Em Março de 1840, a Junta da Paróquia foi solicitada pela Câmara Municipal a apresentar a lista das pessoas que tinham direito a votar e a ser eleitas, na eleição dos senadores e deputados.
Propuseram-se os seguintes votantes:
Vila
António Rodrigues Castanheira
António de Oliveira
António Leitão
António Ferreira de Carvalho
Bonifácio José de Brito
Bernardo António Robles
Domingos Silva
Francisco António Leitão
Francisco António de Macedo
Francisco Duarte Lobo
Francisco Henriques
Francisco Rodrigues Lobo
Francisco Vaz Raposo
Francisco Nicolau
Francisco Cardoso de Almeida
Francisco Cardoso Sénior
Gregório Fernandes
Jacinto Nunes
João Robalo da Cunha
Padre João António Ribeiro
João Duarte Neto
João de Mesquita
João dos Santos Vaz Raposo
João Agostinho
João Duarte Remoaldo
João Duarte Marques
João Duarte do Casal
João de Oliveira Couto
Joaquim José da Rocha
Joaquim Duarte Lopio
Joaquim de Macedo
Joaquim Nunes
Joaquim José Gonçalves
Padre José Fernandes
Padre José Vaz
José Henriques Sénior
José Hipólito
Padre José Maria de Moura
José da Conceição
Padre Manuel Marques Leite
Manuel Simão
Manuel Duarte Durão
Manuel de Oliveira
Matias Henriques
Matias Vaz dos Santos
Casal da Serra
João Caetano
Joaquim Cruz
José Caetano
José Cruz
Manuel Cruz
Pereiros
António Fernandes Pedro
João de Oliveira
José António
Manuel Brás
Manuel Rodrigues
Paradanta
João Mendes
João Monteiro
Rodrigo Leitão
Partida
António Fernandes Varanda
António Martins
Domingos Fernandes Raposo
João da Costa
José Freire
Manuel Martins Dâmaso
Manuel Martins Pedro
Vale de Figueiras
Domingos Vicente
João Martins Pedreiro
José Rodrigues do Ribeiro
Manuel Francisco
Violeiro
Francisco Vaz
José Fernandes Sapateiro
Mourelo
Francisco Varanda
João Faustino
Manuel Leitão Matias
Manuel Gonçalves Bartolomeu
Tripeiro
Francisco José do Lopio
Francisco Valentim
Francisco Afonso
João Ramalhoso
Joaquim Magueijo
José Martins
Paulo Lourenço
Cidadãos da freguesia com direito a serem votados deputados:
1.º Bonifácio José de Brito Coelho de Faria
2.º João Robalo da Cunha Pignatelly da Gama
3.º Padre Manuel Marques Leite (Vigário)
Cidadãos da freguesia com direito a serem votados senadores:
Nenhum
Notas:
1.Relembro que o direito de votar e ser eleito se baseava nas posses do chefe de família. Os remediados podiam votar e os mais ricos podiam votar e ser eleitos. Os pobres não tinham direitos políticos, assim como as mulheres.
2. É curiosa a abundância de homens chamados Francisco e João. A grande devoção a São Francisco e a São João Batista influenciava a escolha dos nomes para os bebés rapazes.
3. Ainda se designavam as pessoas pela profissão e pelo local de origem: João Martins Pedreiro e José Fernandes Sapateiro; Francisco José do Lopio (Casal do Lopio – Barbaído) e João Ramalhoso (Casal do Ramalhoso – Sobral do Campo). Aos pais com filhos do mesmo nome acrescentava-se Sénior: José Henriques Sénior e Francisco Cardoso Sénior.
4. Estes 82 eleitores representavam 25% das famílias da freguesia, tendo em conta os dados do Censo de 1801 (323 vizinhos e 1397 habitantes). Em 1878, a freguesia já contava com 2248 pessoas, registando-se assim, um significativo aumento da população. Em 1840, o número de vizinhos (aglomerados familiares) seria superior a 323, pelo que os 82 eleitores representariam 23% a 24% dos vizinhos. Em média, em cada quatro famílias havia uma com um eleitor.
5. Em 1840 a Junta da Paróquia integrava os seguintes membros:
Presidente: António Rodrigues Castanheira
Regedor: Francisco Henriques
Matias Henriques
João da Conceição
José Rodrigues Marques
João Duarte Marques
Substitutos: Manuel de Oliveira, José Duarte Marques, Joaquim Henriques, João da Silva Lobo e José da Conceição.
Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Arte Rupestre do Tejo
A Açafa n.º 4, da AEAT (Vila Velha de Ródão), é inteiramente dedicada à arte rupestre do Tejo. Aqui deixo a informação:
Exmo(a) Senhor(a)
Temos o gosto de informar que estão disponíveis para consulta os primeiros textos, abaixo identificados, do nº 4 (2011) da revista digital Açafa On-line relativos aos 40 anos do início da descoberta da arte rupestre do Tejo
- A geração do Tejo (António Carlos Silva)
- 40 anos depois - a Arte do Tejo no seu labirinto… (António Martinho Baptista)
- Vale do Tejo - a Ventura da Arte Rupestre (Francisco Sande Lemos)
- Ródão, há quatro décadas, um eixo vertebrador do “meu mundo” (Luis Raposo)
- Vão estas palavras… extractos de cadernos de campo de 1972/73 (Teresa Marques)
- 40 anos depois… (Vítor Serrão)
Atalho directo para consulta: http://www.altotejo.org/acafa/acafa_n4.html
Página da Associação de Estudos do Alto Tejo: www.altotejo.org
Com os melhores cumprimentos
Hélder Catarino
Coordenador Geral
Exmo(a) Senhor(a)
Temos o gosto de informar que estão disponíveis para consulta os primeiros textos, abaixo identificados, do nº 4 (2011) da revista digital Açafa On-line relativos aos 40 anos do início da descoberta da arte rupestre do Tejo
- A geração do Tejo (António Carlos Silva)
- 40 anos depois - a Arte do Tejo no seu labirinto… (António Martinho Baptista)
- Vale do Tejo - a Ventura da Arte Rupestre (Francisco Sande Lemos)
- Ródão, há quatro décadas, um eixo vertebrador do “meu mundo” (Luis Raposo)
- Vão estas palavras… extractos de cadernos de campo de 1972/73 (Teresa Marques)
- 40 anos depois… (Vítor Serrão)
Atalho directo para consulta: http://www.altotejo.org/acafa/acafa_n4.html
Página da Associação de Estudos do Alto Tejo: www.altotejo.org
Com os melhores cumprimentos
Hélder Catarino
Coordenador Geral
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sexta-feira, 4 de novembro de 2011
O nosso falar: gravanada
Ontem o dia esteve de gravanadas.
Fui a São Vicente. Sobre Almaceda e a Partida caía uma chuva forte, mas na Vila ainda brilhava o sol. A caminho do Ribeiro de Dom Bento, parei o carro para limpar a terra de uma valeta, pois a água abre sulcos no caminho. Mas caiu uma gravanada e tive de fugir para o carro. Depois estiou. Na descida do Carvalhal Redondo, nova paragem por causa de uma valeta cheia de caruma. Continuei caminho e outra gravanada obrigou-me a esperar, à chegada.
Parou de chover e fui colher alguns diospiros atrasados e depois apanhei as poucas castanhas que os esquilos deixaram para mim.
"Obrigado, esquilos. Para o ano, nem vale a pena tapar os ouriços com a rede. De uma forma ou de outra, são vossas. Sirvam-se à vontade!"
Enchi o peito do ar da serra, espraiei os olhos pelas minhas árvores e vim para a Vila. Almocei com a minha velhota e nova bátega forte, mas esta apanhou-me debaixo de tecto.
Regressei e fui dar aulas. Faltavam 15 minutos para o toque de saída e começou a ficar muito escuro. Depois um vento violento atirou gotas grossas contra as vidraças. Nenhum aluno trouxera proteção para a chuva e quase todos iam para casa a pé. Parecia que nunca tinham visto chover!
E eu a tentar acabar a matéria: "Estejam descansados. À hora de saída já passou. Hoje esteve assim todo o dia, as chuvadas não demoram mais de 10 minutos!"
"Se estiver a chover à saída e nos molharmos, a culpa é do stôr!"
Deixou de chover antes da saída e eu próprio vim a pé para casa.
Gravanada é uma chuvada curta e intensa. Se ainda houvesse gente como antigamente, diríamos gravaneda ou até graveneda. Mas agora andamos todos muito finos...
Fui a São Vicente. Sobre Almaceda e a Partida caía uma chuva forte, mas na Vila ainda brilhava o sol. A caminho do Ribeiro de Dom Bento, parei o carro para limpar a terra de uma valeta, pois a água abre sulcos no caminho. Mas caiu uma gravanada e tive de fugir para o carro. Depois estiou. Na descida do Carvalhal Redondo, nova paragem por causa de uma valeta cheia de caruma. Continuei caminho e outra gravanada obrigou-me a esperar, à chegada.
