultado de muito esforço das nossas vicentinas, é de louvar o trabalho voluntário efetuado, com muita vontade e enfrentando constrangimentos. Esperemos que haja empatia por parte da população, afinal os livros são os nossos melhores amigos.
Tina Teodoro

José Barroso disse...


Parabéns pela iniciativa e pelo trabalho.
Reconheço que, embora fazendo um certo esforço, padeço de iliteracia nas áreas da informática e do digital, uma vez que tudo isso apareceu, por assim dizer, há meia dúzia de dias! E salvo algumas exceções, isso acontece, inevitavelmente, com as gerações mais antigas. Costumo dizer que nasci 50 anos antes do tempo! O que, na verdade, não passa de uma ilusão! Visto que, em face do progresso, todas as pessoas, em todos os tempos e lugares, poderiam dizer o mesmo. No entanto, em determinados momentos, de acordo com o estádio da Ciência, esta parece dar saltos a que, normalmente, se chama mudança de paradigma. É o que eu acho que está a acontecer com a atual transição para o digital. E é por essa razão que é maior a dificuldade de as pessoas, não especializadas, poderem acompanhar o progresso na área.
Mas toda esta conversa para quê? É que eu julgo que nos fins do século XIX se verificou algo de idêntico. Percebeu-se a importância da Escola para a passagem da sociedade rural para a sociedade industrial e dos serviços, que se lhe seguiu. Isso não era possível, sem a população, em geral, saber, cada vez mais, sobre letras e números, o que já tinha sucedido em países mais avançados.
Em Portugal, a passagem da sociedade rural para uma sociedade mais moderna foi muito tardia e só veio a dar-se nos nossos dias, sobretudo com a revolução de 25abril74 e com a entrada do país para a UE.
Recordo-vos um poema de Augusto Gil, creio que de 1873, sobre a importância de saber ler, que é, verdadeiramente, delicioso e, ao mesmo tempo, retrata a sociedade portuguesa, marcadamente rural, daquela época.

« O EDITAL

Manuel era um petiz de palmo e meio
(ou pouco mais teria na verdade),
de rosto moreninho e olhar cheio
de inteligente e enérgica bondade.

Orgulhava-se dele o professor…
No porte e no saber era o primeiro.
Lia nos livros que nem um doutor,
fazia contas que nem um banqueiro…

Ora uma vez ia o Manuel passando
junto ao adro da igreja. Aproximou-se
e viu à porta principal um bando
de homens a olhar o quer que fosse.

Empurravam-se todos em tropel,
ansiosos por saberem, cada qual,
o que vinha a dizer certo papel
pregado com obreias no portal…

“Mais contribuições!” – supunha um.
“É pràs sortes, talvez” – outro volvia.
Quantas suposições! Porém, nenhum
sabia ao certo o que o papel dizia.

Nenhum (e eram vinte os assistentes)
sabia ler aqueles riscos pretos.
Vinte homens e talvez inteligentes,
mas todos – que tristeza analfabetos!…

Furou Manuel por entre aquela gente
ansiosa, comprimida, amalgamada,
como uma formiguinha diligente
por um maciço de erva emaranhada.

Furou, e conseguiu chegar adiante.
Ergueu-se nos pezitos para ver;
mas o edital estava tão distante,
lá tanto em cima, que o não pôde ler.

Um dos do bando agarrou-o então
e levantou-o com as mãos possantes
e calejadas de cavarem pão…
Houve um silêncio entre os circunstantes,

e numa clara voz melodiosa
a alegre e insinuante criancinha
pôs-se a dizer àquela gente ansiosa
correntemente o que o edital continha.

Regressava o abade do passal
a caminho da sua moradia.
Como era já idoso e via mal,
acercou-se para ver o que haveria…

E deparou com esse quadro lindo
duma criança a ler a homens feitos,
dum pequenino cérebro espargindo
luz naqueles cérebros imperfeitos…

Transpareceu no rosto ao bom abade
um doce e espiritual contentamento,
e a sua boca, fonte de verdade,
disse estas frases com um brando acento:

” – Olhai, amigos, quanto pode o ensino…
Alguns de vós são pais, outros avós,
pois só por saber ler, este menino
é já maior do que nenhum de vós!”

AUGUSTO GIL ».


Abraços, hã!
JB

José Teodoro Prata disse...

Lindo poema!
E parabéns a quem tornou possível a abertura da Biblioteca, há tantos anos fechada. Pelas fotos, tem imensos livros e o espaço é acolhedor.
Que venham os leitores!