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terça-feira, 14 de abril de 2020

Os Sanvicentinos na Grande Guerra


 António Simão de Matos


António Simão de Matos nasceu no Casal da Serra, a 8 de janeiro de 1892. Era filho de Simão de Matos, cultivador, e de Leonor Maria.
Assentou praça em Castelo Branco, a 12 de junho de 1912, e foi incorporado no Grupo de Baterias de Artilharia de Montanha. Na altura era analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.
Ficou pronto da instrução da recruta em 30 de maio de 1913, e foi licenciado no dia seguinte, indo domiciliar-se no Casal da Serra. 
Passou ao Regimento de Artilharia de Montanha, em 1 de novembro de 1913, e foi destacado para Moçambique, integrando a 1.ª Expedição enviada para aquela província ultramarina.
Embarcou no dia 11 de setembro de 1914, a bordo do navio inglês Durban Castle. Após mais de um mês de viagem chegou a Lourenço Marques e daí seguiu viagem para Porto Amélia, a norte de Moçambique. Embarcou de regresso à Metrópole, em 9 de novembro de 1915, e foi licenciado a 11 de março de 1916.
Foi novamente mobilizado para seguir para Moçambique, para onde partiu a 2 de Julho de 1917, fazendo parte do contingente de reforço à 3.ª Expedição que tinha saído de Lisboa em maio de 1916 e se encontrava bastante debilitada na sequência das baixas por morte, exaustão e doenças de que sofriam muitos militares que a integravam. Regressou à Metrópole no dia 22 de Janeiro de 1919.
Condecorações:
·      Medalha comemorativa das campanhas realizadas em Moçambique.
·      Medalha da Vitória.

Família:
António de Matos casou com Celeste da Conceição, no dia 24 de novembro de 1920, e tiveram 6 filhos, um dos quais faleceu com apenas dois anos de idade. Criaram:
1.    Maria Celeste de Matos Barroso, que casou com Francisco da Conceição Barroso e tiveram cinco filhos;
2.    Joaquim António de Matos, que casou com Maria de Jesus e tiveram dois filhos;
3.    Ana Celeste da Conceição, que casou com Manuel Gonçalves e tiveram um filho (mãe e filho foram assassinados em Maputo, Moçambique, onde viviam).
4.    José António Matos, que casou com Maria Josefa de Jesus Simão de Matos e tiveram dois filhos que chegaram à idade adulta;
5.    Luís António de Matos, que faleceu ainda jovem.

«As minhas primas e eu temos o mesmo nome, porque tanto os meus tios como o meu pai quiseram prestar homenagem à minha avó que faleceu em 1946, ainda muito nova. Assim, somos três primas todas chamadas Celeste!
O meu avô fez o serviço militar em Évora e depois foi mobilizado para ir para África, onde esteve duas vezes.
No fim da primeira incorporação, foram rendidos por uma outra incorporação e dois anos depois foram eles que renderam novamente os da segunda incorporação. Quando acabou a segunda incorporação do meu avô, também acabou a guerra. Contava que os oficiais não demonstraram grande alegria pelo fim da guerra, contrariamente aos soldados (provavelmente pelo fim de algumas vantagens que acabariam).
Um irmão mais novo do meu avô, de nome José de Matos, também esteve na guerra em Moçambique, na mesma altura e no mesmo lugar que o meu avô. Voltaram os dois com vida, infelizmente não chegaram a tempo de abraçar o pai deles, Simão de Matos, que faleceu antes do regresso dos filhos.
Conta o meu pai que o meu avô nunca foi muito de falar do tempo em que andou na Guerra, mas lembra-se de o ouvir dizer que no dia em que desembarcou em Lisboa, vindo de Moçambique, um homem chegou ao pé dele a pedir-lhe um cigarro. Enquanto o acendia, o tal homem perguntou-lhe se não gostaria de ir para a GNR, que, se quisesse, ele encarregava-se de o meter lá. A resposta do meu avô foi logo:
- Farto de fardas estou eu! O que quero é voltar para a minha terra o mais depressa possível, para matar saudades da minha família. 
Viveu sempre no Casal da Serra, a trabalhar no campo, mas gostava de viajar. Ainda foi uma vez a França, onde esteve três meses na casa do filho Joaquim.
Quando ele morreu, eu ainda era muito novinha e vivia com os meus pais em França, mas lembro-me bem dele. Era um homem bonito, andava sempre bem vestido e era muito meigo. Quando vínhamos de férias a Portugal, mimava-nos muito e ficava sempre a chorar quando abalávamos. Houve um ano em que ele ficou muito triste e não disse «Até pró ano», como costumava dizer. Achei estranho… Morreu passados uns meses e já não o voltámos a ver.» (Testemunho da neta Celeste Simão de Matos)

António Simão de Matos faleceu no dia 16 de janeiro de 1981. Tinha 89 anos.

(Pesquisa feita com a colaboração do filho José António Matos e da neta Celeste Matos)

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"