Parou de chover e fui colher alguns diospiros atrasados e depois apanhei as poucas castanhas que os esquilos deixaram para mim.
"Obrigado, esquilos. Para o ano, nem vale a pena tapar os ouriços com a rede. De uma forma ou de outra, são vossas. Sirvam-se à vontade!"
Enchi o peito do ar da serra, espraiei os olhos pelas minhas árvores e vim para a Vila. Almocei com a minha velhota e nova bátega forte, mas esta apanhou-me debaixo de tecto.
Regressei e fui dar aulas. Faltavam 15 minutos para o toque de saída e começou a ficar muito escuro. Depois um vento violento atirou gotas grossas contra as vidraças. Nenhum aluno trouxera proteção para a chuva e quase todos iam para casa a pé. Parecia que nunca tinham visto chover!
E eu a tentar acabar a matéria: "Estejam descansados. À hora de saída já passou. Hoje esteve assim todo o dia, as chuvadas não demoram mais de 10 minutos!"
"Se estiver a chover à saída e nos molharmos, a culpa é do stôr!"
Deixou de chover antes da saída e eu próprio vim a pé para casa.
Gravanada é uma chuvada curta e intensa. Se ainda houvesse gente como antigamente, diríamos gravaneda ou até graveneda. Mas agora andamos todos muito finos...
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
P.e Jerónimo
Voltei ao Seminário do Tortosendo, como participante no encontro anual dos antigos alunos, sempre no último sábado de Outubro. Foi uma festa muito bonita!
Vicentinos presentes: P.e José Hipólito Jerónimo, José Miguel Teodoro, Artur dos Santos (Teodoro), Francisco Barroso, Joaquim Trindade dos Santos, José Teodoro Prata, Irmão José Amaro e Francisco Magueijo (ambos do Violeiro). Para o ano, vamos levar mais amigos ex-alunos!
Trouxe comigo o último livro do P.e José Hipólito Jerónimo, desta vez sobre o fundador dos Missionários do Verbo Divino.
As imagens da capa e da contra-capa falam por si.
Vicentinos presentes: P.e José Hipólito Jerónimo, José Miguel Teodoro, Artur dos Santos (Teodoro), Francisco Barroso, Joaquim Trindade dos Santos, José Teodoro Prata, Irmão José Amaro e Francisco Magueijo (ambos do Violeiro). Para o ano, vamos levar mais amigos ex-alunos!
Trouxe comigo o último livro do P.e José Hipólito Jerónimo, desta vez sobre o fundador dos Missionários do Verbo Divino.
As imagens da capa e da contra-capa falam por si.
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P. José Hipólito Jerónimo,
svd
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Dia de todos os santos/halloween
Vêm aí o dia de todos os santos ou halloween, como se diz em inglês.
As nossas tradições desta época foram-nos trazidas pelos celtas, grupo de povos que habitaram a Europa, há cerca de 3000/2500 anos. Os Lusitanos eram seus descendentes. As tradições que nos deixaram foram as mesmas que deixaram na Inglaterra e Irlanda, as quais depois atravessaram o Atlântico e retornam agora pela televisão, na forma do halloween, que deixa as nossas crianças cheias de pena por não terem tradições iguais.
Em vez de me perder em explicações, vou contar uma história verdadeira.
Estávamos no Outono de 1974 e, na ala nova do Seminário do Tortosendo, logo à entrada, ficava o dormitório de quatro vicentinos: o Chico Barroso, o Zé Augusto, o Zé Teodoro e o Quim Trindade. Este dormia no segundo dormitório e os outros três logo à entrada.
Tínhamos um grande amigo da cidade que nos moía o juízo com marcas e modelos de carros, entre outras coisas do mundo urbano, a nós repletos de terra e de sol, como escreveu o Eugénio de Andrade, e mais das águas que corriam nas fontes e regadias da serra.
Aproximava-se o dia de todos os santos e resolvemos ensinar-lhe como era na nossa terra. O Quim foi à quinta e escolheu uma abóbora bem grande. Mas não era coisa que se levasse debaixo do braço, pela porta de entrada. Arranjámos um cordel com o comprimento da altura da estrada à janela e, comigo a puxar a abóbora atada pelo Quim, lá em baixo, ela foi trazida para os quartos, não sem uma descida vertiginosa a meio da subida, pela passagem do carro do nosso reitor.
A abóbora ficou aos cuidados do Quim, que lhe cortou uma tampa, tirou o miolo e abriu uma boca dentada. Lá dentro, a meio, uma vela ficou a aguardar pelo escuro da noite.
Deitámo-nos e no primeiro dormitório ficámos a conversar tranquilamente, já com as luzes apagadas. Pouco a pouco, a conversa foi indo para as histórias de bruxas e almas penadas, pela boca do Chico Barroso. Eu e o Zé Augusto compúnhamos o ramo, ajuda fraca e até dispensável face à mestria do Chico nas artes do falar, apenas útil para reforçar a credibilidade do que ele contava. Só me lembrei da história do lobo branco, que aparecera, nas Tapadas, a um filho do tio Miguel Rodrigues e a tia Ana Prata. Ficou com os cabelos em pé, de tão arrepiado! E quando contei ao Chico que, à noite, da Tapada, víamos umas luzes na serra onde ele morava, em vez de explicar que era ele e o pai à cata do texugo que lhes comia o milho, falou de espíritos do outro mundo.
O ambiente foi-se carregando e no dormitório ao lado já o Quim trepara com dois amigos para a arrecadação das malas. Por entre as nossas histórias, começaram a ouvir-se uns barulhos e gemidos vindos do alto da arrecadação, fechada com uma porta. E a narrativa fantasmagórica passou da Gardunha para o nosso dormitório, com epicentro na arrecadação onde ninguém ia.
Os gemidos tornaram-se gritos e correrias, com malas atiradas pelo ar. Ambiente aterrador. Depois o silêncio, temperado com as nossas interpretações do que poderia ser: espíritos, almas do outro mundo, com certeza.
A tensão já estava no limite e os gritos e ruídos ainda redobraram de intensidade. No quarto, pairava um sentimento de terror total! De repente, no escuro da porta aberta da arrecadação, apareceu uma caveira iluminada a falar com uma voz cava, acompanhada de ruídos estranhos. O nosso amigo teve um ataque de pânico, começou a gritar e nós saltámos das camas, aflitos, a acender as luzes e a acalmá-lo, pois suava frio e tremia como varas verdes. Um de nós foi ao outro quarto dizer aos colegas que a brincadeira acabara e todos corremos a remediar o mal que tínhamos feito.
Passados estes anos, surpreende-me que as tradições ancestrais desta quadra estivessem tão vivas nas nossas cabeças, como que inscritas nos nossos genes.
Mandem as vossas crianças pedir o santorinho, mas que não digam doçuras e travessuras. Quanto às almas do outro mundo, não vale a pena assustar a criançada. Os nossos santos que descansem em paz.
As nossas tradições desta época foram-nos trazidas pelos celtas, grupo de povos que habitaram a Europa, há cerca de 3000/2500 anos. Os Lusitanos eram seus descendentes. As tradições que nos deixaram foram as mesmas que deixaram na Inglaterra e Irlanda, as quais depois atravessaram o Atlântico e retornam agora pela televisão, na forma do halloween, que deixa as nossas crianças cheias de pena por não terem tradições iguais.
Em vez de me perder em explicações, vou contar uma história verdadeira.
Estávamos no Outono de 1974 e, na ala nova do Seminário do Tortosendo, logo à entrada, ficava o dormitório de quatro vicentinos: o Chico Barroso, o Zé Augusto, o Zé Teodoro e o Quim Trindade. Este dormia no segundo dormitório e os outros três logo à entrada.
Tínhamos um grande amigo da cidade que nos moía o juízo com marcas e modelos de carros, entre outras coisas do mundo urbano, a nós repletos de terra e de sol, como escreveu o Eugénio de Andrade, e mais das águas que corriam nas fontes e regadias da serra.
Aproximava-se o dia de todos os santos e resolvemos ensinar-lhe como era na nossa terra. O Quim foi à quinta e escolheu uma abóbora bem grande. Mas não era coisa que se levasse debaixo do braço, pela porta de entrada. Arranjámos um cordel com o comprimento da altura da estrada à janela e, comigo a puxar a abóbora atada pelo Quim, lá em baixo, ela foi trazida para os quartos, não sem uma descida vertiginosa a meio da subida, pela passagem do carro do nosso reitor.
A abóbora ficou aos cuidados do Quim, que lhe cortou uma tampa, tirou o miolo e abriu uma boca dentada. Lá dentro, a meio, uma vela ficou a aguardar pelo escuro da noite.
Deitámo-nos e no primeiro dormitório ficámos a conversar tranquilamente, já com as luzes apagadas. Pouco a pouco, a conversa foi indo para as histórias de bruxas e almas penadas, pela boca do Chico Barroso. Eu e o Zé Augusto compúnhamos o ramo, ajuda fraca e até dispensável face à mestria do Chico nas artes do falar, apenas útil para reforçar a credibilidade do que ele contava. Só me lembrei da história do lobo branco, que aparecera, nas Tapadas, a um filho do tio Miguel Rodrigues e a tia Ana Prata. Ficou com os cabelos em pé, de tão arrepiado! E quando contei ao Chico que, à noite, da Tapada, víamos umas luzes na serra onde ele morava, em vez de explicar que era ele e o pai à cata do texugo que lhes comia o milho, falou de espíritos do outro mundo.
O ambiente foi-se carregando e no dormitório ao lado já o Quim trepara com dois amigos para a arrecadação das malas. Por entre as nossas histórias, começaram a ouvir-se uns barulhos e gemidos vindos do alto da arrecadação, fechada com uma porta. E a narrativa fantasmagórica passou da Gardunha para o nosso dormitório, com epicentro na arrecadação onde ninguém ia.
Os gemidos tornaram-se gritos e correrias, com malas atiradas pelo ar. Ambiente aterrador. Depois o silêncio, temperado com as nossas interpretações do que poderia ser: espíritos, almas do outro mundo, com certeza.
A tensão já estava no limite e os gritos e ruídos ainda redobraram de intensidade. No quarto, pairava um sentimento de terror total! De repente, no escuro da porta aberta da arrecadação, apareceu uma caveira iluminada a falar com uma voz cava, acompanhada de ruídos estranhos. O nosso amigo teve um ataque de pânico, começou a gritar e nós saltámos das camas, aflitos, a acender as luzes e a acalmá-lo, pois suava frio e tremia como varas verdes. Um de nós foi ao outro quarto dizer aos colegas que a brincadeira acabara e todos corremos a remediar o mal que tínhamos feito.
Passados estes anos, surpreende-me que as tradições ancestrais desta quadra estivessem tão vivas nas nossas cabeças, como que inscritas nos nossos genes.
Mandem as vossas crianças pedir o santorinho, mas que não digam doçuras e travessuras. Quanto às almas do outro mundo, não vale a pena assustar a criançada. Os nossos santos que descansem em paz.
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sexta-feira, 21 de outubro de 2011
A Fonte Velha
Por Francisco Barroso
Já me apercebi que os Vicentinos que vivem fora e que gostam da sua terra têm hoje mais uma forma de matar saudades. Visitar o Dos Enxidros. Já o sabia quanto ao pessoal de Lisboa, onde o autor tem imensa família e amigos, mas confirmei, este Verão, o mesmo hábito no pessoal que vive em França.
É realmente bom visitar este blog. Saber as novidades e conhecer mais da sua história através dos textos que o Zé Teodoro nos oferece depois de horas imensas de investigação, em livros antigos que nós nem sequer conseguiríamos decifrar. Obrigado, Zé. Mas, o coração aquece mesmo é quando lá chegamos, depois de mais uma longa ausência fora.
Eu ainda sou do tempo em o pessoal de Lisboa ia à Senhora da Orada de camioneta e chegavam a cantar: Ó meu S. Vivente amado, tu és banhado pela ribeira, tu és a terra mais linda, p’ra mim tu és a primeira. Esta é a prova de que o aquecimento do coração é intemporal. Voltar à terra que nos gerou é sempre algo de reconfortante, de extraordinário.
Posto isto, no qual certamente todos estamos de acordo, há alguns factores que começam a mostrar-se preocupantes. O primeiro é a acelerada perda de população. Todos os anos há uns quantos que partem e nunca mais regressam do sítio para onde vão. As ruas cada ano mais desertas e cada vez mais casas fechadas. Os que estão fora e sonham regressar aquando da reforma vêm essa hipótese cada vez mais longínqua, com o provável aumento dos anos de trabalho para a obter. Chega a ser desolador quando vou à azeitona e às oito da noite não se vê vivalma nas ruas e os cafés desertos, sem ninguém para dois dedos de conversa.
O outro factor já é antigo. É o estado deprimido dum dos locais nobres e mais bonitos da Vila: a Fonte Velha. Uma terra como a nossa, com uma das praças medievais mais bonitas que conheço, bem arranjada e conservada e depois aquela fonte, meu Deus, que quase mete medo. Um local que é uma das suas principais portas de entrada, onde tantos vizinhos do Sobral, Ninho, Tinalhas e de C. Branco vêm no Verão buscar água e que era para estar num brinco, mas não sei porquê, nunca ninguém se preocupou com ela.
Porventura esquecemo-nos que a Fonte Velha é um lugar mágico, que não nos mata só a sede. Foi ali que os nossos pais sonharam o amor. Foi ali que se começaram tantos namoros. Era ali que se esperava pelas raparigas à tardinha, quando iam com o cântaro buscar água fresca para o jantar. Ali se trocaram (e trocam) tantos beijos, tantos afectos…é por isso que é mágico, porque é o ponto de tantos encontros.
Fiquei deveras feliz quando soube que a Banda vai fazer ali a sua sede e recuperar as casas a seu lado. Com a do Zé Passaraço que está um brinco, um dos lados fica arrumado.
Quanto ao outro, o barracão do Quintalinho já devia ter sido demolido há vários anos, porque não faz qualquer sentido manter-se, depois da Casa do Povo construída. A casa paroquial, que é da comunidade e não do Pároco, é outra vergonha nossa, porque nunca a conseguimos acabar. Nunca se pintou e ficou com uma varanda de costaneiros que acabou por cair de podre ainda há pouco tempo. E foi por falta de dinheiro? Não foi. Foi por falta de brio, de vaidade daquilo que é nosso.
Já agora acabo o projecto. O logradouro da casa paroquial, que mais parece um estaleiro deve ser arranjado. Um pequeno jardim fica muito caro? A Junta podia cuidar dele, porque é ela quem em primeiro lugar deve zelar pelos interesses colectivos. As flores e algumas árvores podiam ser oferecidas. A água para o regar não falta. Os contentores do lixo deviam estar num sítio menos visível e menos bonito.
Parece que o que falta mesmo é gosto e generosidade. Mas generosidade como? Se a Vila está cheia de gente generosa? Vejam a quantidade enorme de pessoas dedicadas à causa pública. Não sabem quem são? Eu digo. Todos os músicos da Filarmónica e a sua Direcção. O seu presidente, por exemplo, poderia estar a gozar a sua magnífica reforma a namorar a sua Daniela. Quanto do seu tempo dá à causa? Digo o mesmo das pessoas envolvidas no Rancho, novas e velhas. Querem um exemplo de grande dedicação à comunidade? O meu amigo Zé Taleta. Tem o seu emprego, trabalha a sua horta, faz os seus treinos com a regularidade de um relógio, levando o nome de S. Vicente a todas as corridas em que entra, andou anos e anos na Banda, e agora no Rancho. O João Paulino quanto do seu tempo deu e dá ao GEGA e o Zé Teodoro quanto do seu tempo nos dá para manter o seu (nosso) blog?
O meu muito obrigado a todos vós que ajudais a manter a Vila em pé. Sobre a recuperação da fonte é bom que pensemos nisso, ou como diria o outro: “era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”. Não acham?
Lisboa, 15 de Outubro de 2011.
Já me apercebi que os Vicentinos que vivem fora e que gostam da sua terra têm hoje mais uma forma de matar saudades. Visitar o Dos Enxidros. Já o sabia quanto ao pessoal de Lisboa, onde o autor tem imensa família e amigos, mas confirmei, este Verão, o mesmo hábito no pessoal que vive em França.
É realmente bom visitar este blog. Saber as novidades e conhecer mais da sua história através dos textos que o Zé Teodoro nos oferece depois de horas imensas de investigação, em livros antigos que nós nem sequer conseguiríamos decifrar. Obrigado, Zé. Mas, o coração aquece mesmo é quando lá chegamos, depois de mais uma longa ausência fora.
Eu ainda sou do tempo em o pessoal de Lisboa ia à Senhora da Orada de camioneta e chegavam a cantar: Ó meu S. Vivente amado, tu és banhado pela ribeira, tu és a terra mais linda, p’ra mim tu és a primeira. Esta é a prova de que o aquecimento do coração é intemporal. Voltar à terra que nos gerou é sempre algo de reconfortante, de extraordinário.
Posto isto, no qual certamente todos estamos de acordo, há alguns factores que começam a mostrar-se preocupantes. O primeiro é a acelerada perda de população. Todos os anos há uns quantos que partem e nunca mais regressam do sítio para onde vão. As ruas cada ano mais desertas e cada vez mais casas fechadas. Os que estão fora e sonham regressar aquando da reforma vêm essa hipótese cada vez mais longínqua, com o provável aumento dos anos de trabalho para a obter. Chega a ser desolador quando vou à azeitona e às oito da noite não se vê vivalma nas ruas e os cafés desertos, sem ninguém para dois dedos de conversa.
O outro factor já é antigo. É o estado deprimido dum dos locais nobres e mais bonitos da Vila: a Fonte Velha. Uma terra como a nossa, com uma das praças medievais mais bonitas que conheço, bem arranjada e conservada e depois aquela fonte, meu Deus, que quase mete medo. Um local que é uma das suas principais portas de entrada, onde tantos vizinhos do Sobral, Ninho, Tinalhas e de C. Branco vêm no Verão buscar água e que era para estar num brinco, mas não sei porquê, nunca ninguém se preocupou com ela.
Porventura esquecemo-nos que a Fonte Velha é um lugar mágico, que não nos mata só a sede. Foi ali que os nossos pais sonharam o amor. Foi ali que se começaram tantos namoros. Era ali que se esperava pelas raparigas à tardinha, quando iam com o cântaro buscar água fresca para o jantar. Ali se trocaram (e trocam) tantos beijos, tantos afectos…é por isso que é mágico, porque é o ponto de tantos encontros.
Fiquei deveras feliz quando soube que a Banda vai fazer ali a sua sede e recuperar as casas a seu lado. Com a do Zé Passaraço que está um brinco, um dos lados fica arrumado.
Quanto ao outro, o barracão do Quintalinho já devia ter sido demolido há vários anos, porque não faz qualquer sentido manter-se, depois da Casa do Povo construída. A casa paroquial, que é da comunidade e não do Pároco, é outra vergonha nossa, porque nunca a conseguimos acabar. Nunca se pintou e ficou com uma varanda de costaneiros que acabou por cair de podre ainda há pouco tempo. E foi por falta de dinheiro? Não foi. Foi por falta de brio, de vaidade daquilo que é nosso.
Já agora acabo o projecto. O logradouro da casa paroquial, que mais parece um estaleiro deve ser arranjado. Um pequeno jardim fica muito caro? A Junta podia cuidar dele, porque é ela quem em primeiro lugar deve zelar pelos interesses colectivos. As flores e algumas árvores podiam ser oferecidas. A água para o regar não falta. Os contentores do lixo deviam estar num sítio menos visível e menos bonito.
Parece que o que falta mesmo é gosto e generosidade. Mas generosidade como? Se a Vila está cheia de gente generosa? Vejam a quantidade enorme de pessoas dedicadas à causa pública. Não sabem quem são? Eu digo. Todos os músicos da Filarmónica e a sua Direcção. O seu presidente, por exemplo, poderia estar a gozar a sua magnífica reforma a namorar a sua Daniela. Quanto do seu tempo dá à causa? Digo o mesmo das pessoas envolvidas no Rancho, novas e velhas. Querem um exemplo de grande dedicação à comunidade? O meu amigo Zé Taleta. Tem o seu emprego, trabalha a sua horta, faz os seus treinos com a regularidade de um relógio, levando o nome de S. Vicente a todas as corridas em que entra, andou anos e anos na Banda, e agora no Rancho. O João Paulino quanto do seu tempo deu e dá ao GEGA e o Zé Teodoro quanto do seu tempo nos dá para manter o seu (nosso) blog?
O meu muito obrigado a todos vós que ajudais a manter a Vila em pé. Sobre a recuperação da fonte é bom que pensemos nisso, ou como diria o outro: “era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto”. Não acham?
Lisboa, 15 de Outubro de 2011.
sábado, 15 de outubro de 2011
A capela-mor da Igreja Matriz
No «Anno de Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil oito centos e trinta e seis, em os sete dias do mez de Agosto…», reuniu a Junta da Paróquia, na sacristia da Igreja Matriz, como habitualmente.
O Presidente Francisco Lobo informou que já estavam tomadas as contas da Fábrica Maior, ao fabricário Joze Henriques, e que existia um alcance líquido de cinquenta e dois mil, duzentos e vinte e seis réis. Propôs então que desta quantia se despendesse o necessário para a feitura da parede da capela-mor da Igreja Matriz, em atenção à precisão que havia de se reparar aquela parede sem demora. A proposta foi aprovada.
Na reunião seguinte, 14 de Agosto, o Presidente anunciou que já ajustara a obra da parede da Capela-Mor com os pedreiros João Faustino e José António, por não haver outros mestres que a pudessem fazer com a brevidade necessária.
Os pedreiros pediam vinte e quatro mil réis, pela feitura da parede e pela grade de ferro para a fresta que havia de levar, livres de carretos de pedra e barro e madeira para os andaimes e dando-se-lhes alguma gente para a abertura do alicerce.
Os membros da Junta aprovaram o ajuste indicado e pediram ao Presidente que se encarregasse de dirigir a obra.
Tudo registado em acta, pelo secretário da Junta da Paróquia Caetano José dos Santos.
A actual capela-mor e a zona envolvente, incluindo a sacristia, datam dos anos oitenta do século passado, mas, na altura, o espaço apenas foi recuperado e reorganizado. Em termos de área útil, esta parte da Igreja resulta das obras de ampliação que ali se realizaram, em 1918, como informa a inscrição na porta da sacristia.
O Tó Sabino falou-me, há dois anos, de uma foto da Igreja antes desta ampliação, mas não a conheço. Por isso vou tentar descrever esta parte da Igreja, com base noutras fontes.
A capela-mor é a parte da Igreja onde se situam o altar e o sacrário e em que decorrem os ritos litúrgicos (missa…). Como bem sabem os rapazes e raparigas da minha idade, nos anos 60, as cerimónias religiosas decorriam no altar do fundo da capela-mor, quase sempre de costas para os fiéis, todos de frente para o sacrário. Só depois se acrescentou o altar onde actualmente decorrem os actos religiosos.
Seria naquele altar do fundo, cercado de adornos em talha dourada, do tamanho de toda a parede, que se celebravam os ritos religiosos. Mas, se repararem no tecto da capela-mor, existem duas filas de caixotões pintados e três filas de caixotões em madeira limpa. Até 1918, a capela-mor tinha apenas o tamanho dessas duas filas de caixotões decorados e por isso o altar-mor estaria imediatamente atrás do actual altar onde se celebram os actos.
A sacristia seria muito diminuta e localizar-se-ia na capela lateral do lado da Praça, onde hoje está o novo sacrário. Na parede exterior, por detrás do altar-mor, havia uma fresta com grade de ferro, como informam os documentos acima apresentados.
O Presidente Francisco Lobo informou que já estavam tomadas as contas da Fábrica Maior, ao fabricário Joze Henriques, e que existia um alcance líquido de cinquenta e dois mil, duzentos e vinte e seis réis. Propôs então que desta quantia se despendesse o necessário para a feitura da parede da capela-mor da Igreja Matriz, em atenção à precisão que havia de se reparar aquela parede sem demora. A proposta foi aprovada.
Na reunião seguinte, 14 de Agosto, o Presidente anunciou que já ajustara a obra da parede da Capela-Mor com os pedreiros João Faustino e José António, por não haver outros mestres que a pudessem fazer com a brevidade necessária.
Os pedreiros pediam vinte e quatro mil réis, pela feitura da parede e pela grade de ferro para a fresta que havia de levar, livres de carretos de pedra e barro e madeira para os andaimes e dando-se-lhes alguma gente para a abertura do alicerce.
Os membros da Junta aprovaram o ajuste indicado e pediram ao Presidente que se encarregasse de dirigir a obra.
Tudo registado em acta, pelo secretário da Junta da Paróquia Caetano José dos Santos.
A actual capela-mor e a zona envolvente, incluindo a sacristia, datam dos anos oitenta do século passado, mas, na altura, o espaço apenas foi recuperado e reorganizado. Em termos de área útil, esta parte da Igreja resulta das obras de ampliação que ali se realizaram, em 1918, como informa a inscrição na porta da sacristia.
O Tó Sabino falou-me, há dois anos, de uma foto da Igreja antes desta ampliação, mas não a conheço. Por isso vou tentar descrever esta parte da Igreja, com base noutras fontes.
A capela-mor é a parte da Igreja onde se situam o altar e o sacrário e em que decorrem os ritos litúrgicos (missa…). Como bem sabem os rapazes e raparigas da minha idade, nos anos 60, as cerimónias religiosas decorriam no altar do fundo da capela-mor, quase sempre de costas para os fiéis, todos de frente para o sacrário. Só depois se acrescentou o altar onde actualmente decorrem os actos religiosos.
Seria naquele altar do fundo, cercado de adornos em talha dourada, do tamanho de toda a parede, que se celebravam os ritos religiosos. Mas, se repararem no tecto da capela-mor, existem duas filas de caixotões pintados e três filas de caixotões em madeira limpa. Até 1918, a capela-mor tinha apenas o tamanho dessas duas filas de caixotões decorados e por isso o altar-mor estaria imediatamente atrás do actual altar onde se celebram os actos.
A sacristia seria muito diminuta e localizar-se-ia na capela lateral do lado da Praça, onde hoje está o novo sacrário. Na parede exterior, por detrás do altar-mor, havia uma fresta com grade de ferro, como informam os documentos acima apresentados.
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